Bola de Ouro 2023 – Prémio carreira?

Ricardo LopesOutubro 31, 20237min0

Bola de Ouro 2023 – Prémio carreira?

Ricardo LopesOutubro 31, 20237min0
Lionel Messi foi o vencedor da Bola de Ouro 2023 e Ricardo Lopes olha para o que significa este prémio

Na passada segunda-feira, dia 30 de outubro de 2023, Lionel Messi levantou a sua oitava Bola de Ouro. O craque argentino voltou a distanciar-se como o atleta com mais troféus entregues pela France Football, sendo cada vez mais inevitável de assumir que é o melhor futebolista de sempre, debate que terá ainda mais fulgor na sua aposentadoria. Porém, não existe margem para dúvidas que o vencedor poderia ter sido outro, nomeadamente atletas do Manchester City FC.

Há que recordar ao leitor que para a Bola de Ouro 2023, o que é de relevo são os acontecimentos de 2022/23, não o que ocorreu no ano civil. Por isso, a mudança de Lionel Messi para a MLS não constituiu nenhum ponto de análise, nem tudo o que tem feito pelo Inter Miami CF. A temporada de 2022/23 foi agradável para Messi, culminando na vitória do Mundial 2022, primeira (e provavelmente única) vez que o jogador formado no FC Barcelona alcançou tal título, que era um dos seus objetivos de carreira, inclusivamente o maior.

Não apenas venceu o Mundial, mas foi bastante importante na caminhada para o triunfo. Foram sete golos marcados, com dois na final contra a França, numa batalha épica contra Mbappé. Além da conquista do Campeonato do Mundo, Messi venceu a Liga Francesa e a Supertaça Francesa, não tendo a relevância de Mbappé, ou pelo menos a sua consistência.

O argentino fez uma primeira parte de temporada de elevado quilate, podendo a mesma ser justificada como “pré-temporada” para o Qatar, mas acabou por baixar o nível a partir de janeiro. No entanto, no somatório foram 21 golos e 20 assistências, em 41 jogos, números bastante satisfatórios, mas maquilhados, pricinpalmente pela realidade PSG-Ligue 1.

Tendo em conta que a Ligue 1 neste momento transformou-se na quinta melhor liga da Europa, possivelmente mais longe do Top 4 e mais perto da Liga Neerlandesa, é aceitável afirmar que candidatos oriundos de Inglaterra ou Espanha poderiam ter mais chances, nomeadamente no caso Manchester City. Os citizens foram os protagonistas do futebol de clubes de 2022/23. Pelo seu treinador, pelos seus craques, pelas alterações táticas. O emblema fez uma grande recuperação na Premier League e venceu a Champions League, numa final que tinha um vencedor anunciado, pela maneira que a equipa de Pep Guardiola trucidou o Real Madrid CF, nas meias finais da competição. Neste caso, saltam dois (mais um, numa opinião mais pessoal) à vista. Erling Haaland e Kevin De Bruyne.

Erling Haaland é apontado como o grande rival de Kylian Mbappé para a próxima década, para aqueles que gostam de criar novos Ronaldos vs Messis. A sua temporada foi um luxo, adensada por ser a sua estreia na Premier League. 53 jogos, com 52 golos e 9 assistências, tudo isto sem Mundial.

A grande crítica que é apontada ao norueguês é o seu desaparecimento em jogos que necessitam de mais esforço, empenho e dedicação. Zero golos na final e meia final da Champions, zero golos na final da Taça de Inglaterra, igualmente vencida pelo Manchester City, quando eram partidas onde Haaland deveria obrigatoriamente ter sido um dos atletas fundamentais.

Atenção, o antigo atleta do BVB Dortmund não tem somente a função de marcar golos, um ponta de lança é importante em outras funções e missões (veja-se o caso de Viktor Gyokeres, provavelmente o mais elucidativo em Portugal), mas Haaland para poder lutar pela Bola de Ouro tem que aparecer nos momentos chave. Possivelmente por isto é que perdeu o troféu, além de não ter participado no Mundial 2022, algo ao qual é meio que alheio.

Ao contrário de Haaland, Kevin De Bruyne participou nessa competição, com a Bélgica. É possível é que este facto tenha tido o efeito contrário do de Lionel Messi. O Mundial 2022 da Bélgica foi francamente mau, o fim da linha para Roberto Martínez. A turma dos “diabos vermelhos” não passou da fase de grupos e isto não dá pontos positivos a ninguém. O médio ofensivo do Manchester City teve ótimos números, com 10 golos e 26 assistências, em 49 jogos, mas com Haaland na equipa era impossível ter mais realce do que aquilo que conseguiu, estando numa segunda linha (de luxo), acompanhado por Bernardo Silva, Gundogan ou Rodri.

Este último nome merece destaque. Rodri é o melhor médio do mundo, na atualidade. Se o espanhol não jogasse a 6 e fosse ponta de lança, ou extremo, teria muito mais adeptos para a sua vitória na Bola de Ouro. É o nome mais importante para Guardiola, taticamente falando e é decisivo, já que marcou o golo do triunfo da Champions League, algo que dá destaque. O próprio Rodri sabe que é muito complicado para um jogador que não esteja na linha de ataque ou a 8 vencer o galardão, admitindo igualmente que pode ser falta de marketing, estabelecendo uma comparação com dois antigos colegas de Lionel Messi:

«Claro, assim como um dia faltou a Xavi ou Iniesta», afirmou ao El Partidazo de COPE, e com certa razão. Rodri também venceu a Liga das Nações.

Apesar da concorrência à altura, Lionel Messi terminou mesmo por vencer a Bola de Ouro. O destaque do Mundial 2022 foi suficiente para tal, mas foi algo que Mbappé também teve e não lhe foi suficiente. No fundo, esta temporada significou a despedida do astro argentino da Europa, depois de uma carreira recheada de sucessos e de ter deixado imagens inolvidáveis para os fãs. A edição de 2023 do troféu da France Football pode ser considerada um “Prémio Carreira”, nomeadamente para aqueles que não gostam (não se percebe bem como, nem por quê) de Lionel Messi. Havia um bom lote de outros possíveis candidatos, com muita influência, mas a oitava foi mesmo para o atleta de Rosário. Se foi justo? Muitos podem achar que não. Se é um quadro que fica bem? Sem sombra de dúvidas.


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