Onde é que anda o flop: Léo Lima, o dragão que não sabia holandês
O FC Porto pode ter passado quatro anos sem ganhar qualquer título, o máximo da era de Jorge Nuno Pinto da Costa, mas não foi a altura mais conturbada de sempre dos Dragões. Depois de subirem ao pódio da Liga dos Campeões com José Mourinho ao leme em 2004, a saída do fantástico Special One forçou uma mudança de planos da SAD dos dragões, chegando para o lugar do técnico Luigi Del Neri.
O italiano também foi um daqueles flops paran nunca mais esquecer, não resistindo mais que duas semanas na cadeira do treinador… foi demitido por vários problemas. Victor Fernandez foi o homem que se seguiu e o espanhol teria supostamente um plantel bastante competente para a época que se avizinhava. Os primeiros meses do espanhol não foram fantásticos, mas também não foram maus com a conquista da Taça Intercontinental.
Só que em Janeiro veio o desastre… derrota por 3-1 em casa frente aos rivais do SC Braga e Fernandez despedido. José Couceiro recebe um plantel minado com um Luís Fabiano muito longe dos atributos que mostrou pelo São Paulo, Diego só aparecia a espaços com Ricardo Quaresma a tentar carregar o plantel às costas.
No entretanto, chegaram alguns reforços de Inverno como Leandro, Leandro do Bonfim, Ibson e Léo Lima. Um autêntico contento de jogadores canarinhos… passado um ano nenhum resistiu no elenco.
Mas vamos a Léo Lima, que tinha impressionado pelo CS Marítimo durante alguns meses e recebeu este convite do clube da Invicta.
A ESPERANÇA DO VASCÃO QUE TENTOU EXPLODIR EM PORTUGAL
Leonardo Lima da Silva começou a dar os seus primeiros pontapés no Madureira nos anos 90, denotando um estilo de jogo de alta rotação, senhor de um remate agressivo, um par de fintas complicadas de parar e uma passada daquelas que alterava a fluidez do encontro por completo. O seu talento levou-o à selecção do Brasil sub-17 e sub-20, surgindo no meio-campo da canarinha, fazendo parte de uma das alturas de maior sucesso do Brasil a nível jovem (campeões do Mundo de sub-17 em 1999 e da América do Sul sub-20 em 2001), algo que lhe possibilitou a ida para o Vasco da Gama.
Chegou aos 20 anos ao plantel principal e conquistou o seu lugar, onde o seu talento e capacidade de levar a bola fizeram furor no Vascão. Entre 2001 e 2003 somou 50 jogos, fazendo o gosto ao pé por 5 vezes, assistindo por 10 vezes os seus companheiros, números mais que suficientes para elevá-lo à condição de fundamental numa equipa que passou uns anos complicados no Brasileirão.
Aos 22 anos de idade transferiu-se para Sofia, para jogar no CSKA local… a transferência foi feita por 3M€, um valor bem alto se tomarmos em conta a época e o país de onde pertencia o clube comprador. A estada de Léo Lima foi bem curta na Bulgária devido a salários em atraso algo confirmado pela FIFA pouco depois. Completou uns meros 10 jogos (três golos) mas realizou excelentes jogos ao serviço de uma das melhores formações búlgaras de sempre.
E aí começa a história do brasileiro com o futebol português… o Marítimo chega-se à frente e oferece as condições desejadas pelo jogador, que assina pelos madeirenses. De Janeiro de 2004 a Janeiro de 2005, Léo Lima foi impressionante, um toque de bola genial, uma raça difícil de ombrear com, onde a sua capacidade de ir para cima dos defesas motivava os seus colegas de equipa, sendo um dos melhores jogadores do campeonato para além dos atletas dos Grandes.
Chegamos ao momento decisivo: a ida do criativo para o FC Porto. A 10 de Janeiro de 2005 é apresentado no Dragão, com o objectivo de conferir a Victor Fernandez um reforço sólido na corrida para o título. Os Dragões necessitavam de competência na frente, de alguém que conseguisse transportar a bola sem cair facilmente entre os defesas, um criativo com a potência do nº8, um híbrido por assim dizer.
Um talento no Vascão
A sua titularidade só “sobreviveu” enquanto Fernandez morou no Porto, alinhando contra a Académica, Leiria e Braga. Depois veio a fase mais complicada com José Couceiro, que chega ao clube nos primeiros dias de Fevereiro e faz logo uma remodelação no onze principal. Remove Pitbull, Léo Lima, Leandro do Bonfim e outros jogadores da titularidade, muda a forma de jogar e aposta noutra lógica de jogo.
Léo Lima não resiste, cai para o banco e no fim nem convocado é, precipitando-o para “fora” do clube, mas isso é outra história. Daquela 2ª volta do Campeonato Nacional em 2005, sempre que o brasileiro jogou mais que 20 minutos o FC Porto perdeu (4-0 com o CD Nacional foi dos piores resultados de sempre no Dragão) ou empatou. Aquela chama que tinha incendiado os Barreiros uns meses antes começava a extinguir-se perante as ideias de Couceiro para os azuis-e-brancos.
Aquela agressividade foi excessiva em vários momentos, perdia-se em fintas mal desenhadas e pensadas, nunca encontrou o caminho para a baliza e foi sendo apenas um apontamento num longo plantel do FC Porto. O fracasso da renovação do título forçou a saída de José Couceiro e ainda acalentou o sonho de Léo Lima em relançar-se na época seguinte.
Bem, o brasileiro não contava era com o treinador que ia assinar pelos dragões, um homem nada simpático, com pouca paciência para invenções e que procurava um tipo de jogo consistente, credível e equilibrado. Na pré-época, Léo Lima chocou de frente com o holandês, devido a questões tácticas fundamentais para o novo técnico principal. O próprio Co Adriaanse numa conferência de imprensa explicou,
«Os jogadores brasileiros pensam que se não tiverem a bola alguém vai recuperá-la para eles. Se queremos fazer pressão, precisamos de onze jogadores a pressionar. Caso contrário sofremos contra-ataques. Léo Lima não fez o que eu queria. Se todos fizerem o que têm a fazer não haverá problemas comigo. Eu expliquei durante 50 minutos. Depois expliquei na prática e dei-lhe uma oportunidade («Léo, pressiona a bola!»). Se depois de três explicações ele não faz bem, então tenho de usar outros métodos para o ensinar. Se não quiser aprender, vai embora!».
Este foi o detalhe que terminou com a carreira do brasileiro no Dragão, uma discussão acesa que azedou muito rapidamente. Léo Lima invés de lutar para se manter no clube, quis sair à força… foi o fim da sua presença no clube. A direcção não teve outra escolha e encaminhou-o para um regresso ao Brasil. Primeiro jogou pelo Santos em 2005 e depois o Grêmio em 2006, conquistando elogios por parte dos treinadores do Brasil.
A ligação com o FC Porto terminou por completo em 2007, por via de uma rescisão de contrato, muito pela recusa do brasileiro em regressar ao clube, criticando a direcção liderada por Jorge Nuno Pinto da Costa, seja pela forma como foi tratado por Co Adriaanse ou pelo facto de não o terem defendido nessa altura.
Flopou por completo no Dragão, e o preço que custou na altura foi sempre um problema para os adeptos: 3M€. Para Léo Lima a saída até funcionou em seu proveito, já que entre 2006 e 2008, conquistou os títulos estaduais pelo Santos, Flamengo e Palmeiras (já o tinha feito pelo Vasco da Gama em 2003), reforçando o seu estatuto no Brasileirão.
Passaria pelo São Paulo, Goiás, Vasco da Gama (um regresso a casa de curta duração), chegando a jogar pelo Al-Nasr na Arábia Saudita. Hoje em dia alinha pelo clube que o lançou, o Madureira, onde tenta aos 36 ganhar motivação devido a uma situação a nível pessoal trágica.
No Brasil foi sempre dos jogadores mais considerados pelo seu trabalho no meio-campo, a excelente técnica típica dos canarinhos, a genialidade em entrar pela área a dentro e os passes a rasgar. Sem o esférico nos pés, era um jogador que roçava o banal, sendo claramente menos um em campo. Mas no Brasileirão bastava e dava várias cartas pelos vários emblemas por onde passou.
Lamentavelmente, devido à máquina de promoção de jogadores que era o FC Porto, Léo Lima foi vítima da sua pouca vontade em aprender como ser útil dentro do esquema táctico e de uma fase conturbada de um clube que tinha ganho tudo nos últimos anos, para além de Co Adriaanse ter uma postura muito anti-pensamento livre, algo que Léo Lima sempre foi “acusado” de gostar muito.
Foi um flop daqueles que merecia muito mais, até porque era um jogador com uma visão de jogo completamente diferente e que animou sempre as hostes pelos clubes onde passou. Contudo, no Mundo do futebol ou há adaptação ou não existe futuro…
O pé-bomba de Léo Lima