Seis Nações 2019: Itália a jogar para último ou para a História?

Francisco IsaacJaneiro 10, 20197min0

Seis Nações 2019: Itália a jogar para último ou para a História?

Francisco IsaacJaneiro 10, 20197min0
A Itália é a grande vencedora da "colher de pau" do torneio mais antigo do Mundo mas será que muda a posição nesta edição? As Seis Nações 2019 no Fair Play

Mais uma edição das Seis Nações está aí a chegar, mais uma vez a Itália corre o risco de acabar com a “Colher de Pau”, um risco cada vez mais associado à selecção transalpina. Em caso que em 2019 terminem novamente no fundo da tabela sem vitórias, será uma 4ª vez consecutiva… contudo, se esse cenário acontecer não será histórica, pois entre 2008 e 2011 somaram esse tetracampeonato negativo.

Depois de em 2018 terem conseguido derrotar a Geórgia, silenciando aqueles que exigiam a abertura de um processo de descida/subida nas Seis Nações ou admissão de mais uma equipa na competição europeia., a Itália olha para as Seis Nações 2019 como uma rampa de lançamento para o Mundial do Japão, estando à espera de conseguir “assustar” uma ou outra selecção.

Ou seja, a “pressão” de mostrar que não estão abaixo dos “lelos” dissipou-se (quase por completo) e esse pormenor pode ser um elemento de alívio para uma Itália que precisa de começar a fazer algo de diferente num dos torneios mais antigos do Mundo, um desafio imenso para Conor O’Shea, o seleccionador destes “gladiadores”.

Mas o que há para saber desta Itália? Vamos então fazer uma leitura, já com recurso à convocatória lançada no início do mês de Janeiro.

OS 31 GLADIADORES CONVOCADOS PARA SALVAR A HONRA DA ITÁLIA

Comecemos com a convocatória por posições:

Pilares: Simone Ferrari, Andrea Lovotti, Tiziano Pasquali, Cherif Traore, Giosuè Zilocchi

Talonadores: Luca Bigi, Leonardo Ghiraldini

Locks: Dean Budd, Federico Ruzza, David Sisi, Alessandro Zanni

Asas/No .8s Marco Barbini, Maxime Mbanda, Sebastian Negri, Sergio Parisse, Abraham Jurgens Steyn e Jimmy Tuivaiti

Formações: Guglielmo Palazzani e Tito Tebaldi

Aberturas: Tommaso Allan, Carlo Canna e Ian McKinley (Benetton Rugby, 4 caps)

Centros: Giulio Bisegni, Michele Campagnaro, Tommaso Castello e Luca Morisi (Benetton Rugby, 20 caps)

Pontas/Defesas: Tommaso Benvenuti, Angelo Esposito, Jayden Hayward, Edoardo Padovani e Luca Sperandio

Notas para o regresso de Campagnaro às Seis Nações, depois de ter falhado a prova em 2018 por lesão, assim como a introdução de Ian McKinley (falhou também 2018 por opção) e Dave Sisi. Sisi é um ex-sub20 da Inglaterra, que aos 25 anos optou por fazer jus à sua ascendência italiana e aceitar o convite endereçado pela federação italiana agora em 2019, assumindo-se como um bom reforço para a 2ª/3ª linha.

Contudo, em sentido contrário a Itália vai entrar nestas Seis Nações com vários ausentes, como: Mattia Bellini, Ornel Gega, Renato Giammarioli, Matteo Minozzi, Jake Polledri, Marcello Violi, Federico Zani. As duas maiores ausências que vão ser totalmente notadas passam por Jake Polledri e Matteo Minozzi. O asa do Gloucester Rugby é um daqueles avançados da nova escola, não só extremamente duro e “agressivo” na placagem ou na reacção ao contra-ruck, mas altamente voltado para as acções no ataque e até ser um construtor de jogo quando é necessário.

Por sua vez, Matteo Minozzi foi um dos melhores jogadores da Itália em 2018, com quatro ensaios nas Seis Nações, sempre predisposto a montar as linhas de ataque, gerindo bem as acções das linhas atrasadas. A técnica de pés, o pontapé em jogo bem colocado e a velocidade fizeram do defesa um dos MVP’s das selecções europeias no ano passado, mas uma lesão complicada no joelho afastou-o dos campos desde Setembro.

Atletas como Edoardo Gori, Luke McLean, Leonardo Sarto, Francesco Minto, Simone Favaro, Marco Fuser não entram para as contas, apesar do seu excelente momento de forma no Benetton Rugby.

Por isso, a Itália vai apresentar-se sem alguns titulares das Seis Nações de 2018, necessitando de refazer o XV. Nos Internacionais de Inverno, a Itália optou pela seguinte linha de titulares: Andrea Lovotti, Leonardo Ghiraldini, Simone Ferrari, Alessandro Zanni, Dean Bud, Sebastian Negri, Jake Polledri, Braam Steyn, Tito Tebali, Tommaso Allan, Mattia Bellini, Tommaso Castello, Michele Campagnaro, Tommaso Benvenuti e Jayden Hayward.

Com a lesão de Polledri, Braam Steyn vai para o lugar de 7 e o regressado Sergio Parisse assume o lugar de 8, para conquistar um recorde de presenças extraordinário (vejam tudo em XXX). Minozzi vai ser substituído por Jayden Hayward e temos um XV de qualidade por parte dos “gladiadores”.

Com o XV apurado, passemos ao “como joga” esta Itália de Conor O’Shea, o seleccionador de nacionalidade irlandesa que assumiu o lugar em 2017 e tem tentado dar o salto qualitativo… constantemente adiado.

XADREZ ITALIANO: CAÓTICO MAS INTELIGENTE?

A Itália de O’Shea tem um registo quase igual ao de época de Jacques Brunel, ou seja, marca poucos pontos (2017 só foram responsáveis por 50 pontos… um dos piores registos dos últimos 15 anos), mas sofre os suficientes para sair derrotada e, por vezes, “humilhada” (com todo o respeito pela Itália, uma derrota por diferença de 40 pontos entra nessa adjectivação), existindo claros problemas em termos de estabilidade no ataque e de garantir uma plataforma de defesa minimamente confiável.

Se no 1º ano de O’Shea foram um sério problema em Twickenham, em que chegaram ao intervalo na frente do resulto graças a uma estratégia de jogo que forçaria a World Rugby a corrigir o rulebook, já em 2018 só em um encontro foram decididamente melhores que os seus adversários, curiosamente no último encontro ante a Escócia, que só obteve a vitória aos 80 minutos de jogo (29-27).

A Itália apresenta-se como um elenco mais “pesado” em termos de velocidade de jogo, apostada em não deixar a intensidade chegar a um ponto “louco”, mantendo os timings e dinamismos. Não tendo uma formação-ordenada bem trabalhada ou ágil, acabam por ser extremamente duros no contra-maul e na luta junto ao ruck, elevando-se na placagem e breakdown.

Contudo, a componente física e a falta de um banco minimamente desperto para entrar em campo e manter a mesma bitola acabam por ser pormenor limitadores da potencialidade dos “gladiadores”, que mesmo motivados pela voz e exemplo invocados por Sergio Parisse, terminam os jogos nas cordas, sendo claramente uma pecha e dificuldade de sempre.

Conor O’Shea tem tentado encontrar soluções entre as opções, mas a verdade é que foram trucidados frente aos All Blacks (3-66) e Irlanda (07-54) e isto a menos do Mundial de Rugby acaba por começar a reunir sinais preocupantes.

Quando a Itália tem o desejo de abrir a bola e de acelerar os processos, especialmente em combinações do 9 com o três-de-trás ou na participação da 3ª linha como movimentadores de jogo, dão-se bons momentos de espectáculo, só que surge logo no imediato um problema: perda de bola significa um andar para trás consecutivo. A Itália, por vezes, parece “fugir” das acções de ataque rápido, optando por ser extremamente conservadora, um pormenor nocivo para a forma como se joga rugby nas selecções de topo.

Em suma, a Itália neste momento vive num “universo” de dúvidas e de crescente estagnação no seu jogo e a vitória com Geórgia pode ser tanto um resultado muito positivo como negativo, uma vez que o “desafio” de melhorar pode ter ficado guardado para outra altura. Com o Mundial 2019, é altura de Conor O’Shea abrir o jogo e explicar o que os “gladiadores” liderados por Parisse fazer nestas Seis Nações.


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