A desigualdade geográfica de Portugal e Espanha, em termos futebolísticos pt.1
Portugal e Espanha são países em que a população está mal distribuída. Cada vez mais pessoas rumam às grandes cidades, deixando certas zonas mais despovoadas. As áreas metropolitanas de Lisboa, Porto, Madrid, Barcelona ou Sevilla, crescem cada dia que passa, enquanto que certas vilas ou cidades mais pequenas vão ficando sem os seus habitantes, que rumaram a outros pontos, em busca de uma vida melhor ou pelo menos mais tranquila a nível monetário, procurando lugares onde existem mais oportunidades.
Isto faz com que exista um grande desequilíbrio. Em Portugal, o Norte (principalmente a zona do Douro Litoral e Minho) e a zona da capital estão cada vez com mais população, porque existem muitas oportunidades de trabalho e boas condições de vida, enquanto que o Alentejo e zonas do Interior são esquecidas e com a população cada vez mais envelhecida. No nosso país vizinho, acontece o mesmo fenómeno. Há Comunidades Autónomas em claro crescimento, sendo que se situam principalmente a Norte, deixando o Centro (excluindo a Comunidad de Madrid) e Sul (excluindo Sevilha e as cidades da Costa) com cada vez menos habitantes e com um desenvolvimento inferior.
O futebol é um ótimo espelho do que acontece, com muitas partes do território vazias no que diz respeito a competições profissionais, mesmo em cidades representativas e históricas, havendo cada vez mais aglomerados de equipas à volta de certos lugares.
Portugal
Pelos caminhos da #LigaPortugalbwin e #LigaPortugalSABSEG ?
Em que região dos mapas está o teu clube? ?#LigaPortugal #criatalento #createstalent #futebolcomtalento #marcaomundo pic.twitter.com/ahaWkAcsVZ
— Liga Portugal (@ligaportugal) May 30, 2022
O mapa da Liga Portugal é altamente desequilibrado. Entre o Baixo Minho e o Douro Litoral existem nove formações, metade das instituições que preenchem os lugares da competição. Na área da capital, são quatro os elementos presentes. Restam cinco vagas para tudo o que falta do país. Duas equipas vêm das ilhas, uma da Madeira, outra de Ponta Delgada. Um clube está localizado em Trás os Montes e outro da Beira Litoral.
Por fim, aparece um clube do Algarve, o único representante da zona Sul. Apenas seis distritos de Portugal Continental estão representados na Primeira Liga. Ou seja, somente um terço do total dos existentes na área territorial. Nota para que quatro destes distritos estarem territorialmente seguidos, ou seja, somente uma pequena área do nosso país tem 11 clubes. Apenas o GD Chaves não tem uma grande proximidade com a Costa. O FC Arouca embora não estando numa zona costeira, faz parte de um distrito que a tem.
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Em relação à Segunda Liga, o mapa está mais equilibrado, no entanto continuam a existir muitos espaços vazios. Há clubes em sete distritos e mais um no arquipélago da Madeira. A maioria das equipas volta a estar presente na zona Norte, no entanto aparecem a Beira Alta e a Beira Baixa, que não estão presentes na Primeira Liga.
Os distritos de Coimbra, Leiria, Viana do Castelo, Portalegre, Bragança, Évora, Setúbal e Beja, não têm qualquer representante nos campeonatos profissionais de futebol, mesmo que já tenham tido clubes históricos presentes nos principais escalões. Em certos casos, somente possuem instituições no Campeonato de Portugal, já que o mesmo alberga muitos clubes e é primeira divisão acima do futebol distrital, o que “obriga” à existência de instituições de todas as regiões do país.
O futebol é o espelho perfeito do que acontece no nosso país. As grandes cidades têm muito mais capacidades de pode albergar uma maior quantidade de clubes e que os mesmos possam crescer, já que haverá mais capacidade de patrocínios e mais adeptos. A possibilidade de presença de investidores aumenta drasticamente, o que não acontece noutros distritos. A presença de população, industria e comércio é cada vez mais reduzida no Interior, não havendo um suporte para a existência de clubes importantes, sendo que muitas vezes preferem nem estar presentes nas competições nacionais, devido aos custos de licenciamento. O caso mais escandaloso é o do distrito de Portalegre, que assiste constantemente à não promoção do vencedor da sua respetiva distrital, porque sabe que não terá verbas para completar a temporada no Campeonato de Portugal.
No entanto, isto é um fenómeno que ocorre há alguns anos, acompanhando o que se vive em outros setores.
A Académica durante alguns anos ainda atenuou a situação da zona Centro, mas com a quebra brutal do clube, aquele espaço ficou “nu”. O Vitória FC era o protagonista do Sul, mas a incapacidade financeira levou a que o clube esteja a fazer companhia à Académica, na Liga 3, ambos os clubes com as possibilidades de subir praticamente nulas.
A estratificação do futebol português está longe de ser das piores. A partir da Liga 3, existe a divisão entre grupos Norte e Sul, no entanto existe o cruzamento na fase de subida, além de um play-off com o décimo sexto classificado. As equipas do Norte e próximas de Lisboa geralmente têm mais capacidades, levando a que tenham uma maior possibilidade de subir. SCU Torreense e UD Oliveirense ascenderam esta temporada, enquanto que o FC Alverca perdeu no Play-off com o Sporting da Covilhã. Nenhum dos três clubes que conseguiram (ou lutaram) a subida é de zonas do Interior do país ou longe de grandes cidades. O Campeonato de Portugal está relativamente bem dividido, no entanto existe de novo grupos de subida. Ainda assim o mesmo está separado entre Norte e Sul, o que permite a algumas equipas de zonas fora da “órbita” consigam a promoção, ou pelo lutar pela mesma.
As distritais mostram como o futebol está desequilibrado, com certos distritos com muitas divisões e outros com muito poucas equipas.
Vemos distritais com 3 divisões, como por exemplo a de Lisboa e Braga e outras com menos de dez formações, o que reduz de imediato a competitividade e a redução da competição. Em certos casos, como já referimos, há clubes que preferem não subir do que acarretar os gastos de jogar no Campeonato de Portugal. O caso Villa Athletic Club colocou esta temática nos radares, além de mostrar as debilidades que são vividas nas divisões mais baixas do nosso futebol.