Crónicas do Sr. Ribeiro: CDUL, mais vale arriscar do que estagnar!

Fair PlayAbril 17, 20185min0
O Sr. Ribeiro faz uma crítica positiva ao ano do CDUL, clube que o formou na prática do rugby! Por vezes arriscar traz dissabores, mas para o Sr. Ribeiro traz futuro!

O CDUL esteve presente em todas as finais do campeonato desde a época 2011/2012, tendo vencido três. Mas desde a época 2006/2007 conseguiu apurar-se para todas as fases finais.

Ou seja, este ano, o CDUL interrompe uma série de onze participações consecutivas na disputa do título máximo do rugby nacional.

Olhando, de repente, para o rugby nacional, o CDUL foi o grande derrotado desta época. Era o campeão em título, e não se conseguiu apurar para a fase final. Na taça também não chegou à final. Perdeu ainda a Taça Ibérica e ficou em último lugar do seu grupo da Continental Shield.

Também nos escalões de formação não conseguiu qualquer título. Sobrando a disputa daquele escalão híbrido que toda a gente crítica, a Challenge.

Colocado em cima da mesa este cenário que parece negro, resta questionar, o que pode aproveitar-se deste ano?

Correndo o risco, muito habitual, de parecer demasiado positivo e até ingénuo eu acho que foi uma época tremenda. Começando pelos escalões que, actualmente, conheço melhor. Os de formação.

O CDUL tem um mar de miúdos a aprender a jogar rugby. Mais que isso, tem uma escola de valores que funciona a tempo inteiro, ainda hoje tive de enviar as notas dos meus filhos para os treinadores.

Começam a faltar adjectivos para tanto elogio que me merecem. Este ano não montaram uma, mas duas deslocações internacionais, mas, mais importante, tal como nos All Blacks onde “better people do better All Blacks” tem sido apanágio do clube que melhores pessoas dão melhores jogadores. E assim tem sido feito um esforço para apostar não em treinadores, mas em pessoas de excelência para tomarem conta dos nossos miúdos. E os resultados estão à vista.

Não pelos jogos ganhos, que imagino serem os mesmos que os outros clubes, mas pela amizade e cumplicidade que vivem os jogadores, pela amizade e cumplicidade que os jogadores fazem-nos ter, entre pais.

Pelo respeito que têm aos treinadores, difícil figura de autoridade, que se estende para as outras áreas da sua vida e pelo valor do trabalho, até ao gosto que têm em vestir a camisola dos adversários quando a estes falta um jogador.

A formação do CDUL está muito bem e dá gosto ver.

Passando aos sub 16 da equipa principal que fez uma época anterior brilhante, não sobrou assim tanta gente. Divididos em dois escalões, os que subiram e os que ficaram, tivemos longe da disputa dos campeonatos sub 16 e sub 18. Mas temos a certeza que o valor está lá, quando vencem o youth festival, num intermédio escalão de sub 17.

Num jogo onde, sobretudo, venceu o querer. Um resultado final de 3-0, contra os mais novos dos campeões das Olaias. Foi soberbo e reassegura que vem aí uma fornada de bons jogadores cheios de qualidade e que estão comprometidos com o CDUL.

Os Séniores foram vítimas deles mesmos. Nunca tinha visto um calendário tão violento no rugby nacional, como o do CDUL até Dezembro. Entre jogos nacionais, internacionais e seleções estavam sempre a treinar e jogar, a jogar e treinar.

Foto: Luís Cabelo Fotografia

Foi de loucos. Se acho que abusámos? Acho que não.

A irreverência e a coragem têm de fazer parte do jogador de rugby.

Prefiro sempre tentar ir jogar com os melhores, tentar subir o meu nível, mesmo que isso implique que eu aí seja o pior, do que aceitar a estagnação.

Prefiro sonhar num jogo contra romenos do pacífico sul, vencer o sonho e o jogo contra uma equipa profissional de italianos, mesmo que isso implique um desgaste físico e psicológico que comprometa o resto dos objectivos.

O CDUL teve de reforçar o plantel para este campeonato (digo eu que sou só e apenas adepto) e com isso descaracterizou-se um bocado. Sim, eu também acho que a vinda de jogadores estrangeiros deve ser apenas para trazer real valor acrescentado ou tapar um qualquer buraco, mas a ambição do CDUL este ano, implicava tapar muitos buracos.

Se não era a equipa era a seleção, se não era de XV era de VII. Enfim… os Séniores não pararam.

Não conseguiram afirmar-se no campeonato e na taça, mas acho que deixámos uma imagem muito positiva ao nível mais alto a que jogámos como clube.

O que me leva à Challenge!

O plantel teve de ser tão extenso, para aguentar tanta carga, que sobrou uma equipa de primeira linha a disputar um campeonato que deveria (?) ser de segunda.

A prova que a época não foi negativa está nos resultados da Challenge. Há uma quantidade enorme de jogadores à espera da sua oportunidade. Três deles são recentes campeões europeus, sucedendo a outros dois que, entretanto, já se afirmaram nos séniores.

O ciclo do CDUL não quebrou, de todo.

Foi um ano atípico. Com equipas em belíssimo nível. Foi um despertar para uma realidade dura, somos amadores, mas temos ambições superiores. Temos ambições de competir o mais alto que nos deixarem. No fundo, os séniores quiseram aquilo que ensinam nas escolas, sonhar e arriscar.

Quando terminar esta época, eu, como adepto, estou profundamente orgulhoso do trabalho do meu clube este ano.

Como diz a música, “do presidente ao director e treinador, nós queremos união, do mais velho ao mais novo jogador, instinto campeão”. Isso viu-se!

Este ano ainda temos a Challenge, mas para o ano há mais.

Foto: Luís Cabelo Fotografia

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