Tudo pronto para o Final Four da NCAA
Estamos na iminência do auge do circuito universitário norte-americano de basquete feminino. O torneio nacional da NCAA encontra-se a duas datas de encerrar seu calendário e premiar a universidade campeã. Desde o dia 15 de março, disputa-se o March Madness: as 64 melhores equipes do país foram divididas em quatro regiões, dentro de qual receberam um ranking de 1 a 16. Disputam o Final Four as universidades vencedoras de cada uma das quatro regiões.
O torneio da NCAA reuniu as 32 campeãs das conferências e distribuiu 32 convites (pautado em critérios como campanha, dificuldade do calendário etc) para completar o elenco. Não poderia haver formato mais simples e mais propenso a surpresas – venceu, avança; perdeu, está eliminado. Para uma modalidade com considerável menos publicidade, o torneio nacional configura-se no cume da temporada, onde as estrelas brilham, underdogs surpreendem e somente uma universidade ergue o troféu máximo.
É tradição aparecer uma história de Cinderela, do patinho feio e pouco valorizado que cresce na hora mais importante e chega até etapas avançadas. Neste ano, Miami ocupou esse posto, ficando a uma partida do Final Four. Ranqueada na nona posição na sua região, a universidade venceu três partidas contra times melhores ranqueados, incluindo Indiana, a favorita da região. A eliminação veio perante LSU (Louisiana State University), num jogo de muita defesa e placar baixo – 42 x 54.
LSU chegou ao Final Four desta NCAA já no segundo ano da lendária técnica Kim Mulkey, etapa não alcançada desde 2008. Mulkey impôs seu estilo defensivo e de posse de bola, ancorado no impressionante talento da pivô Angel Reese. Apesar da precocidade do resultado, o time almeja mais e quer finalmente conquistar o inédito título. Reese assumiu a liderança em quadra, ao lado da armadora Alexis Morris, com média de duplo-duplo e recorde do quesito na conferência SEC.
Esperemos outro duplo-duplo de Reese, pivô de ótima finalização, inclusive a partir do drible, e especialista em finalizar com ângulos diferentes. Reese chegou no início da temporada, transferida de Maryland, e incrementou seu posicionamento e sua força, atributos que a levam a coletar rebotes em profusão e fornecer segundas chances a um ataque não tão inspirado.
The Tigers take it! LSU defeats Miami 54-42 and heads to the Final Four#MarchMadness pic.twitter.com/DJojTWlOZy
— NCAA March Madness (@MarchMadnessWBB) March 27, 2023
LSU reproduz o padrão tático de Baylor, antigo cargo de Mulkey, e seu conjunto de pivôs não perde oportunidade para trabalhar perto do aro. O caminho rumo do Final Four teve uma parada dificílima no jogo contra Utah, único duelo em que LSU entrou pior ranqueada. O fato do time ter vencido mostra bem seu pedigree vencedor e defensivo – restringiu o poderoso ataque de Utha a módicos 63 pontos.
O ímpeto defensivo precisará ser replicado no Final Four, uma vez que cruzará contra Virginia Tech na semifinal. Pela segunda vez no torneio, LSU enfrentará uma equipe melhor ranqueada – Virginia Tech classificou-se como a equipe número 1 de sua região, vindo da inédita conquista da conferência ACC. Em linhas bem resumidas, será o duelo da defesa de LSU contra a volúpia ofensiva de Virginia Tech: o técnico Kenny Brooks implanta uma movimentação constante, com muitos cortes fora da bola que miram preferencialmente a pivô Elizabeth Kitley.
Kitley detem diversos recordes pessoais na universidade e, mesmo em jogos apagados, sua presença no garrafão abre espaço para as excelentes chutadoras de três. Notadamente, a armadora australiana Georgia Amoore atravessa um mês fabuloso, com aproveitamento impressionante. No caminho rumo ao Final Four, Amoore foi a jogadora mais importante de sua equipe, desafogo ofensivo seja para quebrar defesas pressionadas (como Tennessee e Ohio State) seja para pontuar de longe.
Georgia Amoore
What a shot to cap the quarter pic.twitter.com/Xi9mHoEloW
— Mark Schindler (@MG_Schindler) March 28, 2023
Virginia Tech alcançou o Final Four pela primeira vez na sua história e, se conseguir se impor ofensivamente, será difícil pará-las. Brooks tem alguns dias para conscientizar seu elenco da importância de limitar os rebotes ofensivos de LSU, além de ajudar na contenção de Reese.
Na outra semi-final, a partida mais esperada do basquete universitrário se materializou: a invicta South Carolina, capitaneada por Aliyah Boston, disputará contra Iowa, do dínamo Caitlin Clark. Outro duelo entre defesa x ataque.
A melhor universidade do país não teve dificuldade para atingir a semi, vencendo todos seus confrontos por diferença em dígitos duplos. South Carolina ainda faturou a conferência SEC (a mesma de LSU) e chega como grande favorita ao bi-campeonato consecutivo. Dawn Staley já escreceu seu nome na história e agora busca ampliar suas conquistas – ela enfatiza que o legado não se resume a números, mas a uma cultura vencedora na universidade, com valorização da modalidade, das condições das atletas-estudantes e na permanência, ano após ano, de SC no topo.
A identidade do time é a pressão defensiva, com muito atleticismo, envergadura e bom posicionamento. Em todas as posições, há defensoras de elite, sejam titulares sejam bancárias; se vc passa pela marcadora primária e acha uma infiltração, prepare-se para se defrontar com Aliyah Boston, ou Kamilla Cardoso, na proximidade do aro. Staley possui alternativas defensivas de sobra; no ataque, a fórmula das adversárias é dobrar, ou triplicar, em Boston. Não é raro vermos as cinco adversárias fechando o garrafão.
A little wheel action for the @GamecockWBB.
Beal & Saxton are the screeners here.
Double drag (Brea doesn't connect the first ball screeen) followed by a double stagger followed by another double stagger for Aliyah Boston.
Not a lot of space but when you're as good as Aliyah. . pic.twitter.com/O5FGvdniOn— Evin Gualberto (@evin_gual) March 27, 2023
O problema é que South Carolina sabe disso e movimenta a bola até achar as pivôs bem colocadas. Um verdadeiro arsenal, que, nas noites em que as bolas de três caem, como contra Maryland, não possui antídoto.
Goddamn, SC's high low game is just gorgeous pic.twitter.com/LLHHNlKNCK
— Mark Schindler (@MG_Schindler) March 28, 2023
As características de Iowa são o extremo oposto de South Carolina e o time comandado por Lisa Bluder é orientado ao ataque. Acostumado a marcar zona, Iowa vai inevitavelmente perder a disputa dos rebotes e terá que compensar com os tiros longos. Tal qual Virginia Tech, a pivô Monica Czinano gosta de trabalhar no poste baixo, mas contra Aliyah Boston sua participação será diminuta. Resta chutar muitas bolas de três e convertê-las.
O time é bem mais baixo e menos atlético, mas possui quatro peças complementares à sua grande estrela Caitlin Clark. Para desbancar South Carolina, todas precisarão ativar seus chutes, com a quase certeza de que Caitlin Clark fará sua parte. Pela primeira vez no torneio nacional, masculino ou feminino, houve um triplo-duplo de 40 pontos, feito de Clark.
Caitlin Clark displayed what makes her such an unprecedented talent in @iowawbb’s Elite Eight game. Her high playmaking IQ and elite shot creation was on full display as she posted 4️⃣1️⃣ points, 1️⃣0️⃣ rebounds, and 1️⃣2️⃣ assists.#MarchMadness #Hawkeyes #NCAAWBB #SmallsSnippets pic.twitter.com/s7E3HDJrVU
— Carolyn Smalls (@carolyn__smalls) March 27, 2023
Iowa não atingia o Final Four da NCAA desde 1993 e nunca conquistou o título nacional. Caitlin Clark é capaz de qualquer coisa numa quadra de basquete e, para superar a consistência, o tamanho e o talento de South Carolina, ela precisará ultrapassar ainda mais os limites. Ninguém melhor que ela para tal objetivo.
As semi-finais da NCAA ocorrem nesta sexta-feira, dia 31, com a finalíssima agendada para domingo, dia 02 de abril.