10 momentos do Campeonato da Europa de futebol pt.2

Francisco IsaacMaio 3, 20217min0

10 momentos do Campeonato da Europa de futebol pt.2

Francisco IsaacMaio 3, 20217min0
Estamos quase a chegar ao Campeonato da Europa e escolhemos alguns momentos emblemáticos para recordar neste artigo especial de duas partes!

Na segunda parte deste artigo que consagra alguns dos melhores momentos de todas as edições do Campeonato da Europa de futebol, surge Portugal em força, principalmente por aquele remate magistral que lançou um país à euforia máxima e à alegria total.

Mais 5 recordações de Europeus para relembrar!

O MILAGRE DE SÃO ÉDER

As palavras nunca serão suficientes para contar aquele momento longo e rápido (um paradoxo aceitável perante a situação) em que Éder capta a bola, atinge-la com força e arremessa um pontapé indefensável que Hugo Lloris não teve capacidade ou ousadia para parar. No dia 10 de Julho de 2016, perante um calor asfixiante em Paris, Portugal vinha com a missão de estragar a “suposta” festa da França, que esperava conquistar o título em casa. Depois de uns primeiros 90 minutos onde o ataque gaulês fez-se sentir na área de Rui Patrício e nas pernas de Cristiano Ronaldo, que foi forçado a sair por lesão ainda antes da meia-hora de jogo, ambas selecções foram forçadas a seguir para um prolongamento que iria colocar à prova a atitude mental e a resiliência quer dos homens de Fernando Santos ou os de Didier Deschamps.

Quis o destino que surgisse um novo herói de um país e do Desporto-Rei nessa segunda-parte desses extra 30 minutos, de seu nome Ederzito António Macedo Lopes, nascido na Guiné-Bissau, e que cedo emigrou para Portugal. O ponta-de-lança recebeu o esférico, rodou sobre si, deu algumas passadas e pontapeando-o no fim, perante os centésimos de segundos de dúvidas evocados pelos adeptos no estádio e em casa… centésimos segundos depois, a epopeia portuguesa tinha ganho outro ponto máximo, com todos a grita, festejar e a saltar perante o golo de Éder.

Poucos se lembram dos minutos finais dessa segunda-parte do prolongamento, em que a França abatida ainda tentou igualar o encontro, mas ninguém se esquece da ousadia, ambição e desejo de mudar o destino evocada por Éderzito e os seus companheiros, que contra todos os prognósticos (e uma fase-de-grupos menos positiva) foram capazes de levantar o caneco! A Europa aos pés de Portugal… e de Éder.

PODE UMA MOEDA AO AR DECIDIR UMA MEIA-FINAL?

Se as pessoas acham que o golo de Éder foi o cúmulo de muita sorte, então é melhor se prepararem para a história da Itália e do seu primeiro e único título em Europeus. Em 1968, ainda com o formato de 4 equipas vigente, os transalpinos foram uma das selecções apuradas para a fase-final a par da URSS, Inglaterra e Jugoslávia, dando um contraste pitoresco aos jogos que iriam decidir o novo campeão do Velho Continente, depois da Espanha, vencedora da edição de 1964.

Nas meias-finais, italianos e soviéticos iriam decidir um dos finalistas, sabendo de antemão que o favoritismo pendia para o lado do elenco do leste, pois tinham sido campeões em 60′ e vice-campeões em 64′, possuindo um grupo de jogadores de um alto nível físico e moldados para lutar até a um limite para lá do humano. Porém, a Itália tinha preparado bem a lição, apetrechando bem os seus atletas para uma estratégia defensiva intrasigente, cínica e elegante, que estava baseado na versatilidade dos jogadores assim como na solidariedade em ocupar lugares na defesa ou em rapidamente se assumirem como unidades de ataque, caso fosse necessário. Liderados por Giacinto Facchetti, Dino Zoff, Tarcisio Burgnich ou Gianni Rivera, os transalpinos aguentaram as intenções da União Soviética de fazer golos, forçando o encontro a alongar-se até aos 120 minutos… ou seja, até ao fim do prolongamento.

E entra agora o dado “diferente” dos ancestrais Campeonatos da Europa, que foi alterado pouco depois deste jogo: a decisão por moeda ao ar. É isso mesmo, para decidir um encontro a eliminar, que não fosse decidido dentro dos 90+30 minutos de jogo oficiais, recorria-se à sorte pura e dura, com o árbitro a ser o juiz e carrasco do futuro das equipas, como aconteceu entre a Itália e a URSS. Quis o destino, nesse dia, dar a vitória aos italianos e oferecer-lhes o lugar na final da competição, que seria conquistada pelos mesmos após uma exibição de gabarito frente à antiga Jugoslávia, por dois golos a zero, que teve de ser jogada duas vezes, pois no primeiro encontro tudo terminou empatado (1-1), forçando a um novo encontro, já  que não era admissível a moeda ao ar nesta ocasião.

O DIA (NOITE) QUE PLATINI NEGOU A 1ª FINAL A PORTUGAL

Em 1984, Michel Platini negou a Portugal a primeira final num Europeu, depois da selecção lusa ter estado na frente do resultado por duas ocasiões (bis do inesquecível Jordão), com o golo decisivo a surgir ao cair do pano… o avançado francês era inegavelmente um dos maiores jogadores da sua geração, dotado de uma técnica especial, um remate potente e quase telecomandado e de uma sapiência profunda em relação aos dinamismos e como o tabuleiro de jogo se processava, impondo-se como a besta da altura.

A França, organizadora desse Campeonato da Europa de 84′, foi a melhor equipa, ou, pelo menos, a mais compacta e incisiva, marchando de forma gloriosa na fase-de-grupos, para depois sobreviver a uma emocionante meia-final, atingido uma final onde ganharia confortavelmente por 2-0 ante a Espanha. Platini foi o goleador do torneio, com um recorde (na altura) de 9 golos num só Europeu, inscrevendo o seu nome na galeria dos mais notáveis de sempre no futebol mundial, enquanto jogador.

PANENKA SÓ PARA TORNAR TUDO MAIS ESPECIAL

De entre os vencedores por uma ocasião de Campeonatos da Europa, surge uma selecção que é esquecida quando se fala em campeões: a República Checa/Checoslováquia. No ano de 1976, os checos foram audazes o suficiente para sonharem com algo mais do que participar, atingindo o Olimpo do futebol europeu com a vitória final ante a poderosa República Federal Alemã, decidida na marcação das grandes-penalidades. Todos já ouviram falar do penalti à Panenka, correcto? Mas será que a maioria dos leitores sabiam que essa maneira de rematar na marca dos 11 metros surgiu precisamente em 76′ e na final do Europeu?

Exactamente, o penalti à Panenka apareceu em grande no momento decisivo do duelo frente à supra-favorita RFA, para o gáudio de quem puxava pelos checos e para tristeza/espanto dos que estavam a apoiar os alemães, marcando assim a História do Desporto. Uma forma de rematar mesclada entre a ousadia e génio, a loucura e virtuosismo, e o estupendo e a insanidade, que, como o remate de Éder, não há palavras suficientes para descrever o que se passou nesse momento do campeonato da Europa.

A ROJA FAZ O INÉDITO

A Espanha é, a par da Alemanha, a única a ter conquistado três campeonatos da Europa, e a única em exclusivo a ter conseguido fazer em regime de bicampeonato, um feito extraordinário para aquela geração excepcional que vingou entre os anos 2008-2012. Andrés Iniesta, Xavi Hernandez, Iker Casillas, David Villa, Sergio Ramos, Xabi Alonso, Cesc Fábregas, Sergio Busquets e Gerard Piqué foram alguns dos protagonistas que em 2008 (sob o comando de Luis Aragonés) e 2012 (liderados por Vicente del Bosque) tiveram o engenho de dominar o Mundo do futebol, apresentando um futebol de alta pressão e intensidade, onde a lógica e arquitectura táctica roçava a perfeição, carimbando um lugar na final depois de vitórias frente à França e Portugal.

No embate decisivo, a Roja jogava o sonho de fazer o que nunca antes tinha sido feito, frente a uma Itália irrequieta, temerária e que tanto conseguia deslumbrar como “emperrar”… nesse sentido, os espanhóis não deram qualquer hipótese perante tanto bipolarismo transalpino, e executaram uma magistral exibição e lição de futebol que terminou com uma goleado por 4-0, a maior de sempre em finais do Europeu da UEFA.

Um bicampeonato cunhado por uma combinação geracional estupenda e que terminou com um feito sem igual e marcante.

 


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