6 jogadores que trocaram um “Grande” por outro
Com a iminente ameaça do SL Benfica em dar “guarida” aos jogadores que estão em risco de rescisão com o Sporting CP, o Fair Play relembra algumas das trocas mais polémicas dentro do futebol português. Quem foram os jogadores que fizeram o improvável? Quais foram os motivos? E foi uma boa mudança?
De Lisboa ao Porto, do Porto a Lisboa, aqui ficam os 5 jogadores que trocaram um “Grande” por “outro”. Algumas condicionantes para as nossas escolhas: os jogadores fizeram uma troca directa entre os clubes; houve pelo menos cinco dezenas deste tipo de acontecimento, e nós optámos por aqueles que foram mais “complicados” pelo contexto e timing;
JOÃO MOUTINHO (SPORTING CP -» FC PORTO)
O Sporting CP liderado por José Eduardo Bettencourt passava por uma época complicada (o início da pequena crise que o clube de Alvalade atravessou entre 2009 e 2013) e no final de 2010 cai uma bomba de mercado: João Moutinho sai do clube de sempre rumo ao FC Porto. Mas como é que o capitão do Sporting, formado no clube e que tinha uma ligação-forte com os adeptos leoninos chega a este ponto?
Relembrar que o Sporting CP na época de 2009/2010 teve três treinadores diferentes com Paulo Bento (o final de uma relação de 4 anos), Leonel Pontes (fez uma transição de 7 dias só) e Carlos Carvalhal. O futebol foi pobre, com um saldo de 8 derrotas e 9 empates em 30, terminando desta forma em 4º lugar a 28 pontos do 1º lugar.
As contratações falharam quase por completo, com Pongolle, Caicedo, Angulo e Mexer a revelarem-se não só um problema em termos de forma, mas também de custos elevados para o clube (ao todo 10M€ nestes supostos reforços). João Moutinho, que tinha habituado os adeptos a boas temporadas, teve um ano arrasador com péssimos números, exibições tortuosas e com um ar sempre cabisbaixo.
Maio chega, o campeonato finda e começam as “conversas”… João Moutinho é um dos atletas mais cotados a sair, com potenciais propostas da Premier League e La Liga. Contudo, nada chega e José Eduardo Bettencourt desespera pela saída de um jogador que viria a ser etiquetado como “Maçã podre, um problema para o clube”.
A 10 de Julho, o FC Porto faz um avanço rápido, com uma proposta por 15M€ (11M€ + o passe de Nuno A. Coelho + 25% numa próxima venda desde que o valor fosse mais alto que 15M€), com a direcção leonina a aceitar de imediato. O problema estava resolvido, a “maçã” que estava a tentar contaminar Alcochete foi removida e agora o clube poderia recomeçar quase do zero.
Ironicamente, João Moutinho viria a ser tricampeão pelo FC Porto, levantando mais de 7 títulos em três épocas ao serviço pelos Dragões. E o suposto novo Sporting que tinha afastado um dos seus líderes por complicações com a SAD? Foram caindo ainda mais em termos de qualidade de jogo, chegando ao ponto de em 2013 terminar num 7º lugar.
PAULO FUTRE (SPORTING CP -» FC PORTO)
O enigmático, surpreendente e louco Paulo Futre jogou nos três “Grandes”, mas o momento mais complicado foi no ano de 1984. O pequeno mágico tinha surgido em força no plantel de Jozef Vengloš (o checo só esteve um ano em Alvalade) e aos 18 anos já começava a tornar-se numa coqueluche para os adeptos do clube.
20 e poucos jogos, 3 golos e várias assistências (não existem números finais, mas são múltiplas as referências de que Futre metia a bola no sítio certo, no jogador certo), levaram ao português “exigir” um contrato melhor à direcção encabeçada por João Rocha, presidente do Sporting CP na altura.
Uma série de confusões, complicações e discussões levaram ao clube recusar a subida de salário, pondo fim à ligação do avançado ao clube. E quem surgiu no horizonte? FC Porto. Jorge Nuno Pinto da Costa viu em Futre um potencial enorme e apostou em Paulo Futre que em três épocas, levantaria dois campeonatos e uma Taça dos Campeões Europeus.
Futre nunca ficou mal visto aos olhos dos adeptos dos Leões, uma vez que não foi culpa do avançado a saída de Alvalade, já que na altura ganhava um salário muito inferior à média do plantel.
Uma mudança que poderia ter sido evitada?
MAXI PEREIRA (SL BENFICA -» FC PORTO)
A saída de Maxi Pereira do clube da Luz surge como uma pequena facada dos rivais do Norte, num momento delicado. Numa altura em que o timoneiro partia para os rivais da 2ª Circular, o vice-capitão abandonava o clube para reforçar um outro rival, pondo fim a uma ligação de 8 anos.
Não sendo um jogador genial, Maxi era a carraça que dava tudo em campo pelo clube, que dava o corpo às balas e que conseguira, ano após ano, manter um nível exibicional constante e de qualidade acima da média.
Numa fase de transição, com a saída de um treinador com 6 anos de casa, a saída de uma das vozes de comando deixou um vazio e agudizou a incerteza que os adeptos sentiam face à época que haveria de vir. Contudo, a rápida ascensão de Nélson Semedo, a evolução de André Almeida e um bom coletivo, principalmente na primeira época de Rui Vitória ao leme do Benfica, levaram a que Maxi fosse esquecido rapidamente, ficando apenas as habituais picardias no regresso ao Estádio da Luz.
Acima de tudo, a grande mágoa dos adeptos prende-se com a postura de Maxi, que teimou em diminuir o papel dos encarnados na sua carreira e a desvalorizá-los, num claro desafio ao clube que durante anos lhe deu as condições para crescer como jogador.
A sua saída pode ter sido uma escolha da direção, no entanto os adeptos mereciam mais respeito e não perdoaram no regresso do uruguaio ao Estádio da Luz.
Entrada por Pedro Afonso
PAULO SOUSA (SL BENFICA -» SPORTING CP)
Um momento que deve ter custado muito a Paulo Sousa, a mudança da Luz para Alvalade, pois no ano a seguir à mudança, o SL Benfica viria a levantar o título de campeão. Mas porque é que um dos jogadores mais dotados daquela Geração de Ouro iria abandonar um clube que tanto lhe deu? A resposta é fácil: salários em atraso.
O SL Benfica de então estava a atravessar uma fase muito complicada em termos de contas, com uma espécie de falência técnica a tomar “conta” do clube, na altura liderado por Manuel Damásio. Os jogadores de classe mundial como Paulo Sousa, Rui Costa, Mostovoi, João Vieira Pinto estavam à vários meses sem receber e a impaciência começou a tomar conta de alguns desses maiores ícones.
O trinco português, um dos melhores da sua geração, esgotou a paciência e a última troca de palavras com a direcção encarnada levou à sua saída, aceitando uma proposta de contrato do clube rival, o Sporting CP. Foi um Verão inesquecível em termos de hype, com uma guerra total e aberta entre direcções de ambas as formações com Paulo Sousa (e Pacheco) no meio da confusão.
O SL Benfica apontava o dedo ao Sporting por ilicito aliciamento de jogadores, que violava contratos e relações institucionais. O Sporting CP por sua vez apontava para os meses de dívidas, comprovando que os jogadores tinham rescindindo legalmente, já que os seus contratos tinham terminado em Maio.
A verdade é que os problemas financeiros das Águias iriam se adensar, com a famosa Operação Coração a ter lugar em Dezembro de 1994.
Mas bem antes desse momento peculiar da vida do SL Benfica, houve uma espécie de “vitória moral” para Manuel Damásio com a conquista do título em Maio de 1994. Esse campeonato foi extremamente emotivo, com os Três Grandes a ficarem separados por 2 e 3 pontos.
O Sporting foi vice-campeão com Paulo Sousa a ser magistral no meio-campo de tal forma, que convenceu a Juventus a contratá-lo.
O Universo benfiquista nunca perdoou o facto do Sporting se ter aproveitado de um momento de extrema fraqueza do clube para “roubar” duas estrelas do seu elenco.
JOÃO VIEIRA PINTO (SL BENFICA -» SPORTING CP)
Um dos maiores símbolos do final do século XX do SL Benfica, acabou renegado por João Vale e Azevedo e, de certa forma, humilhado pela direcção das Águias. Mas como foi o final da história de João Vieira Pinto num clube que serviu por mais de 8 anos? Conturbado.
Como dissemos, o avançado português (quem se esquece daquele golo frente à Inglaterra, com um cabeceamento imparável) foi ridicularizado pela direcção benfiquista, que o acusou de falta de profissionalismo, de ser um péssimo activo e que só renovaria o contrato caso o internacional português baixasse o salário.
Verdade que João Vieira Pinto não foi sempre um jogador fácil de lidar com, mas é verdade também que sempre deu tudo pelo clube, liderando a equipa como capitão desde 1995. Era magistral com a bola nos pés, com um faro para encontrar soluções no ataque, possuidor de um talento deslumbrante que contagiou as bancadas da Luz durante anos a fio.
Contudo, com uma ano de contrato por ainda cumprir, João Vale e Azevedo decidiu-se pela rescisão, expulsando o atleta do clube para todo o sempre e isto tudo com o Europeu de 2000 pela frente, competição que o avançado iria ser fundamental no final das contas. Com JVP em grande forma, vários foram os clubes que se chegaram à frente pelo avançado, de Inglaterra, a Espanha, até Itália, foram várias as propostas. Porém, o português aceitou outra proposta que viria a lançar as sementes da discórdia.
A Julho de 2000, o Sporting CP e João Vieira Pinto chegaram a acordo. E como foi a vida do avançado em Alvalade? Se em 2000/2001 não foi excelente (mas não andou longe disso), na época seguinte ajudaria o clube a levantar o título de campeão, compondo com Mário Jardel uma dupla fenomenal, que teve “só” um pecúlo de 67 golos marcados e 34 assistências.
Para o SL Benfica foi mais um negócio perdido, para o Sporting CP foi uma das chaves para o título conquistado pelo treinador Laszlo Boloni.
FERNANDO MENDES (SPORTING CP -» SL BENFICA)
Começamos esta entrada com uma frase do próprio Fernando Mendes, numa entrevista concedida ao Observador,
Mas arrependo-me de ter saído. Se há coisa de que me arrependo foi de ter trocado o Sporting pelo Benfica. E não só porque as coisas não correram no Benfica como estava à espera.
Lateral-esquerdo de boa qualidade (foi internacional português por 11 ocasiões), formado em parte no Montijo e outra parte no Sporting CP, fez uma mudança de clubes em 1989 após uma guerra interna que desencadeou a saída do defesa em 1989. Porquê?
Recuemos até ao ano de 1988, altura em que Amado Freitas, presidente dos Leões, demite-se do cargo abrindo a mais uma pequena crise (entre as várias) que o clube sentiu após o “adeus” de João Rocha em 1986. O homem que aceitou liderar os destinos do Sporting, Jorge Gonçalves, um nome que não sendo consensual para os adeptos, era “querido” entre os jogadores.
Fernando Mendes era um dos atletas que se colocou do lado de Jorge Gonçalves na corrida às urnas em 1988. Do outro lado quem estava? Sousa Cintra, um empresário de sucesso, conhecido pelo seu enorme sportinguismo e que prometia mundos e fundos aos sportinguistas. Abriu-se um processo eleitoral disputado e que Sousa Cintra prometeu reforços de qualidade, como Fernando Gomes, um dos principais artilheiros do FC Porto.
No final de contas, Sousa Cintra acabou por convencer os sócios a votar em si, destronando Jorge Gonçalves e, por consequência, precipitando a saída de Fernando Mendes para o SL Benfica, numa espécie de vingança perante o rumo que o Sporting estava a levar.
Todavia, a vida do lateral não correu nada bem na Luz, completando uns 30 jogos em mais de quatro anos de ligação, sendo uma aposta fracassada. Fernando Mendes só viria a volta a “sorrir” num Grande, quando em 1996 rubricou contrato com o FC Porto.
O moral da história? Nunca façam promessas que não queiram cumprir…
BONUS
JORGE JESUS (SL BENFICA -» SPORTING CP)
É aquele pequeno-grande momento do futebol português que fica para os anais da História do mesmo: a saída de Jorge Jesus, bicampeão pelo SL Benfica, para o Sporting CP, liderado por Bruno de Carvalho. Uma mudança repentina e que ninguém esperava por, mas que estava à vista de todos pelo cenário que se criou.
Conta-se que em Maio de 2015, depois de ter levantado o título por uma 2ª vez consecutiva (e 3ª desde que tinha chegado ao clube), o treinador foi alvo de uma pressão interna para sair em direcção às Arábias, sem que o clube tivesse de pagar qualquer valor pela rescisão de contrato. Jorge Jesus sentiu que não era essa a direcção que desejava dar à sua carreira, fazendo uma pequena “guerra” com o clube.
Do nada, JJ põe fim à sua ligação ao clube, com o sentimento “que o dever foi cumprido”, não divulgando o seu novo destino. Todavia, passado uns poucos dias chega a notícia de que Jorge Jesus iria rubricar um contrato de 2 anos com o Sporting CP, situação que só seria confirmada a 30 de Junho, altura que findava o contrato do treinador com as águias.
Não foi a primeira mudança directa entre clubes da 2ª Circular, já que antes existiram outros como Jesus caso de Jimmy Hagan, ele que também abandonou o clube enquanto treinador campeão. Contudo, como Hagan, o treinador do Sporting CP nunca conseguiu levantar o título de campeão, terminando em 2º e 3º lugar em três temporadas.
Aquilo que parecia ser um novo momento de glória para o Sporting CP, afinal revelou-se uma desilusão no final de 2018. Uma Taça da Liga e uma Supertaça contam a ladainha de Jorge Jesus no Sporting CP.