Arquivo de FP+ - Página 2 de 87 - Fair Play

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Francisco IsaacJaneiro 2, 20244min0

O Sporting Clube de Portugal tem completado uma série de grandes transferências nos últimos 7 ou 8 anos, desde Pedro Porro, Nuno Mendes, Bruno Fernandes, Matheus Nunes, Manuel Ugarte, entre outros, demonstrando a classe do clube leonino enquanto bom potencializador de atletas. No top-10 estão estes nomes todos e mais um, o de Islam Slimani. O argelino chegou a Alvalade no Verão de 2013 vindo do emblema argelino CR Belouizdad a troco de uns meros 300 mil euros, sendo que era um perfeito desconhecido para a larga maioria dos adeptos portugueses ou mesmo internacionais.

Quando Slimani chegou a Lisboa circulava um discurso de constantes dúvidas em redor do argelino, desde dúvidas se era realmente um bom finalizador; se tinha sequer qualidade para actuar fora da grande-área; e se era um jogador de pés “quadrados”, carecendo de talento para circular a redonda. A verdade é que passado uns poucos anos, o ponta-de-lança não só melhorou todo o seu reportório enquanto goleador, como cresceu no domínio do esférico e no fazer a equipa jogar, realizando 20 assistências no decorrer dos 100 jogos realizados de “leão” ao peito. Mas vamos por partes.

Na temporada 2013/2014, Slimani demorou a “pegar”, com o seu primeiro jogo com titular a chegar em Dezembro de 2013 frente ao CD Nacional. Antes já tinha se estreado a marcar no campeonato com um golo frente ao CS Marítimo, que ditou uma vitória por 3-2 para os verde-e-brancos. A titularidade implacável veio na recta final da época, a começar no dia 1 de Março, nunca mais perdendo o estatuto de ponta-de-lança chave dos “leões”. No Verão de 2014 ajudou a Argélia a chegar aos oitavos-de-final do Mundial de futebol, marcando 2 golos e assistindo para outro, um marco histórico para o futebol deste país do norte de África. A valorização do ponta-de-lança subiu e na temporada seguinte voltou a deslumbrar, aplicando 15 golos em 27 jogos, ajudando os “leões” a conquistar a Taça de Portugal frente ao SC Braga, numa final memorável.

Mas a época em que brilhou com mais força foi a de 2015/2016, que acabaria por forçar ao Leicester abrir os cordões à bolsa e pagar cerca de 31M€ pelo avançado. Em 45 jogos (38 como titular), Slimani atirou acertadamente para o fundo-das-redes por 31 vezes, conseguindo ainda seis assistências e terminar como um dos MVPs da temporada, e o segundo melhor marcador na Primeira Liga, só atrás de Jonas. Slimani era uma ameaça na área, que com uma nesga de espaço era capaz de fazer dano na baliza contrária, assumindo um protagonismo titânico na equipa então treinada por Jorge Jesus.

Aquele argelino que foi apelidado de “tosco” quando chegou em 2013, tinha se tornado num sofisticado avançado que podia tanto enviar o esférico com violência para dentro das redes, como fazer um drible genial e meter a bola perfeitinha nos pés de um colega de equipa. Com a época de 2015/2016 a começar, o Leicester acabou por avançar com 31M€ e arrancou-o de Alvalade, com os “leões” a encherem os cofres com um jogador que tinha custado uns meros 300 mil euros em 2013. Uma aposta de estrondoso sucesso e que abanou com várias críticos que tinham classificado Slimani como um jogador sem qualidade para estar em Portugal, não esperando para ver no que ia dar.

Olhando para aquele Verão de 2013, muitos recordarão como alguns adeptos diziam que “Ghilas é que foi uma contratação de topo e que Slimani é apenas um clone pobre” ou que “Slimani? Nunca jogou na Europa, tem lá talento para jogar cá.”, frases que hoje estão no panteão das piores previsões possíveis dessas temporadas do futebol português. Slimani cravejou uma carreira de sucessos, com conquistas em Portugal, uma ida positiva até Inglaterra e França, atingido um total de 150 golos desde que chegou à Europa com 25 anos.

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Francisco IsaacDezembro 12, 20234min0

Nesta rubrica vamos visitar o contrário do “Flop”, ou seja, jogadores que chegaram a Portugal sem grande espalhafato e conseguiram não só se afirmar como foram preponderantes para o sucesso das suas equipas, caso de Hulk, Angel Di Maria ou Islam Slimani. 

Givanildo Vieira de Souza, mais comumente conhecido por “Hulk“, é ainda um dos jogadores brasileiros mais decisivos dos últimos 10 anos, tendo marcado 399 golos como atleta sénior no decurso de uma temporada carregada de títulos, troféus e recordes. Mas em 2008/2009 poucos eram aqueles que conheciam o então reforço de Verão do FC Porto, e ainda eram menos aqueles que apostavam numa carreira de sucesso ao serviço do clube da Invicta, com a maioria até a ridicularizar o facto de ter vindo do Japão. A verdade é que após quatro temporadas, Hulk tornou-se uma referência e um dos principais destaques da equipa, tanto pelos golos memoráveis que marcou, como pelas assistências e jogadas mirabolante que criava e os títulos que ajudou a levantar.

No Verão de 2008, Jesualdo Ferreira receberia um reforço para o ataque no fim de Julho, com Hulk a assinar contrato por 4 anos a troco de 5,5M€ por 50% do passe com várias sobrancelhas a se levantarem perante esta decisão. O que é que a direcção do FC Porto (na altura nos seus últimos momentos de glória) saberia que a maioria do público não? O caminho do extremo começou de forma “calma”, aparecendo uns quantos minutos aqui e ali. No seu primeiro jogo para a Primeira Liga marcou um golo que fez barulho até nos Clérigos, levantado o público do Dragão em total apogeu.

Força, velocidade, poder de explosão, genica e pormenores técnicos geniais, eram os ingredientes que o brasileiro ia mostrando mas que ainda assim não era suficiente para convencer o público… ou Jesualdo Ferreira. Hulk só seria titular pela primeira vez em finais de Outubro de 2008, jogando 90 minutos na derrota por 2-3 frente ao Leixões. A partir daí, nunca mais deixou o 11 e terminaria a temporada com 9 golos marcados e 10 assistências, isto no decurso de 40 jogos, alguns dos quais decididos pelo seu jeito especial de dominar a defesa contrária. Dobradinha logo no ano de estreia, nada melhor para quem era um perfeito desconhecido.

Do gozo de ter um nome de super-herói e de ter vindo do Japão sem grande reputação (até porque o Verdy estava na 2ª divisão da J-League), Hulk lutou para conquistar o seu espaço no clube, convencendo Jesualdo Ferreira e a se tornar um dos principais activos da equipa. Na época seguinte, voltou a assinar número extraordinários apesar de ter sido suspenso na liga (a situação do “Túnel”), com 10 golos e 12 assistência isto em 30 jogos. Givanildo de Souza ia galgando foco de interesse e apoio, surgindo sempre como um dos principais perigos do ataque do FC Porto, com aquela volatilidade técnica e agressividade física a serem armas fulcrais.

Mas foi em 2010/2011 que tudo atingiu outro patamar e o “ás” inesperado ganhou um lugar entre os principais pergaminhos do futebol português. Depois de uma época em que praticamente não jogou metade dos encontros do FC Porto, Hulk decidiu subir dois níveis e começou logo com um clássico inesquecível ante o SL Benfica. 5-0, dois golos do Incrível e duas assistências também, calando aqueles que ainda duvidavam da sua qualidade.

Liderados por André Villas-Boas, o FC Porto conquistou todos os títulos nessa época, com uma Liga Europa a surgir também debaixo do braço dos vencedores. Hulk “só” fez 35 golos e 32 assistências, números que só Lionel Messi, Cristiano Ronaldo e mais uns poucos conseguiram nos últimos 20 anos. Um sucesso de larga escala e que merecia ter ido para outras paragens, mas que o futebol quis que fosse para a Rússia e China, dois campeonatos mais “esquecidos”.

Sim, no fim de contas Hulk acabaria por custar praticamente 20M€ ao clube, mas foi vendido, na altura, por um valor altíssimo para os cofres dos azuis-e-brancos, lembrando que chegou como um perfeito desconhecido naquele Julho de 2008. Reinou com a mesma preponderância por todos os clubes que passou, ajudando o Zenit, SIPG e Atlético Mineiro a conquistarem troféus e com 49 jogos pela canarinha. Quando está nos últimos anos de carreira, o extremo-avançado está prestes a passar a marcar dos 400 golos, algo que só está ao alcance de uns quantos.

Uma das melhores cartadas inesperadas de sempre por um clube português…


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