10 momentos do Campeonato do Mundo de futebol pt.1
De Junho até Novembro, o Fair Play vai recordar alguns dos melhores momentos de Campeonatos do Mundo, oferecendo sempre duas histórias ao leitor, podendo ser divertidas, sérias, insólitas, educacionais, ou de outro género, e que ajudaram a escrever uma página na espectacular história do torneio de futebol mais aguardado a cada quatro anos.
PÁRA TUDO QUE O SHEIK É QUE MANDA
Esta história já foi contada no podcast do Fair Play dedicado ao passado “recente” (e não assim tão recente) do Desporto-Rei, Fut-Historiadores, mas não podia ficar de fora desta colecção de cinco artigos que contam alguns dos momentos mais importantes ou insólitos da maior competição da bola redonda a nível de selecções: a invasão do Sheik Al-Sabah no França-Kuwait de 1982. Num jogo que teria pouca história, para além de ter sido, à altura, o primeiro encontro entre a selecção francesa e a do médio-oriente, a França adiantou-se cedo no encontro e atingiu um 3-0 com golos de Bernard Genghini, Michel Platini (um dos melhores mundiais do antigo avançado, que viria ser presidente da UEFA) e Didier Six, mostrando o domínio avassalador de um dos candidatos ao título perante um estreante Kuwait nestas andanças.
Sem capacidade para lutarem contra a maior categoria dos jogadores e colectivo francês, o sonho do Kuwait em fazer a “gracinha” rapidamente esmoreceu até que aos 75′ surge o 2º golo desta selecção arábica, dando mote para uns últimos 15 minutos mais interessantes, apesar de saber que a França dificilmente iria perder o controle do jogo. Chegamos até ao minuto 81’… do nada, todos os jogadores kuwaitianos param de jogar, ficando paralisados no local onde estavam, enquanto os seus homólogos gauleses mantêm a bitola e acabam por desferir um 4º golo, pondo fim a uma possível “revolta” do seu adversário. Mas porque é que pararam?
Bem, pelos vistos os atletas do Kuwait ouviram um apito pensando se tratar de algo saído do árbitro, e sentiram que estavam a ser enganado por tudo e por todos, exigindo que o golo da França fosse anulado naquele momento, indo em direcção de Miroslav Stupar, o árbitro deste encontro da 1ª fase de grupos do Campeonato do Mundo, para que este revertesse a decisão. Impassível e inamovível, o árbitro parecia não querer ouvir os queixumes do Kuwait e, quando ia dar sequência ao jogo, eis que entra em campo a sua sumidade o sheik Al-Sabah, numa última tentativa de impedir que o 4-1 realmente se materializasse. Confusão instalada, os agentes da FIFA perdidos no relvado, e um monarca a forçar algo que nunca tinha acontecido na história do futebol profissional. Resultado? O árbitro decidiu anular o golo, para a incredulidade dos jogadores e staff da França, o Kuwait e os seus adeptos gritavam de alívio, e o escandâlo estava efectivamente lançado. Quis o destino que o 4º golo dos Les Bleus chegasse em definitivo aos 90′ por Maxime Bossis, pondo fim a esta momento incrível do Campeonato do Mundo de 1982.
Nota, o árbitro deste encontro nunca mais apitou jogos ao mais alto nível, tendo sido suspenso pela FIFA…
O golo descalço no Mundial de 1938
A primeira campanha de relevo do “Escrete” foi no Campeonato do Mundo de 1938 (França), onde arrecadaram o terceiro lugar da prova. Se em 1930 e 1934 o Brasil havia caído na primeira fase dos torneios, na terceira edição do Mundial a seleção Brasileira apresentou se melhor preparada e mais bem apetrechada de atletas com o mítico Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, a ser a cabeça de cartaz do elenco canarinho.
Leonidas terminou a competição com 7 golos e, com a curiosidade, de um deles ter sido feito descalço.
Logo na estreia do Brasil frente a Polónia, Leonidas fez 3 golos num espetacular 6-5 em Estrasburgo. O golo que desatou a partida a favor dos brasileiros, ja no prolongamento, foi feito por Leonidas com o pé descalço.
O jogo foi disputado sob uma chuva torrencial e a chuteira do jogador foi se desgastando com a intensidade da partida. Durante o prolongamento, acabou mesmo por rasgar a frente ficando a parecer “uma boca de jacaré”. Face as dificuldades em arranjar outro par numero 36, Leonidas decidiu continuar a jogar, mas descalço.
Certamente que perguntar-se-ão: “Como é que o arbitro não viu?”. O próprio Leonidas respondeu a essa mesma pergunta numa entrevista em 1970,
“Ia ser cobrada uma falta contra a Polônia e eu fiquei . Chovia, o juiz não se apercebeu. Nós não tínhamos meias brancas, na época jogávamos de meias pretas. Então, com a lama, o juiz talvez não tenha observado. Eu fiquei na jogada, a bola bateu na barreira, voltou para mim e eu complementei o lance e fiz o gol.”