Uma possível final entre Boks e Rosa, possível? – Voz de Bancada

Fair PlaySetembro 18, 20196min0
No Voz de Bancada tivemos mais uma estreia no Fair Play, que deu a sua proposta de final do Campeonato do Mundo 2019! Gonçalo Branco e o porquê de um Boks vs Inglaterra!

Na minha opinião, a África do Sul encontra se neste momento num lote de favoritos a vencer o mundial, juntamente com a super-potência Nova Zelândia e a possível surpresa Inglaterra, que pode ameaçar o domínio do hemisfério sul no mundo da oval.

Os Springboks não terão quaisquer problemas em ultrapassar o seu grupo onde a principal incógnita será perceber quem passará em primeiro. Desta forma o duelo com os All Blacks apresenta-se como decisivo para definir o percurso das duas nações no mundial. Acredito que os Neozelandeses levarão a melhor no embate entre os dois (notou-se durante a preparação para o mundial que Steve Hansen experimentou diversos XVs com dinâmicas diferentes, especialmente em organização ofensiva, estando a equipa preparada para qualquer cenário, pelo que o jogo que terminou empatado para o Rugby Championship entre os dois não deverá servir como exemplo para Rassie Erasmus).

Ultrapassada a fase de grupos, a África do Sul terá como rivais tanto nos quartos como nas meias-finais duas seleções europeias, Irlanda e País de Gales respectivamente (trata-se apenas de uma previsão). Por razões diferentes, acredito que os sul-africanos chegarão á final. Os comandados de Joe Schimdt ainda não voltaram a apresentar a forma do ano passado e nota-se alguma perda de fulgor nos jogadores (dupla Murray – Sexton especialmente), enquanto os galeses deverão acusar a ausência de jogadores basilares (Taulupe Faletau e Gareth Anscombe) bem como a falta de profundidade/qualidade no banco.

Chegando à final, aposto na Inglaterra como adversário, deixando pelo caminho os super-favoritos All Blacks. Tal como a África do Sul, os ingleses não terão grandes dificuldades em ultrapassar o grupo, esperando mesmo que o façam sem provar o sabor da derrota. Argentina (previsibilidade no jogo e ausências surpreendentes de jogadores “europeus”) e França (nunca se sabe o que esperar dos gauleses em mundiais) deverão lutar pelo segundo lugar.

Veremos quem será o adversário dos ingleses nos quartos de final, se a Austrália ou a possível grande surpresa do mundial, as Fiji. Michael Cheika parece ainda não ter definido o melhor XV, e a inconsistência nos resultados é motivo de preocupação o que, face a uma convocatória fijiana recheada de estrelas, pode originar um “África do Sul x Japão” do último mundial, onde o David derrotou o Golias. De qualquer das formas, a Inglaterra deverá marcar presença na meia-final (e que meia-final!) enfrentando a Nova-Zelândia. Duelo titânico entre Steve Hansen e Eddie Jones, entre o melhor ataque e a melhor defesa e, neste caso, a defesa levará a melhor. As diferentes dinâmicas ofensivas treinadas pelos neozelandeses irão esbarrar numa defesa inglesa impenetrável, agressiva e muito rápida, e não irão existir erros para os “kiwis” explorarem como tanto gostam.

BOKS E ROSA… O PORQUÊ DA ESCOLHA

A África do Sul chega ao mundial em excelente forma, após ter vencido o Rugby Championship 2019, sendo o Mundial o culminar de um trabalho desenvolvido por Rassie Erasmus que teve como base a solidificação de um grupo alargado de jogadores que, apesar da juventude, demonstram estar no pico das suas formas. Esta juventude, aliada à experiência de algumas unidades trouxe um equilíbrio perfeito a uma equipa que sabe adaptar-se a qualquer adversário. Os Springboks apresentam hoje um XV base bem oleado (ao contrário dos All Blacks por exemplo) e extremamente versátil.

A avançada pode ser considerada a melhor do mundo com opções para todos os gostos, onde a fisicalidade, o impacto e os índices de trabalho são altíssimos, tendo uma primeira linha muito boa nas fases estáticas, oferecendo ainda um grande impacto no jogo aberto, especialmente Malcom Marx (melhor nº 2 do mundo) que muitas vezes parece um asa pelas suas movimentações, capacidade no breackdown e leitura de jogo. Tanto a 2ª como a 3ª linha tem jogadores que dão muito ao jogo, ao nível do combate, fases estáticas, jogo aberto, breackdown, defesa e ataque (muito completa), com excelentes ball carriers (Vermeulen, Etzebeth e Kolisi) e trabalhadores incansáveis (du Toit e Mostert).

Nos 3/4s encontramos um dos melhores 9 do mundo (senão o melhor), Faf de Klerk que emparelha com Handre Pollard numa dupla muito inteligente na leitura de jogo, e com muita qualidade no jogo ao pé. De Allende é um centro destruidor que garante muitos metros no contacto, servindo muitas vezes como base para um jogo exterior onde os pontas (Mapimpi com a sua potencia e Kolbe com a irreverencia) são muitas vezes apoiados por um Willie Le Roux que desempenha a função de “segundo abertura” (sistema 10-15) dando mais imaginação ao jogo sul africano.

Do banco podem surgir jogadores com impacto imediato como o eletrizante Herschel Jantjies, Jesse Kriel ou Kwagga Smith. Trata-se de uma equipa moldável ao estilo de jogo adversário, defende bem, explora bem o jogo ao pé, o jogo perfurante, segura nas fases estáticas e com um grande chutador que não treme quando é chamado.

A Inglaterra também chega ao mundial imparável, demonstrando que tem imensas opções disponíveis no que toca a jogadores e estratégia. Ao contrário dos sul africanos que se adaptam ao adversário recorrendo à versatilidade que os jogadores do XV base têm para oferecer, Eddie Jones varia a sua estratégia recorrendo a jogadores diferentes, que oferecem coisas completamente diferentes ao jogo.

Numa perspetiva mais atacante, uma dupla Ford-Farrell é uma excelente opção, oferecendo variabilidade de jogo e indefinição ao adversário. Se preferir um jogo mais perfurante, uma dupla Farrell-Tuilagui é uma escolha primordial para desgastar a defesa contrária, mas também o ataque, com a sua agressividade e dureza no momento defensivo. Um 15 seguro como Daly com um excelente pontapé, ou um 15 mais ofensivo e com outra capacidade de desequilíbrio como Watson (ou mesmo os dois em campo). Várias opções à disposição do australiano que lhe permitem enfrentar qualquer adversário.

A própria avançada é muito completa (à semelhança dos Springboks), com os melhores jogadores do mundo nas suas posições (Jamie George, Itoje, Billy Vunipola) que garantem sucesso nas fases estáticas e especialmente em jogo aberto. Mas é na defesa onde se encontra a principal arma inglesa (provavelmente a melhor defesa a nível internacional).

A maneira como asfixiam os adversários, com uma linha muito rápida a subir e muito eficaz no momento da placagem (sempre agressiva), levando muitas vezes o adversário ao erro ou ao jogo ao pé (Underhill e Curry, que inclusive já foram testados juntos, são autênticos “cães de caça” que trabalham durante os 80 minutos sem parar, perturbando sempre a fluidez do jogo atacante adversário com muitos roubos de bola ou penalidades “sacadas”).

A dimensão física do jogo inglês não se encontra muito distante da sul africana, e está bem presente durante o jogo. Finalmente, tal como Handre Pollard, também Farrell é um exímio chutador, garantido muitos pontos a Inglaterra.

A última vez que a Inglaterra e África do Sul se encontraram…


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