Arquivo de Jack Kramer - Fair Play

André Dias PereiraFevereiro 27, 20193min0

Sobre Helen Wills, tenistas famosos como Don Budge, Jack Kramer ou Harry Hopman, disseram que foi a maior tenista feminina da história. Eram outros tempos. De uma forma ou de outra os feitos da norte americana são lendários

Ao todo, Helen Moody foi número um mundial por nove anos (1927-33, e 1935 e 1938), conquistando 19 títulos. Ela foi também a primeira tenista a tornar-se estrela mundial. Privou com a realeza, estrelas de cinema, entre outras celebridades.

Nascida em 1905, em Centerville, próximo de São Francisco (EUA), começou por tomar contato com ténis aos 8 anos. Foi quando o pai, um físico, lhe ofereceu uma raquete de ténis. Começou a praticar e a ver jogos de algumas referências da época: May Sutton, Bill Johnson ou Maurice McLoughin. Foi já em 1919 que entrou no Clube de Ténis de Berkeley, como junior. O contato com a tetra-campeã do US Championships (prova que antecedeu o US Open), Hazel Hotchkiss Wightman, foi determinante. Foi aí que desenvolveu o seu jogo de pés, o serviço e entendimento táctico.

O seu ciclo vitorioso começou em 1921. Diante Helen Becker venceu o campeonato da Califórnia, em singulares e pares. Ainda nesse ano, e com apenas 17 de idade, tornou-se a mais jovem, à época, a conquistar o US Girls Championship. Um prenúncio para o que viria.

A partir de 1924, Moody ganhou notoriedade nacional e global. Não apenas revalidou o título do US Open – vencido pela primeira vez no ano anterior – como conquistou também o ouro olímpico, em Paris. Tanto em singulares como em pares.

O seu domínio nos courts traduziam-se em números. Entre 1919 e 1938, conquistou 398 vitórias contra 35 derrotas. Helen teve ainda 158 vitórias sem perder um único set. Dos 24 Major em que participou, venceu sete vezes o US Open, oito Wimbledon e quatro Roland Garros.

De ‘Poker Face’ a ‘Rainha Helen’

Em 1924, Kitty Godfree impôs a única derrota da norte-americana em Wimbledon. Helen Wills era uma pessoa introvertida e que raramente mostrava emoções no court. Godfree disse mesmo que Wills era tão reservada e com uma auto-estima tão baixa que parecia estranha. Talvez por isso tenha ganho a alcunha de “Little Miss Poker Face”. Contudo, à medida que a sua popularidade crescia, ganhou outras alcunhas como “Rainha Helen”, ou “Imperatriz Helen”.

A sua popularidade extravasava os EUA. Em 1926, na única vez que jogou com hexa-campeã de Wimbledon, Suzanne Lenglen, os preços inflacionaram e o recinto esgotou. Até as janelas das casas em volta do recinto, em Cannes, tinham adeptos. A francesa acabaria por vencer.

A rivalidade entre ambas tornou-se lendária. Mas Elizabeth Ryan, que jogou contra as duas, considera Helen melhor. Por ter mais recursos, dominar todo o tipo de pancadas e saber quando usá-las. “Ela jogava bem com as duas mãos, tinha um óptimo serviço e um instinto matador”, disse George Lott, vencedor de 12 Major.

Também inesquecível foi a “batalha de sexos”, contra Phil Neer, número 8 do ranking dos EUA. Helen acabaria por vencer por 6-3 e 6-4, num dos raros jogos singulares entre jogadores de sexos opostos.

Helen Wills também impôs tendência na forma como se vestia, optando por saias mais curtas que o habitual. Em São Francisco tem um busto em sua homenagem. Morreu, com 92 anos, em 1998

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André Dias PereiraOutubro 4, 20183min0

Se há tenista que impactou o ténis dentro e fora dos courts, essa personalidade foi Jack Kramer. O norte-americano foi número 1 mundial em 1946, somou 35 títulos, entre os quais três Grand Slam. Mas foi o seu papel fora dos courts que deixou o nome para sempre ligado à modalidade. Ele foi um dos principais rostos da transformação da Era amadora para a Era profissional (Open), que aconteceu em 1968. Em 1972 ajudou a construír a Associação de Ténis Profissional (ATP) e tem o seu nome associado a uma das raquetes de ténis mais icónicas da história.

Mas vamos por partes. A ligação de Jack Kramer ao ténis começou ainda em criança. Apaixonado também por basquetebol, aos 13 anos, quando seus pais se mudaram para San Bernardino, Califórnia, Kramer concentrou-se exclusivamente no ténis, após ver um jogo de Henrry Ellworth Vines Jr.

No seu percurso amador começou por jogar na escola, mas as suas habilidades levaram-no rapidamente para Montebello, no sul da Califórnia, para jogar no LACT e no clube de ténis de Beverlly Hills. Ali jogou com nomes grandes como Ellsworth Vines, Bobby Riggs ou Bill Tilden. No final da década de 30 venceu vários torneios juniores, entre os quais o campeonato nacional da categoria.

Kramer completou, entre 1938 e 1947, sete Campeonatos Nacionais dos EUA. O seu primeiro Grand Slam foi em 1946, em Wimbledon. Nesse ano, acabaria por vencer o seu primeiro Major: US Open. Mas não se pense que foi fácil. Até chegar aqui, Kramer enfrentou várias adversidades. Uma apendicite afastou-o de dois torneios nacionais, também desenvolveu bolhas, entre outros obstáculos que adiaram o seu primeiro grande troféu.

Em 1947 voltaria a repetir esse feito, juntando ainda a vitória em Wimbledon. O seu sucesso levou-o a integrar a equipa norte-americana para a Taça Davis, vencendo nos anos 1946 e 1947. Em duplas, venceu quatro vezes o US Open (1940, 1941, 1943 e 1947) e duas Wimbledon (1946 e 1947).

O seu estilo de jogo agressivo, habilidade e equilíbrio levaram-no a número 1 mundial, em 1946.

O profissionalismo chegou em 1947, assinando um contrato de 50 mil dólares por ano. A sua estreia foi com Bob Riggs, no Madison Square Garden perante mais de 15 mil espectadores. Juntamente com Riggs, os dois convenceram outros nomes importantes a priorizarem o profissionalismo.

O impacto Jack Kramer

A mudança para o profissionalismo e a promoção do mesmo tinha por base uma visão. A de que o ténis amador não era sustentável. Por isso, convidou vários tenistas de outros países a jogarem no Madison Squere Garden. Em 1954 aposentou-se dos courts, mas não do ténis. Juntamente com Donald Dell e Cliff Drysdale, fundaram o ATP, em 1972.

Kramer foi ainda pioneiro do Grand Prix, um conjunto de torneios Master que viria, mais tarde, tornar-se na Masters Cup

Paralelamente, Kramer era um reputado comentador da BBC. Também deu nome a uma raquete de ténis da Wilson. A raquete Jack Kramer Wilson, lançada em 1948, foi a mais vendida da história, somando mais de 20 milhões de unidades.

Jack Kramer morreu em 2009, vítima de cancro. Tinha 88 anos de idade.

Jack Kramer. A vitória em Wimbledon, em 1947


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