A formação como nova estratégia de financiamento para o FC Porto?

Francisco IsaacJulho 7, 20226min0
Vitinha e Fábio Vieira abandonaram o FC Porto, enchendo os cofres do Dragão neste defeso. Boa estratégia ou falta de visão da SAD dos dragões?

O mercado de transferências do Verão de 2022 arrancou oficialmente da pior forma possível para os adeptos do FC Porto, tudo devido às saídas (previsíveis ou imprevisíveis?) de Fábio Vieira e Vitinha, pondo em xeque o plano de construir um plantel em redor desta dupla ou, pelo menos, onde ambos assumissem grande parte do protagonismo, forçando a Sérgio Conceição a procurar alternativas dentro da própria equipa ou em reforços ainda não confirmados. Depois de uma época em que estas duas coqueluches foram nucleares na conquista da dobradinha, a saída não foi tão natural como se pensava, até pela maneira como os negócios foram conduzidos surgindo diversas dúvidas e questões em redor das comissões/pagamentos, o que ajudou a expor as constantes debilidades actuais de uma SAD envelhecida pelos maneirismos de um passado já obsoleto, erguendo fúria por parte dos adeptos.

Contudo, e fugindo, para já, ao tema do processo de venda e da lógica do projecto dos azuis-e-brancos, é importante reflectir se a formação dos actuais campeões nacionais realmente poderá ser um veículo estável de financiamento do clube, isto claro caso a matéria-prima de qualidade não terminou com a ascensão dos campeões da Youth League de 2019, o que pode influenciar o futuro a longo-prazo de um dos principais emblemas europeus do Desporto-Rei. Qual terá sido na realidade o peso das vendas de atletas provindos da formação nos últimos cinco anos – ou que tenham alinhado por alguma das equipas das camadas jovens do FC Porto por pelo menos duas temporadas – para os cofres do emblema da Invicta?

– Vitinha 40M€;
– André Silva 40M€;
– Fábio Silva 40M€;
– Fábio Vieira 35M€;
– Diogo Dalot 25M€;
– Rúben Neves 18M€;
– Galeno 3,5M€;
– Gonçalo Paciência 3,5M€;

O total destas transferências dá cerca de 205M€ (arredondado), um pecúlio minimamente interessante e de impacto, especialmente quando falamos de um clube que passou por sérias dificuldades económicas desde 2016, altura em que a UEFA entreviu e começou a aplicar sanções e exigências de reformulação das contas da SAD, afectando brutalmente as vontades da direcção liderada por Jorge Nuno Pinto da Costa. Retirando os valores das comissões de cada uma das transferências, o FC Porto terá conseguido atingir os 190M€ em vendas só com “ajuda” de oito activos formados dentro do próprio emblema , obtendo altos dividendos da aposta que efectuou quando em 2006 começa a reforçar as camadas jovens com bons estrategas e treinadores, entre os quais, Luís Castro, que acabaram por influenciar positivamente o clube como se vê pelo desenvolvimento de não só vários campeões nacionais de juvenis ou pela Liga dos Campeões dos sub-21, mas igualmente pela capacidade de mais de uma dúzia de atletas terem sido capazes de conquistar o seu lugar ao “sol” no plantel principal.

Porém, e apesar destes feitos, esta aposta na formação realmente terá produzido os benefícios suficientes para corresponder aos encargos e morosidade no processo de desenvolver um jogador? Entre custo/benefício claramente que a riqueza transpõe as despesas, e até pode ser uma solução para o futuro do clube, sendo que o único e principal problema está no não conseguir construir uma equipa compacta baseada em atletas da formação, algo que se está a ver com o plantel de 2022/2023 dos dragões. Ou seja, o sonho idílico de ter uma plantel baseado nos melhores produtos da formação, que não saiam após começaram a mostrar um desempenho consistente ao mais alto nível, é uma miragem actual como o próprio FC Porto está a demonstrar, estando completamente amarrado na hora de negociar os passes do activo X ou Y, por via de ter dívidas a liquidar ou garantir algum tipo de reforço para posições que o treinador sinta mais necessidade.

Durante largos anos a principal discussão passava pela preferência no tipo de atleta a ter no clube com vista a vender passado dois ou três anos: apostar na formação, arriscar no seu desenvolvimento e expor a equipa em certos e determinados momentos da época; ou ir pelo caminho de trazer atletas já algo mais “trabalhados” que garantem uma vantagem inicial, saltando etapas, mas que no fim entre compra e venda a riqueza obtida não seja do mesmo patamar. Observando as cinco vendas mais rentáveis do emblema azul-e-branco nos últimos 10 (excluindo os atletas que passaram pela formação) a liquidez conseguida entre venda/compra terá sido alta? Vejamos, sendo que não está contemplado o valor a receber por objectivos conseguidos, e que o valor colocado em cada um já é o total entre venda/compra:

– Éder Militão 40M€;
– Luís Diaz 37M€
– Eliaquim Mangala 38M€;
– James Rodriguez 36M€;
– Hulk 21M€;

O total destes cinco jogadores está nos 172M€ (não estão inseridas as comissões), o que acaba por ser um valor inferior em comparação aos oito jogadores-formação, lembrando que qualquer um destes nomes conseguiram acrescentar imediatamente valor à equipa principal, ultrapassando o período de adaptação rapidamente. A combinação dos dois mundos coloca o FC Porto como um dos emblemas mais vendedores fora das Big-5 (a par do SL Benfica), e que na realidade prova o sucesso do clube como vendedor, para falhar, no entanto, como potência assumida no futebol europeu, uma consequência da (falta) de estratégia que atingiu o seu pico máximo após saída de André Villas Boas (Vítor Pereira ainda aguentou os processos, mas os anos seguintes foram de cataclisma até à chegada de Sérgio Conceição), estando só agora a recuperar desse momento crítico da vida dos azuis-e-brancos.

Com Romário Baró (ainda irá a tempo de recuperar caminho e voltar a ser uma das jóias da formação, apesar da dispensa neste defeso?), Francisco Conceição, Diogo Costa, João Mário (de todos é o produto menos apaixonante, esperando-se que dê um salto evolutivo nos próximos tempos), Galeno ou Danny Loader ainda no plantel, o interessante agora a perceber é se esta aposta na formação e venda dos activos mais apetecíveis será realmente um caminho aceite pela direção do FC Porto como credível ou se após este geração de ouro passar voltaremos a ter os produtos jovens a voltar para um terceiro nível de importância.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS



A formação como nova estratégia de financiamento para o FC Porto?

Francisco IsaacJulho 7, 20226min0