Manuel C. Pinto. “Foi sempre um sonho e objectivo ser Lobo!”

Francisco IsaacAbril 10, 20189min0

Manuel C. Pinto. “Foi sempre um sonho e objectivo ser Lobo!”

Francisco IsaacAbril 10, 20189min0
O internacional português conta como começou a jogar rugby e o que lhe passou pela cabeça no ensaio contra a Roménia em 2017. Manuel Cardoso Pinto no Fair Play
Manuel, parabéns pela estreia na Selecção Nacional em Novembro passado… o teu pai está orgulhoso? Ou corrigiu-te e disse o que devias ter feito mais, mal chegaste a casa??

MCP. Ficou muito orgulhoso, sempre foi um sonho meu e claro que o meu pai, como ex-jogador e pai, também sonhou que um dia chegaria a Lobo, pois foi quem me incentivou e continua a incentivar a jogar rugby e a melhorar. Quando cheguei a casa o meu pai falou do ensaio e de outras jogadas que tinham corrido melhor, visto que gosta sempre de falar das coisas boas e deixar as menos boas para os treinadores.

Sempre foi um sonho teu jogador pela selecção Nacional? O que sentias quando vias a selecção a jogar?

MCP. Obviamente que sempre foi um dos meus sonhos e objectivos chegar a Lobo e no outro dia comentava com o Vasco Ribeiro antes dum jogo “antes víamos na televisão e eram os nossos exemplos, agora estamos aqui a jogar com eles” e é fantástico e por um lado estranho também, pois via-os a jogar com 13, 14 anos e perguntava-me sempre se um dia também jogaria ali.

O campeonato da Europa de sub-20 e o Mundial de Rugby “B” do mesmo escalão, foram provas que estas novas gerações têm um grande futuro? Qual foi o momento em que sentiram que eram uma equipa?

MCP. Ao longo dos estágios e treinos fomo-nos conhecendo melhor, mas dava para perceber que a geração de cima era muito ligada e tinham um espírito incrível, talvez pelo que foram alcançando ao longo dos anos como a vitória à Escócia, por exemplo e de certa forma isso contagiou-se para a geração de 98, ficando assim um espírito que senti poucas vezes na minha carreira de jogador, mas se tivesse que escolher um momento em que senti que realmente éramos uma equipa, foi no jogo contra a Roménia onde o sacrifício feito uns pelos os outros dentro de campo foi inigualável.

Aquele grande ensaio que marcaste contra a Roménia… como o consegues explicar? Foi aquilo que imaginaste quando agarraste a bola dentro da tua área de ensaio?

MCP. Nunca imaginei que só fosse parar à linha de ensaio contrária.. O que realmente se passou foi que eu agarrei na bola e entrei dentro da nossa área de ensaio de fora para dentro e toque de meta deixou de ser uma opção, restando 2 opções: correr ou chutar? Como eu prefiro sempre correr, decidi arriscar e foi engraçado porque da nossa linha de ensaio aos 22 metros, ouvia a minha equipa a gritar “chuta!” “não arrisques!”, dos 22 aos 40 já ninguém dizia nada e a partir dos 40 metros começou tudo a gritar “vai! Corre!”

Quais são as melhores qualidades dessa tua geração?

MCP. É a pergunta mais complicada que li aqui, mas diria o espírito de sacrifício que fizemos para atingir os resultados que atingimos, visto que com poucos jogos de preparação e alguns “fat clubs” (corrida para quem não cumpria os horários, níveis de ginásio, etc.) chegámos à final do Trophy e nada soube melhor do que aquelas vitórias depois de estágios e treinos no verão, foram sem dúvida alguma, os melhores momentos de rugby e da vida que já tive, foram no Europeu sub 20 e no Trophy, daí ser uma pergunta tão difícil porque estávamos bem a todos os níveis.

A marcar ensaios por Agronomia (Foto: José Vergueiro Fotografia)
Sempre foste um fanático pelo rugby, certo? O que mais gostavas de fazer quando começaste a treinar nos sub-10?

MCP. Gosto muito de rugby mas às vezes sabe bem desanuviar a cabeça e distrair-me com outras coisas para além de rugby para não saturar e a segunda pergunta é fácil, correr com a bola e ainda hoje é o que gosto mais de fazer.

Houve algum (ou mais que um) treinador que te influenciou no teu crescimento? E que qualidades demoraste mais tempo a desenvolver?

MCP. Todos os meus treinadores foram importantes, mas quando cheguei aos seniores fiquei com outro tipo de mentalidade em relação ao trabalho físico, psicológico e de skills, pela maneira como se encara os treinos e pelo compromisso que há e isso deveu-se muito ao “Pico” que foi o meu primeiro treinador senior, dando muito ênfase ao trabalho psicológico, instaurou rotinas e profissionalismo no clube, João Pedro Varela também me ajudou muito a melhorar os skills e a maneira como me focava no detalhe, quando era mais novo Demorei algum tempo a desenvolver a placagem e acho que ainda vou ter que perder mais algum a melhorá-la.

Dos teus amigos que começaram a jogar contigo ainda “resiste” algum? E com quem quiseste sempre muito jogar nos séniores e o conseguiste?

MCP. Resistem muitos ainda, mas claro que alguns vão acabando por desistir e também por não levar o rugby tão a sério, apenas ir treinando para não tarem parados, mas acho que a transição sub18 para senior é a mais difícil, pois o nível de exigência fica maior assim como o compromisso de ir aos treinos e ao ginásio. Sempre quis jogar com algum primo mas infelizmente não consegui, mas claro que olhava para o António Duarte, Gustavo Duarte, Duarte Cardoso Pinto, Duarte Cortes, etc, como símbolos do clube e hoje jogo com alguns deles mas temos uma equipa muito jovem, daí não restarem muitos. Quando eu nasci já jogava o Gustavo Duarte nos seniores e hoje jogo com ele.

A Agronomia voltou a conquistar troféus e tu já somas alguns… qual foi o mais especial para ti? E achas que têm capacidade de ganhar o Campeonato Nacional este ano?

MCP. Gostei muito de ganhar esta última supertaça contra o Cdul, pois a seguir à final do campeonato tínhamos que mostrar que estávamos outra vez focados nas vitórias e aquela foi muito importante para a nossa confiança. Sem dúvida, a equipa não sofreu grandes alterações e estamos no caminho certo para ganhar o Campeonato Nacional.

Achas que o rugby em Portugal voltou a crescer e a evoluir? O que é que podíamos fazer mais?

MCP. Acho que o campeonato, apesar de ainda um pouco desnivelado, cresceu muito a nível competitivo e basta olhar para a tabela classificativa dos primeiros 6 deste ano para perceber isso, apesar de claro, serem quase todas equipas de Lisboa, havendo grande disparidade no modo em como o rugby se desenvolve nas zonas do país, o investimento por parte dos clubes em jogadores estrangeiros, nos treinadores também ajudou a subir o nível e com os jogadores mais novos a aparecerem e a afirmarem-se nas equipas seniores.

Gostavas de tentar jogar fora de Portugal? E se sim, para que campeonato/país? Ou achas que ainda tens de melhorar alguma qualidade para atingires um patamar superior?

MCP. Sem dúvida, estou sempre a dizer que gostaria de arriscar numa experiência profissional, talvez quando acabar o curso ou mesmo a meio, mas sei que um dia vou tentar jogar para fora. Um sonho seria Austrália ou Nova Zelândia, mas não me importaria de ir para França, Inglaterra ou mesmo América do Sul, obviamente que ainda tenho que melhorar algumas qualidades, como a placagem, o jogo ao pé ou mesmo fisicamente e recuperar totalmente de alguns toques.

O que mais gostas de fazer dentro de campo? E que treinos fazes para seres tão bom a nível de skills?

MCP. Como já disse, correr com a bola, fintar, chutar para ir apanhar a bola, offloads, passes longos e de mãos rápidas, no fundo, tudo o que envolva ataque. Faço o treino normal que qualquer jogador na minha posição faz, 30 minutos antes do treino, agarro algumas bolas do ar, faço exercícios de 1 vs 1, “catch and pass” e claro o clássico “TOUCH” antes do treino começar que é das minhas partes preferidas.

Perguntas rápidas: o colega de selecção que não se cala? E quem é que tem esse “papel” em Agronomia?

MCP. De selecção, Nuno Mascarenhas ou Caetano Castelo Branco, dão um excelente ambiente ao grupo pelo bom humor que têm, de Agronomia o Fernando Almeida ou o Tomás Gonçalves que quando abrem a boca sei que me vou rir.

Melhor nº15 do Mundo: Israel Folau, Ben Smith ou Stuart Hogg? Ou há outro?

MCP. Desses 3 escolheria Stuart Hogg, mas o melhor é o Damian Mckenzie

Super Rugby ou Top 14?

MCP. Super Rugby

Tens de escolher uma: Arriscavas num 1 para 2 contra o António Duarte e Meli Rokua ou tentar passar por toda a equipa dos All Blacks?

MCP. Passar por toda a equipa dos All Blacks!

Jogo que pedirias para repetir?

MCP. A final do Trophy, Portugal vs Japão

Uma mensagem para a tua equipa, amigos, família e adeptos do rugby português?

MCP. Para a equipa espero que este ano seja com muitos títulos, para os amigos, desculpem se às vezes me “corto” nas sextas à noite, para a família, espero que tenham orgulho de ver os jogos e para os adeptos que continuem a seguir o rugby português e a contagiar este desporto pelos amigos, família,  etc.

No Safari 7’s 2016 (Foto: Arigi Obiero Photo)

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