Jovens estrelas que caíram cedo demais: Martin Fenin

Francisco IsaacNovembro 7, 20245min0

Jovens estrelas que caíram cedo demais: Martin Fenin

Francisco IsaacNovembro 7, 20245min0
Martin Fenin ajudou à Chéquia a chegar à final do Mundial de sub-20 em 2007 e esteve a um passo das estrelas, mas... a sorte assim não o quis

Quantas jovens estrelas atingiram o patamar mais alto do futebol mundial para depois caírem abruptamente ou, pior, devagar sem nunca encontrarem um rumo de regresso aos títulos internacionais e aos grandes palcos (como é o caso de Martin Fenin)?

Nesta rubrica não procuramos descobrir quem tem culpa, mas sim as razões desse desaparecimento, perceber onde foram parar e se há alguma hipótese de redenção. E atenção, não dissemos desaparecemos porque ainda jogam seja numa primeira, segunda ou terceira divisão.

Se conheces mais casos deixa nos comentários para investigarmos e falarmos desses nomes.

FENIN UMA ESTRELA SEM EXPANSÃO

Deixem-me começar pelo fim. Martin Fenin merecia mais e merecia ter sido apoiado da melhor forma, especialmente do ponto de vista de acompanhamento psicológico. O checo acabou por descer à divisões secundárias e regionais alemãs e checas porque a pressão foi de mais e ninguém soube o proteger quando mais necessitava. Fenin começou a carreira extremamente cedo, estreando-se na primeira liga checa com 16 anos, na sua equipa de sempre, o FK Teplice. Logo na primeira temporada marcou a passada com um golo e três assistências em cinco jogos, o que começou logo a gerar uma atenção especial sobre si. O avançado acabou por se impor também nas selecções jovens com 18 aparições e quatro golos pelos sub-16, quinze jogos e seis golos pelos sub-17 e vinte jogos e seis golos nos sub-19, isto ao mesmo tempo que ia crescendo no Teplice como um dos jogadores mais enérgicos e excitantes do campeonato.

O calculismo frio bem trabalhado e a velocidade de ponta faziam a diferença, conseguindo dar consistência e força ao ataque sem necessitar de ser o principal goleador da equipa, surgindo como um apoio de calibre para o ponta-de-lança fixo. Chegamos ao ano de 2007, ano em que o Campeonato do Mundo de sub-20 decorreu no Canadá com a Chéquia a ter sido uma das selecções europeias apuradas para a competição. Fenin, uma das principais estrelas jovens do campeonato checo, foi chamado a serviço e, como esperado, deu um show do princípio ao fim com três golos marcados, três assistências e mostrando uma frieza brutal na hora de bater as grandes penalidades. Na final, Fenin estreou o marcador com um soberbo golo que aproximava a sua equipa do título… porém, a Argentina de Kun Agüero, Ángel di Maria e Mauro Zárate tratou de dar a volta e colocou um ponto final ao sonho.

A excelência do avançado na final acabou por convencer o Frankfurt a se lançar ao concurso, batendo vários clubes das principais ligas europeias, pagando uns 3,5M€ pelo avançado em Janeiro de 2008. Ao serviço do Frankfurt, Fenin começou logo a conquistar adeptos colocando seis bolas no fundo da rede nos dezassete jogos em que realizou nesses primeiros seis meses, isto para além de cinco assistências. O brilhantismo do avançado era ofuscante e delicia tudo e todos, com este pico de forma a se estender até ao final da temporada de 2008/2009. Aos poucos, Fenin foi perdendo gás e a mudança de Friedhelm Funkel para Michael Skibbe acabou por ser fatal no fim de contas para o avançado. Passou de uma média de um golo ou assistência a cada três jogos, para praticamente zero, arrecadando menos minutos, jogos e oportunidades. A pressão de ter de render constantemente, as críticas públicas de membros da direcção do clube e a falta de apoio em seu redor acabou por levar a Martin Fenin a entrar numa espiral negativa, com a selecção nacional a não escapar.

Em 2009, após a eliminação do Mundial de Futebol de 2010, dez jogadores checos e o seleccionador nacional foram suspensos e “expulsos” da selecção por terem tido comportamentos não profissionais antes e pós o encontro frente à Eslováquia. Esta combinação de sabores, colocou um entrave psicológico que “matou” a carreira profissional de um avançado que aos 22 anos parecia ter perdido a vontade de jogar futebol. Para acelerar o texto, Fenin saiu do Frankfurt para jogar pelo Cottbus em 2011, descendo para a Bundesliga 2., no qual mal jogou. Voltou para a Chéquia mas nem no Slavia Prague ou FK Teplice fez a diferença, tentando a sorte na segunda divisão do Istres que mal deu em nada. Entre 2015 e 2017 esteve a jogar nos regionais de vários países, já longe dos holofotes das melhores ligas europeias. Retirou-se aos 28 anos com 16 internacionalizações pela Chéquia e aquilo que parecia ser uma passagem de alto sucesso na Bundesliga. Anos depois Fenin explicou o que se passou: uma depressão. Ninguém o amparou, ouviu ou quis ajudar, olhando para o fundo da garrafa como a única salvação. Hoje em dia fala em congressos de saúde mental e desenvolve campanhas na FIFPro sobre o tema.

Fica para a memória um avançado que sabia tratar o esférico com um carinho especial.


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