José Diogo de Moraes. “A variante de VII está a crescer mais do que a variante de XV”

Francisco IsaacDezembro 24, 201713min0

José Diogo de Moraes. “A variante de VII está a crescer mais do que a variante de XV”

Francisco IsaacDezembro 24, 201713min0
Entrevista em exclusivo com o director da Sports Venture, empresa que vai trazer os Algarve 7's e os Junior7's já em 2018!
José Diogo de Moraes… a Sports Ventures surgiu para tentar mudar a cultura desportiva em Portugal? Qual é o vosso objetivo?

JDTM. A Sports Ventures gostaria muito de ajudar a mudar a cultura desportiva em Portugal mas essa não é a sua missão. Essa tarefa tem de ser assumida pelo Estado através da educação, do fomento do desporto nas escolas, na promoção e criação de melhores condições de acesso ao desporto quer de lazer quer de alta competição, na formação de treinadores adequadamente e também pelas famílias que têm de encarar o desporto como uma “ferramenta” muito importante na formação dos seus filhos e desenvolvimento do seu caráter.

Os jornalistas têm também uma função muito importante em mudar a cultura desportiva em Portugal. É inacreditável que nos 3 ou 4 principais canais televisivos nacionais e nos 3 diários desportivos fale-se 90% sobre futebol e sobre aspetos que nada têm a ver com o que se passa dentro de campo.

Neste momento estou no Brasil e é uma delicia ouvir um programa de televisão sobre futebol, fala-se exclusivamente sobre futebol, tática, condição física, estatísticas de equipas e jogadores, entrevistas com jogadores e treinadores. Infelizmente o oposto daquilo que assistimos no nosso País.

Para responder à tua pergunta o principal objetivo no surgimento da Sports Ventures é promover Portugal como um destino perfeito para organização de turismo e eventos desportivos. Um país onde temos todos os ingredientes necessários para ser talvez lideres mundiais: clima espetacular, segurança, estabilidade politica, económica e social, bons acessos aéreos dos principais aeroportos internacionais, excelentes infraestruturas desportivas, infraestruturas hoteleiras renovadas e de grande qualidade, relação preço-qualidade, gastronomia de referência e por último um fator em que somos campeões do mundo: a simpatia e a vontade de receber bem que nos visita.

A Sports Ventures surge também pela minha paixão pelo desporto no geral e a atividade económica do turismo, uma combinação perfeita e que tem de ser de uma vez por todas aproveitada pelo nosso Governo (Turismo de Portugal) e pelos municípios que por vezes detêm infraestruturas de topo mas que estão subutilizadas.

15% do turismo mundial é turismo diretamente relacionado com desporto (fonte: Organização Mundial do Turismo), quer sejam adeptos que vão assistir a um grande evento “sold-out” tipo FIFA World Cup e/ou UEFA Champions League quer sejam atletas e/ou equipas que viajam para realizar uma pré-temporada em Portugal porque nos seus países a temperatura é tao agreste que não permite a pratica desportiva outdoor.

O rugby é, sem dúvida alguma, uma das vossas maiores valências, mas porquê? E que eventos têm na “manga” para o público Nacional?

JDTM. apostamos em modalidades coletivas nomeadamente futebol, basquetebol, rugby, hóquei em campo, lacrosse assim como em modalidades individuais tipo ténis, atletismo, triatlo, todas elas modalidades que têm por tradição realizar estágios e/ou tours desportivos de inverno e/ou verão. O rugby é uma das modalidades, no meu caso pessoal a mais querida por razões óbvias.    

O Lisbon Junior 7’s vai marcar a diferença em termos de evento? Porquê apostar nesta variante?

R: É indiscutível que a variante de VII está a crescer mais do que a variante de XV. Goste-se ou não se goste, negar esta constatação é estar fora da realidade. A World Rugby está a fazer uma aposta clara nos Sevens para desenvolver e promover o rugby a nível mundial e comercialmente é uma variante muito mais fácil de trabalhar e de “vender”. Portugal já esteve no mapa dos sevens, agora infelizmente anda muito longe da ribalta porque a atual direção da FPR cometeu diversos erros de palmatoria e permitiu o impensável acontecer. A Sports Ventures está a procurar fazer a sua quota parte para ajudar a podermos voltar a colocar Portugal no mapa dos sevens. Para isso temos de começar nas bases e no rugby juvenil. Em Inglaterra por exemplo o HSBC School Sevens junta todos os anos no Rosslyn Park RFC  mais de 600 equipas de escolas e/ou clubes durante uma semana a jogar nesta variante. O LISBON JUNIOR 7S pretende vir a ser uma referencia e um torneio internacional de referencia onde os clubes nacionais possam competir com algumas equipas internacionais.   

Que equipas de grande “porte” já estão confirmadas para a competição? E como é que ela se vai desenrolar?

JDTM. O LISBON JUNIOR 7S vai disputar-se no complexo desportivo de Agronomia na Tapada da Ajuda na variante de sevens e nos escalões de sub14, sub16 e sub18. Existe um website exclusivamente dedicado a este evento www.junior7s.com e todos os clubes que desejem participar podem inscrever-se pelo website ou via email para [email protected] Em cada escalão participarão 16 equipas divididas em 04 grupos de 04 equipas cada.

No primeiro dia do torneio (24 de Março) será disputada a fase de grupos onde cada equipa fará um mínimo de 3 jogos e no segundo dia (25 de Março) serão disputados os play-offs e finais das diversas taças em disputa. Ainda estamos na fase das inscrições mas o torneio faz parte do calendário oficial de provas da FPR sendo portanto expectável que participem os principais clubes nacionais de norte a sul e diversas equipas estrangeiras como por exemplo a Merchiston College (Escócia), Milton Abbey (Inglaterra), Mount St Marys (Inglaterra), London Wasps Academy (Inglaterra), Clube Argentino (Argentina) e mais alguns clubes e escolas estrangeiros que estão ainda a planear e a decidir se vão participar nesta edição inaugural.

Para este ano queremos essencialmente que seja um torneio bem organizado e que seja encarado seriamente pela formação dos clubes nacionais. Deste torneio sairá a primeira seleção de convites de sub18 dos NAVIGATORS, um projeto e uma nova equipa de convites nacional que estamos a formar e que irá participar no HSBC Rosslyn Park School Sevens 2019.

Vocês já têm sido responsáveis pela vinda de alguma equipas de 7’s juvenis, correcto? Como tem sido a experiência para vocês e para os clubes portugueses?

JDTM. 2017 foi o ano zero da Sports Ventures e correu acima de nossas melhores expectativas. Tivemos mais de 50 tours internacionais realizados em Portugal e Espanha, 30% dos quais na modalidade rugby nas variantes de XV e VII. Estes tours internacionais são a única oportunidade que os nossos clubes têm de se “testar” com equipas de outros países. A grande maioria dos clubes não reúne as condições mínimas financeiras para realizar tours internacionais pelo que a nossa atividade traz benefícios diretos desportivos para as equipas de rugby portuguesas jogarem a outro nível sem qualquer custo.

A nossa formação sofre problemas terríveis atualmente no que diz respeito às condições oferecidas pela FPR, os resultados desportivos muito positivos dos nossos sub18 e sub20 apenas se devem a uma “colheita” de excelentes jogadores bem orientados pelos seus treinadores no campo mas cujo trabalho se irá inevitavelmente perder na transição para o rugby sénior face ao marasmo em que encontra o rugby nacional.

Urge portanto fazerem-se mudanças profundas na FPR nas pedras basilares em que deve assentar um projeto solido para o rugby nacional: captação e desenvolvimento, formação (treinadores e árbitros), plano de competições com um modelo português original e por ultimo e talvez o mais urgente uma estratégia de marketing, comercial e de relações públicas com um executivo full-time e bem remunerado, caso contrário, e perdoa-me o inglesismo “pay bananas get monkeys”!      

Achas que os torneios juvenis são uma forma de criar outras raízes na modalidade?

JDTM. Tenho a certeza que sim. O Portugal Rugby Youth Festival, do qual fui um dos seus fundadores, uma ideia “importada” por mim dos meus tempos na Escócia, é já um marco no calendário do rugby juvenil português e atrevo-me a dizer que muitos dos jovens preferem ganhar este torneio internacional ao campeonato nacional do seu escalão. O rugby tem de ser trabalhado como um “produto”, os jovens hoje em dia são “inundados” diariamente pelos infinitos meios de informação digitais com novos produtos concorrentes, novos desportos, atividades, viagens à neve, etc. É preciso trabalhar os pontos fortes, fracos, ameaças e oportunidades da modalidade e criar um programa anual dinâmico, moderno, apelativo que os motive e “agarre” à modalidade de forma a reduzir o “drop-out” gigante que há de atletas na transição júnior para sénior. Enquanto isso não for feito não teremos a tal profundidade de jogadores fundamental para termos seleções seniores competitivas.  

DJ Forbes a caminho dos Algarve 7”s (Foto: Algarve 7’s)
Falando em 7’s mas agora sobre graúdos, vêm aí os Algarve 7’s? É uma forma de reviver a variante que parece estar algo “adormecida”?

JDTM. sem duvida, tal como no LISBON JUNIOR 7s, a ideia é colocar os holofotes nos sevens porque é, para mim, onde Portugal pode destacar-se mais facilmente. Portugal e a região do Algarve em particular tem todos os ingredientes para acomodar um torneio de sevens top. A visão da Sports Ventures para este evento é torna-lo no prazo máximo de 3 anos no principal torneio se sevens mundial (extra-circuito mundial).   

Como vai ser a competição? E já agora há algum tipo de “ajudas” ou pacotes para os que simplesmente só querem ver os jogos?

JDTM. Vão existir as seguintes competições:

           Elite Masculinos – 12 equipas

           Open Masculinos – 16 equipas

           Open Femininos – 08 equipas

           Vets (+35) – 13-a-side – 08 equipas

Para as equipas temos pacotes de inscrição que incluem:

           Pacote 1:  participação apenas (sem alojamento)

           Pacote 2:  participação com 1, 2 ou 3 noites de hotel

Para os adeptos que quiserem ir ao Algarve assistir ao Algarve 7s a entrada é gratuita e o Estádio Municipal de Vila Real de Santo António conta com uma bancada com lotação até 3000 lugares onde o sol glorioso do Algarve é garantido. Os “side events” que ajudarão a tornar Vila Real de Santo António na capital do rugby nacional por 2 dias também estão a ser preparados com a festa de boas vindas ALGARVE 7s BEACH PARTY na 6ª Feira (01 de Junho) e no Sábado (02 de Junho) a ALGARVE 7s SATURDAY NIGHT PARTY. No Sábado antes da festa haverá ainda um jantar de gala mais restrito para a entrega dos SV RUGBY AWARDS do rugby português aos melhores atletas, clubes e treinadores da temporada 2017/2018. Um fim de semana de muito rugby, sol e diversão!  

Quem é que vem aí de surpresa? Ouvimos dizer que vem um DJ altamente reputado mas que não é para meter música!

JDTM. Temos já diversas equipas e jogadores confirmados sendo de destacar os Samurai International, Worcester Warriors, New Zealand Metro, French Maccabi, Portugal VII, Navigators VII, Durham University entre outros.  Entre os jogadores teremos muitos internacionais conhecidos e que jogam ou jogaram no circuito mundial tais como Sherwin Stowers, o “nosso” Pedro Leal e o DJ Forbes, o jogador de sevens mais internacional de sempre e ex-capitão dos All Blacks 7s. Temos mais algumas equipas e atletas que estamos a trabalhar mas preferimos ir anunciando ao longo do tempo e claro tudo depende do caderno de encargos e orçamento e apoios disponíveis que formos angariando.   

Falando um pouco sobre ti… sempre foste uma pessoa ligada ao desporto? Praticaste alguma modalidade?

JDTM. Sim, desde cedo pratiquei muito desporto, desde os 08 anos influenciado pelo meu irmão mais velho entrei para o rugby e nunca mais deixei. Foram mais de 20 anos a jogar, em Portugal joguei no CF Os Belenenses (12 anos) e Cdul (3 anos) e nos cerca de 4 anos que vivi na Escócia joguei pelo Stirling County RFC (1 ano) e pelo Stewart´s Melville RFC (3 anos).  

Porquê o rugby? O que é te atrai tanto na modalidade?

JDTM. O rugby atual é uma modalidade completamente diferente daquela que eu pratiquei em todos os aspetos. Apesar de ter algumas saudades do rugby amador e daquilo que nos unia, a minha veia profissional faz-me adorar esta fase do rugby profissional e comercial. Penso no entanto que a World Rugby está a cometer muitos erros e a caminha em passos largos para se tornar numa organização pesada, burocrática e dominada pelos “mesmos de sempre” ao estilo da FIFA.

Tinha esperança que a presença de pessoas como o Argentino Agustin Pichot na equipa executiva pudesse contrariar essa tendência mas assim não parece tendo em conta as decisões mais recentes nomeadamente a atribuição do próximo mundial à França mais uma vez.

Achas que a modalidade pode voltar a atingir o “nome” que teve em 2007? É um dos teus objectivos na Sports Ventures?

JDTM. A Sports Ventures nada pode fazer pela modalidade. Essa missão cabe à FPR e aos Clubes nacionais. O Rugby nacional para poder atingir os níveis de competitividade de 2007 e poder voltar a pensar em estar presente num mundial precisa de executar um “turnaround” profundo na FPR e na mentalidade dos seus dirigentes. Para responder à tua questão, estou muito céptico, não vejo as mínimas condições para isso acontecer nos próximos tempos.

Melhor evento que já assististe ao vivo?

JDTM. Jogo de College Basketball UNC State vs UNC Tar Heels (Derby local). Melhor ambiente que já assisti em algum evento desportivo.

Melhor evento que organizaste?

JDTM. Football for Friendship 2016 by Gazprom (Milan): Event Project Manager http://www.gazprom.com/press/news/2016/may/article275289/

Treinador e Jogador que mais te impressionaram nas tuas viagens?

JDTM. Treinador: Chas Ferris (North Harbour, NZ Maoris, Cdul); Jogador: Justin Marshall

Uma mensagem para o rugby português e para o que aí vem?

JDTM. Esperança e aprender com os erros. Não esquecer o que nos levou a esta encruzilhada, não colocar nunca interesses pessoais nem de nenhum clube acima dos interesses do rugby nacional.

José Diogo de Moraes na apresentação dos Algarve 7’s (Foto: Algarve 7’s)

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