Sebastião Villax. “O jogo com a Roménia em 2016 marcou-me muito!”

Francisco IsaacDezembro 20, 20177min0

Sebastião Villax. “O jogo com a Roménia em 2016 marcou-me muito!”

Francisco IsaacDezembro 20, 20177min0
Fica a conhecer o asa do CDUL e da Selecção Nacional que prima pelo exemplo e fairplay. Sebastião Villax em exclusivo para o Fair Play!
Sebastião como começou a tua “relação” com o rugby? Foi importante para a tua formação como pessoa a modalidade?

SV. Começou com 11 anos , quando dois irmãos, amigos meus, desafiaram-me para ir jogar para o CDUL. Já tinha antes jogado beach rugby, por isso facilmente aceitei. Na altura jogava ténis, não tinha muito jeito, foi uma óptima altura para mudar! Acho que foi fundamental para a minha formação enquanto homem. Valores como exigência, companheirismo e solidariedade são os que mais tento levar do Rugby para o meu dia-a-dia. 

Como foi para ti começar a jogar ao lado de lendas “cdulistas” como o Pedro Cabral, Tiago Girão Gonçalo Foro ou Francisco Pinto Magalhães? É o teu objectivo chegar ao patamar deles?

SV. De facto não se podia pedir mais! Chegar aos seniores e ter grandes referências do rugby nacional com quem treinar e jogar é o melhor que há para a evolução dum jogador. Obviamente que chegar ao patamar deles é sempre um objectivo, mas mais importante é manter-se nesse patamar querendo sempre mais e melhor. Assim, haverá sempre outro patamar para atingir!

Entre CDUL, Selecção Nacional e estudos/trabalho, como conjugas tudo? Há algum conselho que possas dar a atletas de sub-16/18 que queiram chegar ao topo?

SV. Provavelmente a pergunta que mais se faz aos jogadores de rugby em Portugal. E realmente tem razão de ser; é bastante complicado. E então agora com trabalho, os horários ficam menos flexíveis.   A meu ver, resume-se às escolhas e à gestão do tempo. Quando nos organizamos e começamos a ver que nas 24 horas dum dia, fazendo a gestão certa, conseguimos “encaixar” tudo, torna-se possível. E aí entram as escolhas; por vezes temos de deixar família, amigos, programas…etc, de fora.

Hoje em dia és um jogador muito diferente do que eras quando chegaste aos séniores? Que trabalho tiveste de fazer para “encaixar” melhor? E que treinador(s) ajudou-te a desenvolver?

SV. Quando cheguei aos seniores do CDUL , tinha cerca de 19 anos, poucos “skills” mas uma enorme vontade de defender. Andava de ruck em ruck, e raramente era opção de ataque. Tive de trabalhar isso, tanto fisicamente como posicionalmente para assim dar confiança para me passarem a bola. Nesta minha evolução destaco os treinadores Luís Cassiano Neves que apostou em mim para os seniores, Damian Steele que me mostrou que havia mais rugby para além dos rucks e agora Jack Farrer, com quem fiquei mais completo a nível de “skills” básicos. Menciono também os preparadores físicos Pedro Gonçalves, Carlos Bernardo, Pedro Cardoso e Vasco Melim que tiveram muita mão no jogador que sou hoje.

Apesar da tua fisicalidade em campo, és um atleta que prima muito pelo fairplay, companheirismo e bom desportivismo. Sempre foste assim no desporto e é assim que o rugby deve ser encarado?

SV. As pessoas do Rugby em geral gostam de se distinguir por esses valores mesmo. São valores que são incutidos desde cedo, e assim se deve manter tanto dentro de campo como fora dele, e aí ás vezes é mais complicado. Não podemos pregar uma coisa dentro de campo e seguir por outras vias fora dele. Também eu já tive momentos menos bons, mas tento aprender com esses momentos para não só não voltar a fazê-los, mas também para fomentar boas práticas.

A vitória em Itália frente ao Viadana foi surpreendente ou é resultado do vosso excelente trabalho? O Jack Farrer é um treinador “diferente”?

SV. Penso que possa ter sido um misto dos dois. Pusemos como objectivo principal nesta campanha europeia, o de sermos competitivos, de não nos contentarmos com vitórias morais, e assim o trabalho árduo foi recompensado. Mas também podíamos se calhar não ser os favoritos para este jogo, por um grande número de factores a favor da equipa da casa (estrutura profissional, recursos, cultura de rugby…), nesse prisma pode ser encarado como uma surpresa. O Jack Farrer é um treinador como nunca tinha encontrado. O foco nas bases, nos “micro-skills” , nas coisas pequenas no geral, faz qualquer um encontrar o que há de melhor em si e sobretudo pô-lo em prática!

Objectivo do CDUL para a presente temporada?

SV. O objectivo principal é o Campeonato Nacional. Queremos um bi-campeonato, algo que nos escapa há 38 anos, se não estou em erro. A nível europeu, como já referi, é sermos competitivos, disputar cada jogo ao máximo para atingir a vitória.

Em 2016 fizeste um jogo de enorme coragem e raça contra a Roménia. Lembras-te das várias placagens que realizaste frente a jogadores que já estiveram no Campeonato do Mundo? Há explicação para estas tuas “qualidades”?

SV. Foi um jogo que me marcou muito. Gosto de pensar que no meu caso o excitamento perante o desafio se sobrepõe ao nervosismo de desempenhar. E assim pude olhar para cada bola, cada placagem, cada ruck como uma oportunidade de ouro para cumprir dever.

O que significa vestir a camisola de Portugal?

SV. Acima de tudo, é uma felicidade enorme. Sinto que ao vesti-la estou a representar os meus amigos, a minha família, e todo o estado Português. Penso que é a máxima responsabilidade que se pode ter.

Pelo CDUL (Foto: Luís Cabelo Fotografia)
Antes de entrares para dentro de campo há algum pensamento que te passa pela cabeça?

SV. Tento visualizar aspectos chave do jogo onde eu possa intervir, e penso em ganhar todas as minhas colisões. Se vier do banco, tento descobrir qual a melhor maneira de criar impacto no ritmo de jogo.

Achas possível Portugal voltar a um Mundial nos próximos anos? E o que temos de fazer para isso acontecer?

SV. Possível, tenho sempre que acreditar que sim. No entanto acho que é ainda muito cedo para falar em Mundial. Neste momento isso seria pôr a carroça à frente dos bois. Tal como as coisas estão, temos de pensar jogo a jogo, construir bases sólidas. Apesar de termos assegurado presença num jogo de qualificação em Maio, há que pensar primeiro nos jogos do Trophy, há que voltar a tentar subir para o grupo de cima, há que arranjar uma estrutura sólida. Só aí podemos começar a tentar dar forma física ao sonho…

Chegaste a jogar com o teu irmão? Quem puxou por quem para entrar para o rugby?

SV. Cheguei sim. Joguei com ele até aos sub-21 no CDUL, e depois contra ele no Sporting. Entrámos os dois ao mesmo tempo, ambos desafiados pelos amigos que já referi. Como fazemos apenas 1 ano de diferença, sempre nos acostumámos a fazer tudo juntos. E como ele também não tinha jeito para o ténis…

Umas perguntas rápidas: Sam Cane ou Michael Hooper? Ou nenhum dos dois?

SV. George Smith

Nova Zelândia, Austrália ou Inglaterra?

SV. Nova Zelândia

Jogador mais “chato” do plantel cdulista?

SV. Sou eu!

Melhor placador da Selecção Nacional dos últimos anos?

SV. Dos últimos anos Vasco Uva e Julien Bardy, actualmente Miguel Macedo e Vasco Ribeiro.

Um jogador-exemplo? E um colega que gostes de ter sempre ao teu lado dentro de campo?

SV. Exemplos tenho de dizer mais do que um; o Gonçalo Foro pela contínua procura dum patamar de excelência e o João Lino pela capacidade de liderar e coordenar. Ao meu lado gosto sempre de ter o Geordie Mcsullea, pelo seu “work rate” e capacidade de contagiar os que estão à volta.

Umas palavras para os adeptos do CDUL, de Portugal e do rugby em geral?

SV. Antes de mais, obrigado pelo apoio que demonstram. Sei que ás vezes podemos estar aquém das expectativas, mas peço que tenham fé no trabalho que se está a desenvolver com os jogadores e que remem todos na mesma direcção. Somos capazes de grandes feitos, e acreditem que só os queremos deixar orgulhosos!

O sonho do bicampeoanto é um objectivo de Sebastião Villax (Foto: JP Rugby)

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