Depressão em atletas de elite – algo cada vez mais comum

Thiago MacielMarço 16, 20217min1

Depressão em atletas de elite – algo cada vez mais comum

Thiago MacielMarço 16, 20217min1
Depressão é um dos mais comuns transtornos mentais no mundo e nos últimos anos os números de atletas de elite afetados vem aumentando cada vez mais.

No último dia 06 de fevereiro, o atacante uruguaio Morro García, que estava no Godoy Cruz, da Argentina, foi encontrado morto em seu apartamento e os indícios policiais apontam o caso como de suicídio. O jogador, que estava recebendo tratamento psiquiátrico, foi afastado do resto do plantel para focar na sua saúde.
O caso acima é só mais um em vários casos de depressão entre atletas ao longo dos anos.

O que é depressão?

A depressão é um problema médico caracterizado por continuada alteração no humor e falta de interesse em atividades prazerosas. O estado depressivo se diferencia do comportamento “triste” ou melancólico por ser uma condição duradoura de origem neurológica acompanhada de vários sintomas específicos.

É o resultado de uma alteração dos neurotransmissores no Sistema Nervoso Central- SNC. Neurotransmissores são substâncias responsáveis pelas trocas de informações do SNC: Endorfina, Serotonina. Graças aos neurotransmissores temos: emoções, sentimentos, prazer. É doença e tem tratamento. Diversos estudos já constataram os efeitos antidepressivos dos exercícios físicos, contudo a depressão pode afetar também os atletas.

Depressão e esportes de elite

Atletas de elite são vistos, de forma estereotipada, como “vivendo no mundo dos sonhos”, viajando pelo mundo, ganhando muito dinheiro para jogar, ficando em hotéis 5 estrelas. Entretanto, usando como exemplo uma frase dita por Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, onde o mesmo disse que era um bom treinador, mas um péssimo pai, marido, esposo, e nos mostrando que o mundo dos esportes não vive numa bolha separada de todo um resto.
Apesar de ser um estilo de vida considerado luxuoso, com todas a necessidades fora de campo atendidas, muitos atletas passam o ano inteiro fora de suas casas, longe de suas famílias, simplesmente indo de hotel em hotel, instalação após outra. Analisando bem, isso não é uma maneira natural de se viver, criando tensões extraordinárias para os jogadores, que podem levar desde alcoolismo até transtornos mentais.

Outra questão a considerar é o simples fato de os atletas serem pessoas como qualquer uma outra e sendo assim propensos a adquirirem depressão ou transtornos mentais.

Psicólogos dos esportes, atualmente, propõe, fundamentalmente, que os atletas precisam de um acompanhamento da sua vida fora do ambiente esportivo. É imperativo olhar o atleta como uma pessoa comum, antes do atleta em si.
Mais importante, ainda, é preciso continuar a remover tais estigmas ligados a doenças mentais para encorajar positivamente os atletas a reconhecerem seus sintomas, tomarem uma atitude para o tratamento e da um passo importante para a recuperação. Muitos atletas ainda escondem seus transtornos, até por preconceito, como o fato de por serem ídolos não estarem sujeitos a depressão ou demais transtornos.

Com um acompanhamento completo aos atletas de elite, dentro de suas famílias e clubes, há esperança de se entender porque a depressão nos atletas de elite ocorre e e dar um passo importante para a prevenção.

Alguns casos de atletas de alto nível que sofreram com a doença

A depressão atinge mais de 300 milhões de seres humanos em todo o planeta, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) referentes ao ano de 2015. O número de pessoas com algum tipo de transtorno de ansiedade, por sua vez, chega a 267 milhões. E segundo a organização, até 2020, a depressão será a doença mais incapacitante de todas.

No esporte, não é diferente. Atletas de alto rendimento, apesar de parecerem muitas vezes inacessíveis e até passarem uma imagem de super-heróis ou super-heroínas, estão sujeitos a tais transtornos.

Michael Phelps é o que podemos considerar uma lenda viva. Dono de 23 medalhas de ouro em Olimpíadas – além de três pratas e dois bronzes, é o atleta que mais vezes subiu ao pódio na história dos Jogos Olímpicos. Além disso, também é o ser humano que conquistou mais ouros numa mesma edição da competição, tendo sido oito vezes campeão de provas de natação em Pequim-2008.
Mas nem tudo foram flores para o nadador. Numa conferência de saúde mental realizada em Chicago, Phelps contou sua história e afirmou que pensou em tirar a própria vida, especialmente após Londres-2012, quando chegou a anunciar sua aposentadoria das piscinas, afirmando que chegava a passar entre três e cinco dias trancado em seu quarto, sem se alimentar e praticamente não dormindo.

“A pior queda foi depois dos Jogos de 2012. Eu não queria mais estar no esporte, não queria mais estar vivo”

Apesar disso, no mesmo evento, realizado em janeiro deste ano, o estadunidense comemorou o fato de ter – com ajuda de tratamento psicológico – se afastar da doença.

Michael Phelps… por detrás do sucesso, a depressão (Foto: Getty Images)

A trajetória de Robert Enke no futebol terminou em 2009, quando o goleiro alemão tirou a própria vida. Como forma de mostrar que a depressão não tem forma, o suicídio foi a saída do arqueiro justamente num dos momentos em que vivia uma boa fase no Hannover 96, clube em que fez história, e era candidato a ser o titular da Seleção Alemã na Copa do Mundo de 2010.

Jogadores NBA

O episódio de Kyre Irving é o mais emblemático, ao se apresentar ao Brooklyn Nets, o armador comentou que teve muitos problemas nos Celtics, devido a morte do seu avô. Segundo Kyrie, ele não soube como lidar com a perda de alguém tão querido e, principalmente, não procurou terapia para saber como fazer. Sem cuidar da sua saúde mental, perdeu a alegria que sentia ao jogar basquete e, consequentemente, não conseguiu se dedicar integralmente a seus companheiros como o líder que deveria ter sido.

Kyre Irving não teve acompanhamento para lidar com a perda de um ente querido (Foto: Getty Images)

Kevin Love, que teve um ataque de pânico durante jogo, e DeRozan já relataram problemas com depressão. Paul Pierce já afirmou que desenvolveu problemas para estar em multidões após ser esfaqueado onze vezes e jogar a temporada normalmente em 2000.

Combate e cura

O que todos têm em comum? Nenhum deles fez uma pausa na temporada para se recuperar como fariam com qualquer lesão física. E questões mentais deveriam ser tratadas com a mesma seriedade das físicas. A pressão por eficiência, geralmente, não caminha junto a infraestrutura e ao auxílio à saúde dos esportistas de alto rendimento.
É preciso acabar com essa cultura de que pessoas que lidam com problemas de saúde mental como a depressão são mais ‘fracas’ que as outras e, portanto, não tem condições de ser um atleta profissional.

Ou que quem demonstra sentimentos e vulnerabilidades é menos focado e tem menos chances de ser um grande jogador do que aqueles que, muito provavelmente, preferem esconder seus problemas em cargas excessivas de trabalho.

Precisamos parar de tratar os jogadores como robôs programados para jogarem basquete – ou futebol ou futebol americano ou qualquer esporte – e os tratarmos com o que são de verdade: seres humanos com problemas como eu, você e qualquer outro.


One comment

  • Val

    Março 18, 2021 at 5:43 pm

    Achei muito interessante o artigo pois muitas pessoas acham que os atletas não sofrem desse problema.

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