Seis Nações 2020 R1: Le Crunch volta a ser francês!

Francisco IsaacFevereiro 2, 20206min0

Seis Nações 2020 R1: Le Crunch volta a ser francês!

Francisco IsaacFevereiro 2, 20206min0
A França deu um espectáculo em como defender e responder perante uma Inglaterra nada autoritária, que foi engolida ao fim de 80 minutos. A análise à 1ª ronda das Seis Nações 2020 chega aqui

Surpresa, ou será que não foi surpresa esta vitória da França em Paris ante a Inglaterra? A análise à ronda de abertura das Seis Nações 2020 que prometem ser inesquecíveis, já par não falar de George North como 2º centro do País de Gales, um dos destaques deste fim-de-semana.

NOVO SELECCIONADOR… E O MESMO PAÍS DE GALES… E A MESMA ITÁLIA

Wayne Pivac teve de inventar ao lançar George North como centro, mas tudo correu de feição aos campeões em título das Seis Nações derrotando facilmente a Itália por 42-00 onde Josh Adams foi responsável por um hattrick. Os galeses mantiveram o mesmo plano de jogo, baseando as suas saídas do meio-campo no jogo ao pé de Dan Biggar e Leigh Halfpenny para depois os perseguidores de bola aparecerem disparados e a recuperarem a oval de forma clara, seguindo-se uma nova acção incisiva e letal para a defesa italiana, que respondeu bem nos primeiros 20 minutos para depois ceder de forma constante.

Pouco ou nada mudou na postura do País de Gales, que apresentou a mesma calma e paciência na conquista de fases, sem nunca arriscar em demasia ou expor a defesa a situações mais perigosas, mantendo tudo sob controlo graças a um bloco de avançados afinado com destaque para Alun Wyn Jones. O 2ª linha e capitão somou mais de uma dezena de placagens para além de apresentar aquela voz de comando essencial para dar latitude e concentração aos galeses nos momentos decisivos do jogo.

Se Josh Adams foi extraordinário no seu trabalho enquanto ponta, há que aplaudir a exibição de George North agora na posição de centro, algo novo para um dos atletas mais experientes do País de Gales. Em termos de números, foi o segundo jogador que mais vezes correu com a oval nas mãos (10) – forçando a Carlo Canna a dedicar-se quase completo em defender exclusivamente North-, somando ainda 6 tackle busts e 80 metros conquistados ao fim de 80 minutos. Essencialmente foi um dos jogadores mais duros fisicamente de aguentar para a Itália e fica a nota bem positiva para o British&Irish Lion, que somou mais um ensaio para o seu histórico.

A Itália apresentou dificuldades em todos os capítulos, sendo claro que é um momento de redefinição e reconstrução, apesar de ter apresentado o seu melhor elenco dentro de campo, com Jake Polledri, Matteo Minozzi, Leonardo Sarto, Tommaso Allan, Braam Steyn, Jayden Hayward e Luca Bigi, ficando no ar que os problemas do passado continuam bem presentes.

FISICALIDADE É O QUE SE PEDE, NÃO É IRLANDA?

Intenso, muito intenso… mais do que esperado pelo menos, com a Escócia a deixar sinais promissores para a competição apesar da derrota consentida por 12-19 na visita ao reduto da Irlanda em Dublin. Foi um verdadeiro combate tanto na placagem como no breakdown, sendo que neste aspecto ambas as equipas lançaram-se com uma “fome” tremenda registando-se uma série de roubos de bola no chão e contacto que foram elevando os níveis emotivos, sendo que os irlandeses acabaram por aproveitar melhor as recuperações e penalidades conquistadas.

Hamish Watson e CJ Stander entraram num choque brutal neste parâmetro a par de James Ryan (o 2ª linha irlandês é realmente um atleta fadado para liderar e ser cabeça-de-cartaz) e Scott Cummings, o que possibilitou um jogo mais caótico e anárquico, ou seja, de resultado indefinido até ao apito final.

A Escócia nunca apresentou um sistema de jogo minimamente equilibrado, optando por sair em jogadas individuais ou a transitar de uma sequência de fases curtas e encostadas ao ruck para depois tentar furar o espaço nas linhas atrasadas da Irlanda, como aconteceu naquela última grande arrancada da Escócia mas que acabou em turnover de CJ Stander.

Sexton, autor de todos os 19 pontos da Irlanda, soube guiar com clareza apesar de se notarem alguns problemas no que toca à placagem efectiva entre os 40 metros do adversário e os seus 22 metros mesmo com Ryan (19), Tadhg Furlong, Bundee Aki, a somarem um excelente número de placagens. Contudo, a nível de defesa seja na postura ou técnica junto à linha de ensaio, a selecção agora liderada por Andy Farrell foi sensacional e nunca deu hipótese aos escoceses de conseguir chegar ao toque de meta – com Stuart Hogg a perder uma oportunidade flagrante.

Nenhuma das duas formações esteve a 100%, com vários erros a surgirem e a lançarem algumas dúvidas sobre se têm capacidade de ultrapassar a Inglaterra e País de Gales nesta edição do torneio europeu.

LE CRUNCH… OU COMO OS INGLESES FORAM “ESMAGADOS” PELA DEFESA FRANCESA

Grégory Alldritt, Charles Ollivon e François Cros três nomes que os ingleses não vão querer tão cedo relembrar, especialmente quando este trio está do outro lado a defender. A França foi dominadora durante a maior parte do encontro, apostando numa defesa de alta pressão e que a placagem fosse não só totalmente efectiva mas que forçasse o adversário a andar para trás, impondo assim um pânico generalizado no ataque inglês onde nem Ben Youngs, George Ford ou George Furbank foram capazes de repor a ordem quando era mais necessário.

Esta letalidade da manobra defensiva francesa apanhou a Inglaterra completamente de surpresa, em especial jogadores como Sam Underhill (é um daqueles casos em que se fica muito pelas valências no aspecto físico tendo claras lacunas na abordagem técnica e táctica, como poderão ver no 3º ensaio dos Les Bleus), Courtney Lawes ou Owen Farrell, o que quebrou por completo com a estratégia pensada por Eddie Jones tendo o timoneiro da Rosa algumas culpas no outcome final.

Furbank, Lawes, Ewels passaram completamente ao lado do jogo, dessincronizados com o que era necessário fazer sendo erros de casting preocupantes nesta entrada da Inglaterra para as Seis Nações, para além de Tom Curry não ser o 8 que Eddie Jones procurava… porquê não foram convocados Alex Dombrandt ou Sam Simmonds, jogadores completamente rotinados nesta posição?

A França fez o necessário, invocou uma defesa como não se via há largos anos (Shaun Edwards é um dos maiores iluminados neste parâmetro do rugby), impôs sempre uma atitude agressiva e fisicalidade um nível acima do adversário, aproveitou de forma eficaz os erros do adversário e quando pôde lançou excelentes linhas de ataque sem deslumbrar neste aspecto, apesar da sinfonia que Antoine Dupont lançou durante todo o encontro.

A França mostrou algo que parecia ter sido apagado do seu ADN e a Inglaterra voltou a tropeçar nas invenções e precipitações quer da equipa técnica quer de alguns das suas maiores referências.

REGISTOS DA 1ª RONDA

MVP da Ronda: Gregóry Alldritt (França) – 18 placagens, 4 turnovers, 11 carries;
Placador da Ronda: James Ryan (Irlanda) – 19 placagens e 2 turnovers (92% eficácia);
Melhor Marcador da Ronda: Jonathan Sexton (Irlanda) – 19 pontos (1 ensaio, 1 conversão, 4 penalidades);


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