Se o governo vai mal…mais um no nacional!

Virgílio NetoNovembro 14, 20183min0

Se o governo vai mal…mais um no nacional!

Virgílio NetoNovembro 14, 20183min0
Os anos 1970 no Brasil ficaram marcados também pela construção de inúmeros estádios de futebol pelo país e pelo inchaço do campeonato nacional. "Onde a ARENA vai mal, mais um no Nacional". No 'combo' um estádio e projeção da classe política em vigor. Um período sombrio no que diz respeito à gestão do futebol nacional do Brasil.

Brasil, anos 1970. Selecção Canarinha tricampeã do mundo de futebol. Tempos do “Milagre Económico”, em que o país crescia vertiginosamente com índices que beiravam os 15% ao ano. Ideia e ideal de grandeza que o desporto-rei era um dos pilares, em função das conquistas internacionais e de mobilização das pessoas. Centenas de milhares. Ao mesmo tempo. É neste sentido que, a fim de desviar as atenções do povo, o lado do circo do “pão e circo” romano é incentivado pelo governo.

É oficializado um campeonato nacional do Brasil, que reunia clubes das mais diversas regiões, que ia em encontro ao projecto da política de integração de todos os territórios. Estes clubes destas mais distintas regiões precisavam de passagens aéreas e estádios para poderem actuar. Mas não podia ser qualquer estádio. Era preciso comportar o máximo de pessoas, do mais humilde ao mais abastado. Os subsídios do governo garantiram a viabilidade destas viagens. Ademais, também permitiram a construção de dezenas de estádios país adentro.

Multiplicaram-se pelo país “gigantes de concreto” com capacidades de público, actualmente, absurdas, que comportavam 30, 60, 75, 90, 100 mil adeptos! Claro, precisavam reunir e satisfazer o máximo possível de pessoas. Do ponto de vista arquitectónico, bizarros. Economicamente inviáveis. Em Teresina (foto abaixo), em Fortaleza, em São Luís, em Goiânia e em Campo Grande. Apenas mencionados alguns. No entanto, serviam de apoio para o principal partido político de sustentação do regime vigente no Brasil à época: a ARENA (Aliança Renovadora Nacional). É daí que surge a frase:

“Onde a ARENA vai mal, mais um no Nacional.”

O que este período quer dizer? Nas unidades da federação em que o referido partido está fraco, basta aumentar o número de clubes do campeonato brasileiro e, de preferência, inserir o de um estado em que falta apoio institucional e popular para o partido da situação. Como havia muitos descontentes pelo país, eis o resultado:

O Campeonato Brasileiro de 1979 teve 96 clubes! Noventa-e-seis! Saboreie, leitor, cada sílaba deste numeral. Desde o GE Brasil (de Pelotas, perto da fronteira com o Uruguai) até o Fast Club (do Amazonas). Não sei se é pior ou melhor, mas o campeão deste certame (o Sport Club Internacional, de Porto Alegre) foi invicto. Claro, não jogou contra as outras 95 equipas, mas pela fórmula da disputa, realizou 23 jogos. Entretanto, o vice-campeão, o Vasco da Gama, fez 14. Há algo errado nestes números, sim. Entretanto, é bom que quem conquistou o título tenha jogado mais vezes!

Com tudo isso, eis mais uma história do futebol do Brasil. De um país que muito se fala, mas pouco se sabe dele. Bem pouco. Depois dizem (ainda) que o futebol do Brasil não é nada exótico. Conterrâneos mesmo que ainda isso dizem!


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