A Invasão Corinthiana
O futebol do Brasil tem alguns absurdos, muitos deles inacreditáveis. A invasão corinthiana, tema deste artigo, é um deles. Outrora um grande feito, actualmente o deslocamento em massa de adeptos para acompanhar uma partida não é tanta surpresa. Um parênteses: a expressão do português-brasileiro “torcida” tem origem no início do século XX, na torcida dos dedos das luvas das ansiosas senhoras que acompanhavam os jogos. Assim, “ficar na torcida” era a atividade dos adeptos que, ocupavam nas bancadas a “área da torcida”.
Os corinthianos são conhecidos como sendo “A Fiel Torcida”. É por isso que a principal claque do clube chama-se “Gaviões da Fiel” (torcida). Fiéis porque por mais de vinte anos o clube paulista não conquistou quaisquer títulos e, para terem ideia, ficou por mais de uma década sem vencer o Santos Futebol Clube.
Dizem especialistas renomados que é em tempos de sofrimento que se percebe quem ou não é fiel.
Em Dezembro de 1976 o Corinthians estava já há 22 anos em jejum de conquistas e alcançava a meia-finai do Brasileirão. Enfrentavam os cariocas do Fluminense Football Club, do Rio de Janeiro, no estádio do Maracanã. O “Flu” era o favorito, mas o Corinthians entusiasmava pela pelo espírito de luta da equipa. A fim de promover o jogo, os presidentes dos dois clubes (Francisco Horta, do Fluminense e Vicente Matheus, do Corinthians) falaram à imprensa, com declarações provocadoras, mas polidas, como esta do dirigente do “Flu”:
“Que os vivos saiam de casa e os mortos saiam das tumbas para torcer pelo Corinthians no Maracanã, porque o Fluminense vai ganhar a partida”.
Nesta atmosfera, na semana do jogo foram disponibilizados para venda aos corinthianos dezenas de milhares de bilhetes, que esgotaram-se rapidamente em São Paulo. Nas autoestradas, aeroportos e estações de comboio, o deslocamento em direcção ao Rio de Janeiro (aproximadamente 450km) ficou nitidamente muito mais intenso. Diante disso, somados aos alvi-negros que já estavam no Rio de Janeiro e os adeptos de outros clubes que lá estavam pelo Corinthians, estima-se que setenta mil (70.000) adeptos corinthianos estiveram naquela tarde de 5 de Dezembro de 1976, episódio que ficou conhecido como “A Invasão Corinthiana” e reforçou a imagem de “fiéis” que têm os adeptos deste clube paulista.
Após empate em 1 golo no tempo regulamentar, o Corinthians avançou à final após vencer a disputa das penalidades máximas. Na decisão, derrota por 2 a 0 para os gaúchos do Sport Club Internacional, de Caçapava, Valdomiro e Falcão e, assim, os corinthianos continuavam no jejum de títulos, que só teve fim no ano seguinte, 1977. Tema para um outro artigo.