Stephen Curry e a perseguição por um MVP das finais

Nuno CanossaJunho 14, 20225min0

Stephen Curry e a perseguição por um MVP das finais

Nuno CanossaJunho 14, 20225min0
Poderá o astro dos Warriors finalmente conquistar o prémio de MVP das finais da NBA? Nuno Canossa argumenta a favor com ajuda de estatísticas

Ainda sem saber que equipa tomará uma vantagem de 3-2 nestas finais da NBA, parece haver um claro favorito à conquista do prémio de MVP das mesmas: Wardell Stephen Curry II. Com médias de 34.3 pontos, 6.3 ressaltos, 3.8 assistências e percentagens impressionantes (50% FG e 49% 3P) nos primeiros 4 jogos da série, esta não é a 1ª vez que o alegadamente-melhor-lançador-de-todos-os-tempos tem oportunidade de arrecadar o troféu que homenageia Bill Russell (que curiosamente e apesar dos 11 anéis, nunca o venceu).

Nas outras 5 participações na série derradeira da temporada, Stephen Curry viu um potencial prémio de MVP cair nas mãos de LeBron James, Kawhi Leonard, Kevin Durant… e Andre Iguodala. E aqui está a verdadeira premissa para o texto que apresento: afinal, o que se sucedeu em 2015?

PORQUÊ QUE ANDRE IGUODALA FOI O VENCEDOR?

Talvez, a pergunta mais acertada fosse: porquê que Iguodala mereceu mais do que Curry? Porém, esta hipótese parece nem ter sido seriamente considerada pelos votantes nas finais de 2015, já que Steph arrecadou um total de 0 votos. Com 7 a serem atribuídos ao derradeiro vencedor, LeBron James foi o outro único jogador a terminar com votos (4). Em baixo, uma tabela demonstrativa das estatísticas básicas dos 3 jogadores referidos.

Há aqui alguns apontamentos interessantes que podemos anotar. Primeiramente, o número elevado de turnovers cometidos tanto por Curry, como por LeBron. Apesar de serem jogadores que transportam, na maior parte das vezes, a bola de um meio-campo para o outro e com elevado usage (ambos, com uma percentagem considerável de posse de bola nos ataques das equipas), não deixa de ser um indicador de que o controlo de bola ficou aquém das expectativas. Quanto a Iguodala – sendo um jogador muito mais focado nas movimentações sem bola e por isso não sendo surpreendente que em 3 dos 6 jogos não tenha cometido qualquer turnover -, é importante notar que um volume relevante de perdas de bola por parte de LeBron James tenha sido provocado pela sua pressão e influência defensiva. Intercepções no drible e passes, capacidade física para aguentar e influenciar na eficácia dos post moves, ágil nas trocas. Com Iguodala em campo, a média de pontos de LeBron por 36 minutos baixaria para os 26 (-2.2) e a sua eficácia não iria além dos 38% (-1.8).

Obviamente, focando nas estatísticas individuais, é inexequível assumir que Andre Iguodala ‘parou’ LeBron James. Mas a sua capacidade de limitar o #23 dos Cavs numa final em que o agora jogador dos Lakers não pode contar com Kyrie Irving (1 jogo) e Kevin Love (0 jogos), associada à sua eficácia e impacto ofensivo permitiu que uma narrativa em que Iggy ser o MVP das Finais fosse plausível. Um último fator: o viés de recência (uma expressão regularmente utilizada nos EUA e, agora, cada vez mais em Portugal).

Apenas um ano antes, Kawhi Leonard havia sido o MVP das Finais pelos Spurs como defensor primário de LeBron James e, também ele, particularmente eficaz e suficientemente influente no ataque. No entanto, nada disto justifica que o melhor jogador da equipa vencedora não tenha obtido qualquer voto.

PORQUÊ QUE CURRY NÃO OBTEVE QUALQUER VOTO?

Creio ser incapaz de decifrar este mistério. Podendo parecer contraditório, os 4.7 turnovers numa primeira final em que se é o foco principal da 4ª melhor defesa dos playoffs (defensive rating) é minimamente aceitável. Pelo menos, se tivermos em conta que Curry liderou a equipa em minutos, pontos e assistências de forma destacada. Se retirarmos o jogo 2 da série – em que Warriors perderam e na qual também Iguodala teve a sua pior exibição – os números de Steph tornam-se impressionantes:

Em todo o caso, caso existisse um prémio de MVP para a totalidade dos playoffs, Curry seria bastante mais complicado recusar-lhe a conquista do troféu.

PORQUÊ QUE O PRÉMIO DE MVP DAS FINAIS DEVERIA DE SER REFORMULADO?

Qualquer prémio, nomeação ou distinção na NBA é imensamente subjectivo. E a menos que a matemática e fórmulas metam o nariz no assunto, dificilmente algo mudará. No entanto, há alternativas que possam vir a minimizar alguns males na hora de votar: o já referido viés de recência, a popularidade dos atletas ou a parcialidade clubística.

Sem querer desmerecer o painel de votantes, não propondo qualquer alteração na mesma, poderia ser, a exemplo, explorado um sistema de voto jogo a jogo. Dessa forma, o vencedor do prémio seria o atleta mais consistente e que se apresentou ao melhor nível de forma mais clarividente e continuada. Idealmente, o troféu seria atribuído ao melhor jogador da equipa vencedora, sendo assim excluída a possibilidade de um adversário derrotado erguê-lo. Posso afirmar convictamente que Stephen Curry prescindirá do seu tão desejado MVP das Finais de 2022, caso este não venha acompanhado de um anel de quilates de ouro e diamante.


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