Serão os Brooklyn Nets candidatos ao título?

Nuno CanossaAbril 10, 20225min0

Serão os Brooklyn Nets candidatos ao título?

Nuno CanossaAbril 10, 20225min0
Poderão os Brooklyn Nets sonhar com o feito do título nesta NBA 2022? Nuno Canossa explica quais os argumentos da franquia nova iorquina

No dia 14 de Janeiro de 2021, James Harden aterrava em Nova Iorque para representar a, invariavelmente, segunda principal franquia do estado, os Brooklyn Nets. Passado um ano e umas semanas, o mesmo ruma a Philadelphia, deixando a equipa que, desde então, se tornara na mais séria e consensual candidata a erguer o troféu Larry O’Brien.

E, no entanto, ainda que sem a sua (também ele) segunda opção, casas de apostas, canais desportivos e seus analistas, e uma extensa massa de fãs da NBA continuam a colocar os Nets como favoritos a vencer o anel. Mas porquê?

UM OLHAR PELO PASSADO

É neste momento que vos respondo à questão colocada no título deste artigo: não. E não há nada como a história da liga para que nos explique o porquê de, pelo menos, ser altamente improvável que estes Brooklyn Nets acabem a temporada debaixo de uma chuva de champanhe e confettis. Iniciemos por aquele que é um dado vago mas preciso: só por uma ocasião, uma equipa sem vantagem em casa na totalidade dos playoffs foi campeã – os Houston Rockets em 1995. E é importante notar, previamente a qualquer comparação, o seguinte: a equipa texana havia conquistado o anel no ano anterior.

Portanto, há, desde já, esse notável detalhe ao qual podemos também acrescentar o facto de que, na altura, os Rockets não precisaram de disputar uma espécie de torneio de eliminação ao qual denominamos de play-in. Porque, na realidade, os Brooklyn Nets de 2022 ainda não se qualificaram oficialmente para os playoffs – e atenção, seria ainda mais chocante que tal não se sucedesse.

Posto isto, 85% dos títulos da NBA são conquistados pelos 2 primeiros classificados de cada conferência, com apenas 2% das Finais a terem representação de uma equipa sem a tal vantagem em casa nos playoffs.

Curiosamente, os arqui-rivais New York Knicks de 1999 foram mesmo os únicos a conseguirem disputar uma Final como 8º classificado, perfazendo o total de 7ºs e 8ºs – únicos lugares em que Nets se poderão classificar – a atingirem esse feito. Porém, estes dados não são indicadores da presente época e concernem apenas a uma tendência passada que poderá ser sempre desafiada, deixando apenas uma certeza: uma vitória nas Finais colocaria estes Brooklyn Nets numa das mais douradas páginas da história.

UMA ANÁLISE AOS NÚMEROS

A NBA e a Matemática têm vindo a desenvolver uma relação simbiótica que, por vezes, se torna pouco saudável. Seja para criar ou refutar argumentos, há quem desvalorize o valor da estatística e dos dados porque o basquetebol, por si só, não é uma ciência. E se bem que essa premissa é inegável, também nos podemos sustentar destemidamente no caos dos números. Façamos, então, esse exercício.

Se olharmos para o panorama recente da liga – sendo que um estudo mais extenso e longínquo não comprometeria os resultados apresentados -, há uma dada relação entre a eficiência com que se ataca e se defende na época regular e o sucesso nos playoffs. Atentemos o seguinte gráfico que compara o ranking de offensive e defensive rating dessas mesmas temporadas regulares entre os últimos 6 campeões, os Nets deste ano e, ainda, três dos principais rivais: um a Oeste e dois da mesma conferência.

Foto: do Autor

Os Warriors de 2017 perderam apenas 1 jogo durante toda a caminhada até ao título, os Lakers da ‘bolha’ foram a 3ª equipa com menos pontos sofridos e a remontada dos Cavaliers foi conseguida com uma incrível percentagem de triplos acima dos 40% numa caminhada de 21 jogos.

Quanto aos Brooklyn Nets, longe de serem o ataque que lhes é pintado – aqui pun intended já que são das equipas que menos ações tem no garrafão (ou paint), não sendo de todo eficazes nas poucas tentativas -, têm evidentes lacunas defensivas: permitem demasiados ressaltos ofensivos gerando segundas oportunidades; estão no top10 de equipas que menos provocam perdas de bola ao adversário; e criam 18 lances livres por partida aos seus adversários – um dos valores mais altos da liga (5º). E apesar das boas eficácias de lançamento, os Nets são das equipas que menos lança de 3, sendo superados por Suns, Sixers, Heat ou Bucks tanto em percentagem, como volume.

É aqui que entra a narrativa de que estes Nets não só foram massacrados com lesões e situações controversas e indesejadas, assim como a de que estão simplesmente focados nos playoffs onde, quase que de forma literal, accionarão um botão que os permita não só estarem todos saudáveis, como no seu melhor. É importante notar que Durant e Irving têm vindo a jogar a um ritmo elevado (40 minutos por jogo) e que o passado recente dos jogadores indica que uma post season sem contratempos será complicada de atingir. Quanto à ideologia da adaptação do jogo no momento derradeiro, veja-se casos recentes das duas equipas de LA.

PERSPETIVANDO O CAMINHO

Primeiro: um confronto, se não dois, num play-in que defina um de quatro adversários: Heat, Celtics, Bucks ou Sixers. Por outras palavras, as duas melhores defesas do Este, os campeões em título, ou o candidato a MVP – Joel Embiid. Passando o mini-torneio a um ou dois jogos e vencendo a primeira ronda, o mais certo é que tenham de enfrentar uma dessas equipas mais duas vezes até chegarem a uma final onde, ao que tudo faça prever, enfrentarão uns Phoenix Suns vice-campeões com uma das temporadas regulares mais impressionantes e consistentes dos últimos anos: 64 vitórias, até ao momento.

Tudo isto sem nunca poder contar com um jogo 7 em casa e exigindo o máximo de qualidade e de disponibilidade a Kevin Durant e a Kyrie Irving, que não terão margem para erros ou lesões. Finalizo com uma última certeza: se há espaço para caminhadas históricas e improváveis, é na NBA.

 


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