Paulo Meneses e a saída do Nejmeh: lições para o futuro pt.1
Depois de um ano a liderar o Nejmeh, Paulo Meneses foi forçado a abandonar o cargo de treinador do emblema libanês e contou ao Fair Play o porquê da sua saída e que lições pode oferecer a futuros treinadores que enfrentem desafios similares.
QUANDO SENTIMOS QUE SEGUIR DIFERENTE CAMINHO É O MELHOR PARA NÓS
Acabou. Ao fim de 14 meses a treinar o clube com mais adeptos e um dos clubes mais titulados no país (felizmente adicionei mais títulos em tão pouco tempo), decidi rumar por um caminho diferente que o caminho que o clube queria seguir.
Graças a muito trabalho, dos jogadores, do meu staff técnico e também de outras pessoas nos diversos departamentos, acrescentamos valor à história de um clube tão grande.
Realmente, estes 14 meses com os títulos e as conquistas que tivemos em tão pouco tempo, foram e continuam a ser considerados por muitas pessoas como uma das melhores eras na história do clube. E sendo um dos clubes mais titulados no país, e com muita historia no “mundo Árabe”, acaba por ser um feito assinalável.
À imagem do que passou quando vim embora do Aizawl FC, agora também houve centenas de pessoas a comentarem a minha saída do clube, incluindo adeptos dos clubes adversários, pedindo para que fosse treinar os clubes deles. Neste caso, houve jogadores dos clubes adversários que me escreveram mensagens privadas, de apoio e dizendo que iam sentir a minha falta – apesar de ter ganho títulos contra esses clubes.
O projecto desportivo que apresentei à direção do clube, que foi fundamental para convencer as pessoas que gerem o clube a decidirem que eu seria a melhor opção para treinar o clube, tinha uma Filosofia e uma Visão geral para todo o clube, alinhado com as necessidades do clube e segundo a realidade e ambição do clube. No que toca à ambição do clube, eu como treinador da 1ª equipa, alavanquei a ambição do plantel, desde a 1ª conversa com a direção, e demonstrei-o logo no 1º treino com a equipa.
Senti que o clube necessitava de uma transformação “emocional” através da minha comunicação e exigência diárias, para alavancar, não só os jogadores, mas também todos os elementos de todos os departamentos do clube rumo a uma ambição superior.
Num diapositivo do meu projecto desportivo, há uma frase que define muito a minha postura enquanto profissional que demonstra o compromisso que temos no clube desde o 1º dia:
“ Que clube encontramos quando chegamos, que Clube deixamos quando vamos embora”.
É este tipo de compromisso que deixamos bem claro desde o inicio nos projectos que iniciamos, que não se refere só à conquista de títulos, ao crescimento da equipa em termos colectivos, um Modelo de Jogo ambicioso e um estilo de jogo que os adeptos se identifiquem e gostem, à evolução dos jogadores, à potenciação de departamentos e criação de novos departamentos. segundo as necessidades do clube para corresponder às exigências.
Há uma frase que coloco no meu CV, que define as várias conquistas que fizemos no clube e que deixa bem claro o que referimos no parágrafo anterior:
“As conquistas mais importantes não foram os títulos que ganhamos. A minha aprendizagem diária como pessoa e o meu crescimento como Treinador permitiram-me ajudar no crescimento e na evolução dos meus jogadores, da minha equipa técnica e do meu clube. Isso não tem preço.”
Como estávamos a referir, a nossa postura para potenciar, não só a equipa e os jogadores, mas também todos os departamentos do clube (inclusive criar novos departamentos,
Quando entrei no clube, vários conselhos me foram transmitidos. Várias pessoas conhecedoras do “mundo Árabe”, me disseram para ir viver essa aventura e trabalhar de “coração aberto”, ir com toda a paixão (que me caracteriza). Nada diferente daquilo que eu tenho sido em todos os projectos pelos países por onde tenho passado. Até porque, o meu tipo de liderança, é uma liderança emocional, portanto, viver de coração aberto” e trabalhar com paixão faz parte da minha identidade (e de alguns dos Princípios e Valores que gosto de ver na minha equipa técnica – para logo os meus jogadores os colocarem em prática diariamente, influenciados pelo exemplo do staff técnico).
CONFLITO CONTRA ISRAEL E AS DIFICULDADES QUE CRIOU NO CLUBE, E NA VIDA DAS PESSOAS
Com o início do conflito em Outubro, muitas coisas mudaram no clube. Um assistente da minha confiança quis abandonar o país, juntamente com 3 jogadores: um jogador da Austrália, outro do Canadá e um Holandês. E não conseguimos contratar para colmatar essas saídas. De referir que, os jogadores da Austrália e Canadá funcionavam como jogadores locais.
Não só houve mudanças no clube, mas também na minha vida. A minha família estava comigo em Beirute até ao inicio do conflito. E não puderam voltar. Trata-se de uma situação muito complicada, uma vez que temos um bebé de 9 meses, e viver o seu crescimento à distância estava a ser muito difícil para mim.
O conflito mudou muitas coisas na vida das pessoas, a vida já não era igual. No início, um pequeno ruído e o medo pairava no ar. Depois vamo-nos acostumando pouco a pouco, mas sem estar 100% tranquilo.
Por exemplo, um dos meus adjuntos, antes de abandonar o clube, ausentou-se para a Grécia, com receio do conflito. Até que tomou a decisão de abandonar o clube. Também, 2 jogadores Portugueses, ausentaram-se para Chipre. Não treinavam nem competiam as provas nacionais, só viajavam com a equipa para jogar a AFC da Ásia.