Paulo Meneses e a saída do Nejmeh: lições para o futuro pt.2

Fair PlayAbril 9, 20246min0

Paulo Meneses e a saída do Nejmeh: lições para o futuro pt.2

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Paulo Meneses fecha o capítulo da saída do Nejmeh com mais umas lições que podem ajudar futuros a treinadores a estarem preparados

Nesta segunda parte, Paulo Meneses continua a explicar os seus motivos da sua saída do campeão da Taça do Líbano de 2023 e como estas informações podem ajudar futuros treinadores.

QUANDO O DINHEIRO NÃO É O MAIS IMPORTANTE PARA ATINGIR GRANDES OBJECTIVOS

Recentemente, estive num clube que tem o 3º – 4º orçamento da 1ª Liga, e em termos de estrutura cresceu bastante desde que entramos no clube. Embora, a meu entender, ainda insuficiente para os objectivos do clube. Tem também um plantel muito jovem, um projecto a medio – longo prazo (para ganhar títulos no futuro), no entanto conseguimos vários títulos e várias conquistas, contra a expectativas de muita gente.

Quando nos deparamos com problemas no seio dos clubes, temos 2 opções. Ou reclamamos e andamos constantemente descontentes e frustrados à espera que as situações mudem, ou, focamo-nos nas soluções, porque por norma as direções dos clubes não vão mudar essas realidades, ou vão tardar em dar-te aquilo que estás a pedir para poderes desenvolver o trabalho da melhor forma.

Eu geralmente, foco-me na segunda opção. Mas, não deixo nem esqueço de perguntar e de continuar a pedir o que eu acho que é necessário para o clube, para melhorar o dia a dia da equipa.

Porque no alto rendimento não há tempo para lamentar-se e num clube grande, ainda menos. Porque as várias conquistas que tivemos, foram porque cuidamos e controlamos muitos pormenores, durante um largo período de tempo.

QUANDO OS PRINCÍPIOS E OS VALORES SÃO O MAIS IMPORTANTE

 Respeito, consideração, humildade, moral, transparência, honestidade, autenticidade, ser genuíno, etc. Estes e outros Princípios e Valores pelas quais eu me guio desde que comecei como jogador de futebol (1996) e como treinador de futebol (desde 2010).

Estes (e outros) Princípios e Valores têm guiado a minha vida desportiva desde 1996. E não abdico deles por nada. E quem me rodeia, sabe que são inegociáveis. Ou seja, também eles têm que os colocar em prática, se quiserem pertencer ao projecto.

É como se fossem sagrados, têm que estar sempre presentes em tudo que faço.

Ser transparente e genuíno, às vezes no Futebol é difícil, ou torna a nossa vida difícil. No entanto, custa-me estar de outra forma na vida, no futebol. E será fácil adivinhar que, também exijo a todos os intervenientes, desde membros da direção, staff técnico, equipa técnica, e aos jogadores a terem comportamentos de excelência, que deem exemplos positivos à sociedade em geral, principalmente aos mais jovens.

Decidi falar destes temas, porque desde o inicio do projecto fui genuíno, transparente e honesto com todas as pessoas do clube. Entrei no clube e saí do clube da mesma maneira. E é esse o legado que, para mim, é o mais importante e que quero deixar: porta aberta em todos os clubes que passei e ser um exemplo para toda a gente.

Como jogador joguei em 9 clubes, em todos eles tenho a porta aberta. Como treinador, trabalhei em 6 países, em 10 clubes diferentes. Em todos deixei a porta aberta e amizades para a vida, continuo a falar com gente do Panamá, de Laos, da India, de Espanha, etc.

CONTRATAR BEM COM POUCO DINHEIRO: GARANTIA DE VENCER

TÍTULOS

É normal que, quando temos mais sucesso do que aquilo que era esperado, estamos com a moral em cima. A vida de treinadores é assim mesmo.

De recordar que me foi pedido o 3º lugar (chegamos ao clube para jogar o Play Off de campeão e estavam em 4º lugar). E nunca ninguém me referiu para ganhar a Taça. Conclusão, conseguimos terminar no 2º lugar com o apuramento directo para a AFC da ÁSIA e vencemos a Taça.

Tinha terminado a época, e queríamos planificar a próxima. Fiquei portanto no pais mais 3 semanas, com a minha esposa nas ultimas semanas de gravidez, mas não queria deixar muita coisa para fazer à distancia, porque estava a adivinhar que pudesse ser fatal para a época seguinte.

O objectivo era ver jogadores locais e estrangeiros, uma vez que teimavam em mudar de estrangeiros (jogadores que foram fundamentais nas conquistas que tivemos no clube, mas que, perante tal pressão para mudar de estrangeiros, senti que estava sozinho a defender os jogadores que tínhamos contratado). O orçamento que me foi dado para contratar (para ser campeão), estava longe de ser o mais adequado para atingir o objetivo.

No entanto, como tinha referido lá atrás, foquei-me nas soluções e não nos problemas e fui à luta.

O objectivo era encontrar bons jogadores, de preferência Europeus, segundo os critérios que eu criei para cada posição – que quisessem ganhar pouco dinheiro, mas que tinham a oportunidade de ganhar títulos, jogar na AFC de ÁSIA e assim poderem abrir portas em Ligas do mundo ÁRABE.

Não foi fácil, mas conseguimos contratar bem – de acordo com um orçamento baixo para o objectivo. Mas foi necessário analisar mais de 90 jogadores para 4 posições.

E até correu bem, vencemos a Super Taça, fomos campeões da Liga (na fase regular) e esses estrangeiros ainda ajudaram a 9 jogadores locais a irem à Seleção Nacional (record do clube) e 5 jogadores à Seleção Sub 23. Durante 14 meses no clube, em todos os jogos oficiais nacionais, tivemos só 2 derrotas. Portanto, para terminar este diário, digamos que foram muitos os motivos que me levaram a deixar o clube, foi um acumular de situações (algumas faladas aqui no Diário).

Fica a enorme aprendizagem como pessoa, a enorme evolução como treinador, e como me disse muitas vezes o manager geral: “Depois de treinares o Nejmeh, vais estar preparado para treinar qualquer clube no mundo. “

Termino este Diário, com esta frase que acaba por resumir um pouco toda essa experiência no clube,

“As conquistas mais importantes não foram os títulos que ganhamos. A minha aprendizagem diária como pessoa e o meu crescimento como Treinador permitiram-me ajudar no crescimento e na evolução dos meus jogadores, da minha equipa técnica e do meu clube. Isso não tem preço.”


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