Depois, na década de 80, surgiu a geração dourada, com uma equipa recheada de craques e com duas parelhas de incrível nível: Frank Rijkaard/Ronald Koeman no centro da defesa e Ruud Gullit/Marco van Basten na frente de ataque. Eram quatro jogadores com uma incrível influência na manobra da equipa, tanto no processo defensivo como depois na magia oferecida pelos últimos dois na manobra ofensiva, com golos de levantar o estádio. Curioso que o maior golo da carreira de van Basten, e um dos melhores e mais históricos golos ao longo das últimas décadas no futebol, surgiu na final do Europeu de 1988, em que a Holanda saiu vencedora e conquistou o seu único título de sempre. Esta geração dourada conseguiu materializar o seu domínio, algo que não voltou a acontecer nos 30 anos seguintes.
Do quase Céu…
Mais recentemente, a equipa esteve perto de novo êxito, em 2010, com a derrota mais frustrante da história do país: no prolongamento, por 1-0, com golo aos 116 minutos na final do Mundial da África do Sul.
Jogadores como Wesley Sneijder, Robin van Persie e Arjen Robben foram os principais destaques dessa campanha (e da última década da Laranja Mecânica). Por isso, são autênticos ídolos dos adeptos holandeses. Eram eles que, por assim dizer, levavam a seleção às costas.
Contudo, a falta de qualidade nos restantes setores da seleção começou a ser uma realidade e estes craques não estavam a ser bem secundados. Os primeiros sinais de alerta surgiram logo em 2012, quando a equipa caiu na fase de grupos do Europeu apenas com derrotas.
…ao Inferno
O que se passou, então, de 2014 para cá? Uma Holanda irreconhecível, com um grave problema de renovação de uma geração que esteve perto de tocar o céu.
Uma das maiores razões prende-se com o aumento do diferencial da Eredivisie para as principais ligas europeias: a competitividade das principais equipas holandesas não se aproxima daquela praticada nos campeonatos de futebol mais relevantes da Europa. Além disso, ainda não surgiu um treinador que realmente tenha ideias novas e que possa liderar uma nova geração. Em vez disso, a Federação Holandesa tem insistido em recorrer a técnicos sem qualquer tipo de experiência a este nível, como Danny Blind, ou que são de uma velha guarda, como Dick Advocaat.
A verdade é que, tudo somado, a equipa não tem uma identidade reconhecível neste momento. É necessário repensar o que se quer que seja a Laranja Mecânica, de forma a que ela não “deixe de dar sumo” de forma definitiva. A seleção ruiu por completo na qualificação para o Europeu 2016, não se qualificando para a prova, e apesar de na fase de qualificação para o Mundial do próximo ano na Rússia ter lutado até ao fim por um lugar no certame, a verdade é que não vamos contar com a Holanda no próximo Mundial (uma vez que nem sequer conseguiu alcançar o segundo lugar do seu grupo de qualificação, que lhe daria acesso ao playoff).
Fica a pergunta de qual poderá ser a solução a tomar face aos resultados recentes. Mantendo-se esta toada, a Holanda continuará com muitas dificuldades, a não ser que vejamos uma real mudança de mentalidade. Esta seleção não parece agora ter capacidade para derrotar seleções de alto gabarito europeu — como se percebeu nos jogos contra a França nesta fase de qualificação —, e poderá voltar a falhar a próxima grande competição (Europeu de 2020).
Que equipa para o próximo ciclo?
O reflexo do falhanço da seleção reflete-se na retirada de Robben no final do último jogo com a Suécia, ficando assim a Holanda órfã da sua grande estrela. Contudo, mais do que desequilibradores lá na frente, a verdade é que é preciso encontrar soluções a nível defensivo, porque jogadores como Aké, Kenny Tete ou Karim Rekik parecem não reunir condições suficientes para serem titulares de uma Laranja que se quer Mecânica.
Também a nível ofensivo é preciso perceber que jogadores podem encaixar nas alas e que possam fazer a vez de Robben. Mas, neste caso, como já foi mencionado, até parecem haver algumas soluções com futuro. Nomes como Memphis Depay, Quincy Promes ou Jurgen Locadia parecem garantir um futuro risonho nas alas holandesas.
No que respeita aos homens mais avançados, Vincent Janssen tem-se mostrado inconsequente, e Bas Dost não parece ter a capacidade suficiente para ser o ponta de lança titular de uma seleção como a holandesa, pelo menos quando comparado a nomes que já ocuparam a posição como van Persie e Huntelaar.
Já a nível do meio campo, este parece ser o setor no qual a Holanda parece estar melhor apetrechado, com jogadores como Blind, Strootman, Wijnaldum, Klaassen, Propper ou van Ginkel a assegurarem qualidade suficiente para almejar um regresso aos bons resultados a nível de seleções.
Fica aqui o desejo de que a seleção do país das túlipas possa reencontrar-se depois do verão de 2018, pois bem precisa. Esta não é uma Holanda que seja condizente com o seu real nível. É preciso formar uma estrutura sólida de jogadores, que forneçam à seleção uma base sobre a qual se possa construir e, com o tempo, se alcançar resultados.
A Holanda precisa de pensar a longo prazo, integrando jovens jogadores que possam ser a sua espinha dorsal para as batalhas que aí vêm.