Jovens estrelas que caíram cedo demais: Royston Drenthe

Francisco IsaacJulho 17, 20188min0

Jovens estrelas que caíram cedo demais: Royston Drenthe

Francisco IsaacJulho 17, 20188min0
A Holanda sempre foi uma fábrica de jogadores espantosa e em 2007 surgiu Royston Drenthe, um lateral esquerdo diferente. Mas como correu a vida a Drenthe?

Quantas jovens estrelas atingiram o patamar mais alto do futebol mundial para depois caírem abruptamente ou, pior, devagar sem nunca encontrarem um rumo de regresso aos títulos internacionais e aos grandes palcos?

Nesta rubrica não procuramos descobrir quem tem culpa, mas sim as razões dessa desaparecimento, perceber onde foram parar e se há alguma hipótese de redenção. E atenção, não dissemos desaparecemos porque ainda jogam seja numa primeira, segunda ou terceira divisão.

Se conheces mais casos deixa nos comentários para investigarmos e falarmos desses nomes.

O NOVO “LEÃO” GALÁCTICO QUE SE APAGOU TOTALMENTE

DE GANHAR A PORTUGAL NO EURO 2007 SUB-20 AO SER MERENGUE

Estávamos em em 2007 e no Europeu de sub-20 (Portugal participou e ficou-se pela fase-de-grupos depois de um empate contra a Bélgica, derrota ante a Holanda e vitória frente a Israel) surgiu uma nova super-estrela, que jogava a lateral-esquerdo mas rapidamente subia para a posição de extremo, de seu nome Royston Drenthe. Fulminante a explodir pela esquerda, agressivo na recuperação de bola e com um pé canhão certeiro, o lateral ganhou fama nesse Europeu com 20 anos.

Era um talento puro, com características à la Edgar Davids (até o corte de cabelo era similar) com aquela potência que só se via em jogadores como Roberto Carlos… vibrante na hora de corre com o esférico, enérgico na hora de lutar pela sua recuperação. Era the whole package e a tenra idade ainda deixava os seus pretendentes com mais “água na boca”.

Assumiu a titularidade no Feyenoord em 2006 (estreou-se com 17 anos, um ano antes pelo mesmo clube) e na Holanda rotulavam-no da nova estrela do futebol do país e da Europa. A vitória no Europeu de sub-20 parecia ser um sinal extremamente promissor para aquela selecção holandesa e, em especial, para Drenthe. A somar a essa vitória, o lateral-esquerdo conquista o título de melhor jogador da prova ficando à frente de jogadores como Ryan Babel, Branislav Ivanović, Miguel Veloso ou Giorgi Chiellini.

Naturalmente, surgiram vários pretendentes como o AC Milan, Liverpool, FC Barcelona, Olympique de Lyon… contudo, foram todos batidos pelo clube do costume, que na altura aglutinava todas as jovens estrelas: Real Madrid. Os merengues naquele momento eram loucos por ir buscar novas potenciais coqueluches e nesse ano “só” contrataram Marcelo, Wesley Sneijder, Arjen Robben, Balboa, Soldado e Miguel Torres, juntando-se Drenthe por 14M€.

O holandês optou por ir para Madrid e as condições/ambiente eram/era sensacionais/sensacional: tinha companheiros da mesma nacionalidade que facilitavam o entrosamento dentro do plantel; não havia concorrência que o atirasse de imediato para o banco de suplentes, pois Roberto Carlos tinha saído nesse Verão; o Real Madrid era campeão em título o que facilitava ainda mais a sua entrada em campo, seja do banco ou no 11.

A primeira época ao serviço do Real Madrid não foi de toda má, tanto a nível individual ou colectivo: 26 jogos, 15 dos quais a titular, três golos e três assistências, com o clube a sagrar-se bicampeão de La Liga. Na Liga dos Campeões não correu nada bem, ficando logo de fora nos 16-avos de final. O Real Madrid estava num processo de renovação do plantel e da entrada de uma série de novas estrelas internacionais.

Drenthe impressionou nesta primeira época, com uma série de pormenores de elevada categoria, arrancando aplausos da bancada a cada nova arrancada, finta e tiro para a área, apesar de se denotarem alguns problemas a nível táctico e de de aguentar com uma boa intensidade durante o encontro todo. Mas era mesmo na hora de pensar o jogo, de saber o que fazer sem bola, de pensar como um senior que residia o problema do jovem holandês.

Mas como a La Liga estava no “bolso” ninguém notou tanto esses problemas, esperançosos que o internacional sub-21 holandês evoluísse para um novo tipo de Roberto Carlos. Porém, a catastrofica epoca que se seguiria para o Real Madrid etiquetou Drenthe para sempre. 2º lugar na La Liga, fracasso por completo na Champions League, pior ainda na Taça do Rei, foram resultados mais que suficientes para despedir Bernd Schuster a meio da época, sem que Juande Ramos conseguisse salvar a temporada.

O jovem lateral-esquerdo foi um dos jogadores que somou mais minutos, não a lateral-esquerdo mas sim como extremo na mesma ala. Não resultou tão bem, já que carecia de alguns aspectos que lhe impediam de ter outra projecção e consistência na manobra ofensiva. Para além disso, tanto Heinze como Marcelo não davam espaço que o holandês descesse para a defesa, retirando-lhe quaisquer possibilidade de afirmação como lateral.

COMPORTAMENTOS POUCO PROFISSIONAIS VS TALENTO, QUEM GANHA?

De 26 e 28 jogos nas duas primeiras épocas, Drenthe passou para 11 na terceira temporada como merengue, não merecendo de todo a confiança de Manuel Pellegrini que apostou totalmente em Marcelo. Quando o brasileiro não jogava, era Arbeloa que se deslocava para a faixa da esquerda… no ataque, a chegada de Cristiano Ronaldo acabou definitivamente com todas as possibilidades de afirmação no Real Madrid.

Drenthe mentalmente não cresceu, começou a mostrar sinais de criança, com atrasados sistemáticos aos treinos, pouca evolução no jogo jogado e sem capacidade para fazer fase a estas adversidades. O facto de ter passado de suplente bastante utilizado e titular, para quase proscrito iniciou uma queda vertiginosa na carreira do explosivo lateral/extremo.

Ainda com contrato com o Real Madrid, Drenthe foi emprestado ao Hercules e Everton. Tanto na formação espanhola como inglesa, começou da melhor forma com golos e assistências, boas prestações e um futebol que animava as bancadas. Parecia que estava no trilho certo até que entravam as complicações extra-futebol: atrasos para os treinos, respostas tortas a treinadores e direcção e falta de compromisso a meio da época.

O próprio David Moyes prescindiu dos serviços do holandês depois de terem dado uma licença para se ausentar, uma vez que Drenthe não apareceu ao treino que supostamente marcava o seu regresso. Para além de não aparecer, não quis prestar declrações e a relação com os tofees terminou em Março apesar dos 27 jogos, 4 golos e 10 assistências produzidas na Premier League.

A sua constante má conduta e fraco profissionalismo foi afastando-o dos principais emblemas europeus, sendo que o Everton foi a sua grande oportunidade para merecer a confiança de clubes de maior dimensão. O regresso a Madrid foi amargo, com o clube a rescindir contrato com o holandês. Só voltaria a jogar futebol em 2013 pelo Alania Vladikavkaz, da Premier League russa, onde actuou em 6 jogos.

Voltou a merecer uma oportunidade em Inglaterra (desta feita no Championship), para jogar ao serviço do Reading, tendo lhe corrido positivamente bem a primeira época, em que somou 24 jogos em 36 possíveis. Nos Royals demonstrou alguns dos seus atributos que mereceram o interesse do Real Madrid em outros tempos, mas já sem aquele fulgor físico e dinamismo explosivo que marcaram os seus anos como sub-20.

Novamente, problemas com a direcção e staff técnico precipitaram-no outra vez para a porta de saída… o Reading rescindiu o contrato e Drenthe foi forçado a procurar novo emblema. Seguiram-se o Sheffield Wednesday, Kayseri Erciyesspor e Baniyas FC (Emirados Árabes Unidos), completando 35 jogos na totalidade. Nunca foi bem sucedido, os comportamentos negativos fora do campo influenciaram a sua reputação dentro das quatro-linhas.

Farto do Mundo do futebol, Royston Drenthe pôs um ponto final na sua carreira, aludindo que,

“Estou cansado do futebol e das pessoas em seu redor. Fiquei sempre marcado por umas más opões e nunca realmente voltaram a dar-me uma oportunidade para brilhar. Não quero mais jogar futebol profissional.”

Dedicou-se ao rap e hip-hop entre 2016 e 2018, altura em que aceitou um convite do Sparta para tentar aos 31 relançar uma carreira que podia ter sido de outro nível. Oportunidades não faltaram, o futebol estava lá, no aspecto físico era um portento e tinha um talento especial. Faltou ter cabeça e paciência para aprender ler o futebol de outra forma que não de uma maneira juvenil.

Foi uma das maiores esperanças para o futebol holandês, mas como outros tantos ficou-se por um clube de alto nível e uma queda constante até embater em ligas inferiores ou até ficar sem contrato.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS