Onde é que anda o Flop: Marco Ramos, esquerdino que falhou em Braga

Francisco IsaacAgosto 1, 20186min0
Em 2010/2011, o lateral-esquerdo chega ao SC Braga e fracassa em garantir minutos no plantel liderado por Domingo Paciência. Quais foram as razões? E porque é que é um flop?

O fenómeno dos flops não ataca só os suspeitos do costume, como o FC Porto, Sporting CP ou SL Benfica, em Portugal, uma vez que outros clubes nacionais foram afectados da mesma forma com supostos bons reforços e que acabaram por defraudar os adeptos. No SC Braga já houve algumas dessas situações e hoje falamos de uma em específico: Marco Ramos.

Assim de repente, para a generalidade dos leitores, o nome é estranho… para uma minoria é facilmente reconhecido, pois durante alguns anos era daqueles atletas com boa probabilidade de chegar à selecção nacional, devido às suas característica físicas e das Quinas terem alguns problemas à esquerda na defesa. Mas temos de ir ao princípio antes de falar do fracasso total que foi a história do defesa na Pedreira.

FORMADO NO PRINCIPIADO E LANÇADO ÀS FERAS DA LIGUE 2

Um produto da formação do AS Monaco, Marco Ramos nasceu e cresceu em França, filho de pais emigrantes que seguiram anos antes para a terra dos “gauleses”. No Monaco fez uma série de anos ao serviço do clube enquanto juvenil, actuando em dois jogos apenas pelos monegascos em 2003-2004. Ramos apanhou um dos melhores momentos do clube, principalmente a nível da Liga dos Campeões (em 2004 iria a final frente ao FC Porto) e com grandes jogadores na lateral-esquerda, como Patrice Evra ou Gäel Givet.

Com 20 anos, Ramos pouco ou nada joga no clube que o formou para o futebol profissional, e na temporada seguinte segue para os Lusitanos como emprestado. Na segunda divisão francesa joga quase em 30 encontros, na Ligue 2.

Começa a vislumbrar-se algumas das qualidades que o iriam levar para outro patamar dentro do futebol francês: agilidade que combinava com uma bela velocidade, duro e leal na hora de defender e recuperar a bola e um jogador seguro no apoio ao ataque (nunca foi um assistente de primor).

Infelizmente, para Ramos, o Monaco rescindiu com vários jogadores em 2005 e o luso-descendente foi dos que sofreu com esse “corte” no emblema do sul de França. De pronto, surgiu uma oportunidade noutro emblema da segunda divisão francesa, o Châteauroux. Novamente, volta a realizar uma temporada de bom nível, com mais de trinta jogos ao serviço de um clube que só queria “sobreviver” nas competições profissionais francesas.

Uma boa época bastou para reunir argumentos suficientes para convencer um história do futebol francês: o RC Lens. Foi, talvez, o melhor período de Marco Ramos no futebol. Em três anos vai somar 131 jogos, 1 golo e 3 assistências, assumindo-se como uma peça fundamental na subida de divisão entre 2008/2009. Ramos foi aí visto como um defesa muito difícil de ultrapassar, com uma raça muito própria e agressiva que não dava tempo aos extremos e avançados de respirarem.

Ocupava bem as linhas, surgia sempre lançado no apoio ao meio-campo sem avançar em demasia, optando por uma postura mais austera na saída para o ataque. Aliás, Marco Ramos pode ser lembrado como um atleta que em quase 300 jogos só fez um golo… era um dos problemas do luso-descendente, um atleta uni-dimensional, que revelava certos problemas em arrancar um bom centro ou um lance digno de ataque.

Mas não há dúvida alguma que foi no Lens o seu melhor período, onde a forma categórica como abordava as incursões ofensivas dos seus adversários animava tanto os treinadores como adeptos do emblema mais a norte de França.

Titular assumido, um bloco de difícil ultrapassagem e um jogador que acabou por entrar no grupo de capitães do RC Lens. A época de retorno à primeira divisão foi de categoria, no qual terminaram no 10º lugar. Marco Ramos surgiu em algumas equipas da semana do L’Equipe, elogiado pela sua fisicalidade e postura.

O BRAGA COMO UM PASSO PARA O FIM DE UMA CARREIRA ANTECIPADA?

Com a chegada do fim de época de 2009/2010, iniciou-se o pior dos cenários para Marco Ramos, pois Jean-Guy Wallemme, o treinador que o trouxe para o clube, decidiu colocar o luso-descendente no banco de suplentes ou mesmo fora das convocatórias optando por um lateral que tinha chegado em Janeiro de 2010: Henri Bedimo. Marco Ramos sofreu um par de lesões, nenhuma das quais era impeditiva ao ponto de deixar contar depois de dois anos como titular na formação francesa.

Foi completamente riscado do elenco e perante a situação aguardou pelo mercado de Janeiro de 2011 para mudar o rumo da sua carreira. A 20 de Janeiro, tem um convite para jogar pela primeira-vez no país dos seus pais: Portugal. E o clube? SC Braga. Domingos Paciência liderava um elenco que atingiria uma das maiores honras dos bracarenses, com o apuramento para a final da Liga Europa.

Assinou por duas épocas, a custo-zero depois de uma rescisão “amigável” com o Lens e é assim etiquetado como um dos reforços mais interessantes dessa época. Um jogador que tinha realizado boas exibições numa das Big-5, com capacidade para ser titular e de dar outro físico à defesa. Todavia, o que Ramos não esperava por era ser considerado um suplente de um suplente… Sílvio era titularissímo na formação bracarense, Elderson seguia-se (entre lesões e recuperações jogou 25 jogos pelo Braga, 19 como titular) e aparecia então Ramos.

Em toda a “vida” do lateral-esquerdo no SC Braga, só somou uns despontantes 20 minutos ante o Arouca FC para a Taça da Liga. Foi isto a história do defesa ao serviço da fantástica equipa comandada por Domingos Paciência, sem espaço para actuar e demonstrar os atributos que em tempos tinham convencido os franceses do RC Lens. Depois de uma época onde só fez 299 minutos no total… passou de titular absoluto para um suplente dispensável.

Leonardo Jardim foi o treinador seguinte, após a saída de Paciência para Alvalade, e a vida de Ramos não melhorou de todo. Aliás, o novo treinador colocou o lateral de parte e durante um ano inteiro, esteve sozinho a treinar. Foi um passo mortal para um atleta que chegou ao SC Braga rotulado de craque e agora nem podia jogar futebol, o que em Julho de 2012 motivou-o a rescindir contrato com os bracarenses.

A carreira do português não correu de todo bem a seguir à sua única presença no futebol português… passou pelo Auxerre, que atravessava um dos piores momentos da sua longa vida… Ligue 2. Marco Ramos foi transitando entre a titularidade e banco, já sem os argumentos que outrora o fizeram de um dos laterais portugueses mais interessantes a jogar a nível europeu.

Em 2014, aos 31 anos, pôs um ponto final na sua carreira. Chegou ao Braga com a missão de disputar o lugar à esquerda com Sílvio, mas nem rivalizar com Elderson foi capaz… chegou a ser internacional sub-19 por Portugal, aprendeu muito com Patrice Evra no Monaco e foi um dos responsáveis pelo ressurgimento do Lens na Ligue 1 (curiosamente, o clube iria descer de divisão um ano após o “adeus” do português ao clube), porém, todo o seu fulgor físico, a qualidade técnica e a cabeça táctica não lhe garantiram um lugar no futebol português.


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