Seis Nações 2018 Ronda 1: Um pedido de desculpas a si, Sr. Gatland!
As Seis Nações começaram e houve logo uma grande surpresa na ronda inaugural, com a vitória esmagadora por parte dos galeses de Warren Gatland sobre uma Escócia tímida, pálida e completamente desprovida de ideias e soluções. Este destaque e mais quatro neste artigo de análise aos protagonistas, “vilões”, candidatos e perdedores da primeira ronda da maior prova de rugby do Hemisfério Norte.
SR GATLAND… O NOSSO PEDIDO DE DESCULPAS!
É a única foram de nos redimirmos das várias críticas e dúvidas que foram lançadas ao que este País de Gales podia ou não fazer nestas Seis Nações, logo a começar contra a Escócia.
A grande questão que foi avançada pela maioria dos órgãos de comunicação social era a seguinte: tinha Warren Gatland capacidade para repor os índices de confiança do País de Gales? As lesões em catadupa, o jogo pouco “emotivo” e enérgico nos últimos encontros de Inverno e Verão, assim como umas Seis Nações 2017 algo cinzentas, eram argumentos contra o seleccionador galês.
Mas o jogo contra a Escócia foi esclarecedor nesse sentido. O País de Gales não deslumbrou, não fez um jogo espectacular a atacar, nem foi uma equipa com o pé sempre no acelerador… foi sim uma formação que acreditou, esperou pacientemente na defesa, realizando boas investidas a partir de bolas conquistadas nos rucks ou formações ordenadas, para sair a atacar de forma mais convincente que a sua homologa escocesa.
Olhando só para as estatísticas de forma “pura e dura” (podem consultar aqui: dados do PG-ESC), o encontro em si parece que foi repartido em termos de erros, penalidades, bolas conquistadas, território e controlo de bola, para além da percentagem de sucesso na placagem.
Porém, há que ver o conteúdo ou onde aconteceram a maioria dos erros e placagens falhadas. Veja-se que um dos erros próprios da Escócia resultou no primeiro ensaio de Davies, com o formação a interceptar a bola sem grande dificuldade.
Mas já iremos divagar nos erros da Escócia… o que há de realçar nos galeses? A forma como encararam o encontro, assumindo uma excelente agressividade, uma defesa altamente caprichosa com Aaron Shingler e Josh Navidi a serem dois defesas mordazes e eloquentes no ataque ao portador da bola (duas bolas “roubadas” no ar por cada um).
Toda a equipa se envolveu no ataque, com os exemplos claros de Alun Wyn Jones e Cory Hill (duas quebras de linha de alto gabarito), sendo que Gareth Davies foi um “maestro” fantástico, fazendo de gato-sapato o seu colega do outro lado, Ali Price.
O País de Gales soube atacar, com grande ímpeto, confiança e uma alta demonstração de que não é por jogar A ou B que perdem qualidade… o que interessa é saber fazer um todo dos que estão lá… e Warren Gatland o conseguiu.
Segue-se uma viagem a Londres e, para todos aqueles (incluindo o Fair Play) que achavam que o País de Gales corria o risco de não lutar pelo título… bem estávamos enganados!
COMO PASSAR DE CANDIDATO A CAMPEÃO, A “COLHER DE PAU” EM 80 MINUTOS
Gregor Townsend tem muito trabalho pela frente nestes próximos 5 dias, já que precisa de recuperar a equipa a nível psicológico, anímico e táctico para conseguir fazer frente à França no próximo fim-de-semana. A Escócia foi uma “carcaça” desprovida de talento e rasgo para fazer discutir o jogo com País de Gales e o argumento de que não tinham mais para dar não serve. Porquê?
Vejamos que os escoceses têm vindo a realizar excelentes jogos à mão com uma série de jogadas de enfiada que metem os seus adversários a correr para trás, como aconteceu com os All Blacks, Austrália, País de Gales, Irlanda em 2017. No jogo do passado fim-de-semana, os escoceses começaram logo mal quando sofreram um ensaio de intercepção que os deixou em “pânico” e atónitos, forçando-os a correr atrás do prejuízo.
A partir desse momento, a Escócia foi atacando cada vez pior, com claras dificuldades em criar ou encontrar espaços para “fugir”… Stuart Hogg mal teve oportunidade para partir uma linha de vantagem e arranjar soluções para ensaio… Finn Russell foi um “fantasma”, com maus passes, um dos quais foi já nos últimos 8 metros do País de Gales, com uma terrível entrega de bola a Huw Jones/Tommy Seymour.
Ao contrário de outras ocasiões, a Escócia perdeu-se a cada minuto que passava, com fases dinâmicas de extrema lentidão, com Russell, Seymour, Harris, McGuigan a processarem mal as combinações. A somar a isto, Ali Price foi uma desilusão completa, não apresentando os timings correctos, investindo de forma errada no ataque, para além de nunca ter sido uma boa voz de comando na defesa, passando por completo ao lado do encontro.
Os erros foram-se acumulando, a pressão aumentou e o desaparecimento de Cornell Du Preez (péssimo jogo do nº8, sendo um “corpo” estranho dentro de campo) destruiu ainda mais o jogo escocês, que estava órfão de uma primeira-linha capaz e influente, de um 8 clássico como Ryan Wilson ou de um asa que vai buscar qualquer portador da bola como Hamish Watson.
Mas uma primeira-linha pode influenciar tanto um jogo? Pode e de que maneira… veja-se que os escoceses perderam três alinhamentos e uma formação ordeanda, todas dentro dos últimos 40, 22 ou 10 metros do País de Gales, o que comprometeu as hipóteses claras de chegarem ao ensaio. Ou a bola entrava mal no corredor, ou a primeira-linha não trabalhava bem ou a falta de um 8 intenso “estragava” tudo por completo.
Há muito que fazer, há muito para recuperar mas há pouco tempo para salvar a Escócia de um “pequeno” 5º lugar.
O DROP É IMPRESSIONANTE, MAS 41 FASES A ATACAR É AINDA MAIS
Um drop a 45 metros dos postes fica para os “livrinhos” e almanaques da História do Desporto e Rubgy, ainda para mais quando foi para lá do tempo regulamentar, na última jogada do encontro. Jonathan Sexton, com um pé canhão deu a vitória à Irlanda para o desespero de Guirado (jogo enorme do capitão e talonador dos Les Bleus) e Brunel (tirar o “chapéu” ao seleccionador francês) num drop mágico e que vai ficar como um dos melhores momentos da sua carreira.
Mas o que foi realmente impressionante foram as 42 fases a atacar da Irlanda, que começaram nos seus 22… como é que é possível conseguir segurar a bola durante 7 minutos, sem nunca largá-la para a frente ou perdê-la no contacto ou nos rucks?
A explicação passa por concentração, intensidade e trabalho dos básicos. Joe Schmidt, quando chegou ao cargo de seleccionador, tinha alertado quais é que iam ser as suas maiores preocupações: melhorar o controlo de bola, a recepção e transmissão de passe e o apoio ao ataque.
Passados 4 anos da sua chegada, a Irlanda está francamente uma selecção mais confiante (apesar de ter ganho um Grand Slam nas Seis Nações em 2009), poderosa e articulada e isso foi notório no jogo com a França.
As oportunidades para marcar ensaios escassearam, verdade, já que ambas as equipas defenderam bastante bem, com a Irlanda a ter duas ocasiões soberanas para chegar ao ensaio mas que optaram sempre por ir aos postes (Nigel Owens podia ter dado um amarelo a Vahaamahina por acumulação de faltas).
Observando os 80 minutos, a Irlanda foi sempre mais preponderante com a bola nas mãos, realizando só uns quatro avants durante esse tempo todo, o que prova que estão mais compactos no ataque.
A defesa acompanhou a mesma música, já que o ensaio da França resultou não de uma falha de placagem, mas de um mau pontapé por parte de Sexton que pôs a bola nas mãos do ponta da França, Thomas, que só teve de correr em direcção à área de ensaio.
Excelente vitória, 10 minutos finais dignos de uma final e um ambiente espectacular.
SAM SIMMONDS E O DESPERTAR DE UM NOVO 8
Categórica estreia de Sam Simmonds nas Seis Nações com 23 placagens, 2 turnovers, 2 ensaios, 80 metros conquistados, 7 linhas de vantagem conquistadas e 3 quebras-de-linha… um autêntico tanque Centurion Mk3 (um dos tanques de melhor memória das forças britânicas durante os anos 50-70), mostrando-se imparável em vários sentidos durante todo o encontro.
O nº8 (que pode também jogar a asa) dos Exeter Chiefs foi uma força extraordinária tanto a defender como a atacar. A forma como placou diversos opositores (em especial fica na “memória” as placagens a Parisse, Bellini ou Allan, quando procuravam abrir uma frecha na defesa) não só provam a sua capacidade como placador, assim como de quem faz uma brilhante leitura de jogo, indo bem na cortina defensiva para escolher o momento crucial em que tinha de parar o ataque italiano.
E o que dizer de Simmonds a atacar? Um primor, com uma velocidade “agressiva”, dotado de uma explosão entusiasmante que apanhou desprevenida a Itália, ficando a ver o nº8 a escapar por entre opositores sem que conseguissem sequer pôr a mão em cima.
O primeiro ensaio é então um rasgo de genialidade, ao perceber que o maul estava a estagnar, arriscando numa fuga isolada com Parisse e Negri a ficarem pelo caminho.
Estreia em cheio, nova coqueluche para Eddie Jones e a Inglaterra a provar que tem mais que 23 ou 30 jogadores activos para selecção… o futuro é de Simmonds, Itoje, Underhill, Mercer e Nowell.
FRANÇA E AS TÁCTICAS “ESTRANHAS” DA CONTROVÉRSIA
Este ponto é curto uma vez que ainda há muito para apurar, todavia deixamos algumas dúvidas perante o que se passou em campo. Durante dois momentos, o médico da selecção francesa entrou em campo devido a duas supostas contusões.
O processo é feito com o jogo parado, mesmo que uma equipa tenha vantagem atacante e possa estar na iminência de um ensaio… por uma vez, aconteceu quando a Irlanda tinha especial ascendente no corredor direito.
Só que as lesões de ambos jogadores franceses foram tudo menos na cabeça, uma vez que Jalibert e Dupont saíram por lesões nos joelhos e não na cabeça. Nigel Owens está, também, no centro da confusão, já que foi o galês a decidir que era necessário um teste às capacidades cognitivas de ambos os jogadores… quando o médico da França afirmou que a lesão era não na cabeça, mas sim nos membros inferiores, Nigel Owens não conseguiu aceitar o seu erro e continuou como se nada fosse.
Pior que tudo, é que a lesão de Dupont permitiu que Machenaud voltasse para dentro de campo aos 76′ e convertesse uma penalidade que deu uma magra vantagem aos gauleses – em caso de suspeita de contusão, a equipa pode trocar directamente de jogadores e ficar assim com 15 contra 15. A Irlanda ficou revoltada e isso poderá ter “alimentado” aquela eficácia e vontade de dar a volta ao jogo mesmo que tivessem uns escassos minutos para tal.
É a segunda vez que a França faz uma “brincadeira” destas e os árbitros parecem cair sempre na mesma manha… contudo, desta vez haverá um painel que vai analisar a situação e decidir se há ou não castigo e sanção para os Les Bleus.
Todas as estatísticas e dados recolhidos provêm dos sites oficiais das Seis Nações e ESPN