Seis Nações 2019: “Bullies” ingleses impedem novo Grand Slam irlandês

Francisco IsaacFevereiro 4, 20197min0

Seis Nações 2019: “Bullies” ingleses impedem novo Grand Slam irlandês

Francisco IsaacFevereiro 4, 20197min0
Eddie Jones avisou em Novembro e a Inglaterra confirmou em Fevereiro: recuperar as Seis Nações é o objectivo. Descobre como 23 "bullies" de Sua Majestade vergaram os campeões em título

Um campeão que foi (facilmente) vergado em casa, duas asneiras em Paris que ofereceram o (a) Norte ao País de Gales e um jogo morno em terras escocesas frente a uns gladiadores agressivos e duros é a forma mais “rápida” de contar o que se passou na 1ª ronda das Seis Nações 2019. 

SUA MAJESTADE, EDDIE JONES E O SEU BANDO DE “BULLIES” ARRUMARAM COM A IRLANDA

De super-favoritos ao Back to Back Champions (quando se faz um bicampeonato consecutivo no Mundo do Rugby) para vergados por uma suposta ineficiente Inglaterra que foi até Dublin dar uma lição de como defender: rush defence, placagem certeira e ataque ao breakdown voraz. A Selecção da Rosa foi implacável no contacto, agigantando-se para uma dimensão que foi vista em 2016 e que regressou em 2019, com notas de destaque para… Mako Vunipola!

É verdade, o pilar realizou 25 placagens, 24 efectivas e só deixou um adversário fugir à sua área de contacto. A par do primeira-linha juntaram-se ainda Mark Wilson (genial no controlo e timing de ataque ao ruck, no qual foi responsável por três turnovers), Tom Curry, Jamie George e… Manu Tuilagi. Não fez mais que 9 placagens em todo o encontro, mas a verdade é que a dose de maldade colocada no contacto garante uma boa plataforma para a sua equipa pressionar e estancar qualquer movimentação rápida irlandesa.

Neste ponto, o eixo Conor Murray e Jonathan Sexton estiveram bem longe do pretendido, completamente dominados pela excelente operação defensiva inglesa que fechava bem as opções em redor do ruck ou subia imediatamente não só a Sexton como aos possíveis dois canais de ataque mais escolhidos pelo médio-de-abertura. Maniatado de poder jogar com Jacob Stockdale ou Garry Ringrose, o Melhor Jogador do Mundo em 2018 ficou várias vezes isolado do jogo, facilmente “capturado” e oprimido pelos seus adversários.

A Inglaterra apresentou-se extremamente agressiva na defesa e contra-ruck como já referimos, mas também foi dotada em dar continuidade à bola capturada no chão, saindo rapidamente para um ataque que muitas vezes terminou ao pontapé para as costas da defesa irlandesa… dois ensaios nasceram exactamente desse ponto: o primeiro forçou a Jacob Stockdale a recuar para dentro da área de ensaio, onde largou (e mal) a oval para Daly simplesmente cair em cima e, o segundo com Slade a acelerar bem no momento que Farrell pontapeia.

Jogo táctico, com poucas movimentações ofensivas rápidas, de luta intensa em especial nos 22 metros ingleses, que responderam excelentemente bem ao ataque pouco elaborado irlandês, que viu Stockdale, Ears e Ringrose longe da área de decisão. A Inglaterra foi sempre o melhor colectivo, mais crente no seu papel no jogo, assumindo-se como uma formação mais vocacionada ao contra-ataque depois de defender com o seu melhor arsenal.

A Irlanda foi apanhada na “teia” de uma estratégia de jogo de caos organizado, que tirou-lhes aquela capacidade em mudar os ritmos de jogo de um momento para outro, sentindo-se pouco confortável com a bola em mãos.

Mas até que ponto a estratégia de Eddie Jones não vai “esgotar” a equipa antes do jogo decisivo com o País de Gales? E a Irlanda terá perdido a vontade de se surpreender, ao ponto de conceder uma derrota em casa ao fim de quase três anos?

AS OFERTAS FRANCESAS QUE GEORGE NORTH (E WARREN GATLAND) AGRADECERAM!

A perder por 16 pontos a zero aos 40 minutos, para ir buscar a vitória na 2ª parte, foi esta a história do País de Gales no encontro de abertura em Paris frente à selecção local que deixou a vitória escapar-se por entre as mãos… literalmente.

A França ofereceu dois ensaios à selecção visitante com dois erros clamorosos de Yoann Huget e Sébastien Vahaamahina. O ponta abordou muito mal uma bola pontapeada para os seus 5 metros, atirando-se sobre a mesma sem qualquer ponta de segurança… George North apareceu para concluir.

E o 2ª linha atirou um passe sem nexo para que o mesmo galês captasse a oval e saísse disparado e sem oposição até à área de validação, naquele que foi o ensaio da reviravolta final para os Red Dragons de Warren Gatland. Em abono da verdade, a formação galesa não se apresentou com o mesmo ritmo e genialidade na execução das tarefas e estratégias que apresentaram durante 2018, abrindo espaço para que a França conquistasse bons pontapés ao início do encontro.

Os Les Bleus animaram a primeira-parte com uma série de boas jogadas, forçando um recuo constante galês, com uma defesa demasiado expectante como o ensaio de Louis Picamoles ou Yoann Huget provam.

O conceder espaço, o facto de não atacarem o ataque contrário com uma velocidade imediata e a lentidão em recuperar os espaços concedidos entre-linhas, precipitou um constante declínio em termos de organização defensiva, que se podia ter revelado bem mortal não fosse a França cair em qualidade de jogo na 2ª parte.

Um factor que pode ter contribuído para esta queda anímica foi a intervenção rápida e eficiente da 3ª linha galesa, com Josh Navidi (18 placagens e 1 turnover), Justin Tipuric (18 placagens e 2 turnovers) e Ross Moriarty (20 placagens) se terem entregado activamente no impedimento dos Bleus terem um fio condutor de jogo minimamente estável, inutilizando Fofana ou Ntamack no processo ofensivo.

Um País de Gales que só surgiu nos segundos 40 minutos foi suficiente para começar com o pé direito, enquanto que a França vai ter que repensar nos detalhes básicos para não perder o jogo nos pormenores.

ESCÓCIA DE SERVIÇOS MÍNIMOS ESTRAGA O RECORDE DE PARISSE

O encontro com menos história da 1ª ronda até pelos períodos em que pior se jogou em Murrayfield, com várias perdas de bola no contacto ou constantes erros próprios que iam destabilizando o ataque quer de uma ou outra equipa.

Contudo, destaque para o facto desta Escócia continuar a gostar de inventar e criar acções e movimentações ofensivas, como os dois ensaios de Blair Kinghorn na primeira-parte. O primeiro veio daquele pé “mágico” de Finn Russell, que do nada faz um crosskick com a parte de fora do pé para a oval ir parar às mãos do ponta escocês.

E o segundo é uma inversão de sentido de jogo, em que se dão uma série de combinações rápidas e apoios ainda mais céleres no ataque escocês… Kinghorn só teve de esperar para captar a oval e dar o segundo ensaio.

A Escócia foi sólida no ataque, minimamente eficiente na defesa, mas por vezes pouco inteligente na combinação de processos ou na reacção ao ataque italiano que, mais uma vez, se precipitou em certos momentos do jogo. Não chega ter Parisse ou Palazzani a dar instruções, pois os transalpinos executaram-nas o melhor possível sem depois conseguir criar qualquer rotura defensiva significativa.

A Itália só respondeu nos últimos 10 minutos quando jogava com mais um, sem conseguir dar a volta ao encontro. A Escócia apresentou-se a ganhar nestas Seis Nações mas faltou algo que pudesse animar mais as hostes… qual é o plano de Gregor Townsend para o que se segue?

MVP da Ronda: Henry Slade (Inglaterra, 2 ensaios, 2 quebras-de-linha, 1 defesa batido, 50 metros conquistados, 10 placagens efectivas)
Placador da Ronda: Mako Vunipola (Inglaterra, 25 placagens)
Ensaio da Ronda: Stuart Hogg (Escócia-Itália, vale pelo toque de génio do nº15)
Melhor Marcador da Ronda: Blair Kinghorne (Escócia – 15 pontos)


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