RWC19 Finais: Os Springboks são os novos donos do Mundo
É um ponto final bem forte por parte dos Springboks, que demonstraram que só é preciso realmente jogar bem na final, depois de algum sofrimento vivido no jogo com o Japão, mas em especial contra o País de Gales. Rassie Erasmus deu uma lição a Eddie Jones e aplicou a maior diferença pontual já vista em finais de Mundial, com um 32-12 final.
A análise a 3 pontos deste fim-de-semana de finais!
RASSIE ERASMUS 32-12 EDDIE JONES
Foi chocante ver como a Inglaterra se apresentou animicamente dentro das quatro-linhas para o jogo mais importante deste Mundial de Rugby, mostrando não só uma falta de compromisso total com as fases espontâneas mas também uma ausência de humildade e noção que era preciso fazer o trabalho mais árduo para chegar ao tão desejado resultado. Eddie Jones preparou mal mentalmente os seus comandados e acabou por ser atropelado pelas palavras que Warren Gatland tinha deixado durante a semana passada, “há equipas que fazem da sua final o jogo das meias-finais.”.
Os Springboks eram claramente os underdogs deste encontro, não só pelo que a Inglaterra fez durante a fase-de-grupos, quartos e meia-final, mas também pela falta de qualidade e mobilidade no seu ataque, algo vislumbrado isto na meia-final contra o País de Gales. A história jogava contra si pois nunca antes uma equipa tinha sido campeã do Mundo com uma derrota registada na fase-de-grupos, somando-se o facto que o detentor das Tri-Nations/Rugby Championship do mesmo ano que o Mundial nunca conseguiu antes conquistar a Webb Ellis Cup.
Mas o que conta é o que se passa dentro de campo durante aqueles últimos 80 minutos e nesse período de jogo a África do Sul foi genial em quase todos os parâmetros, especialmente no kick and chase (Pollard hoje voltou a aparecer, liderando bem as acções de recuperação de bola) e na contra-reacção após a placagem, forçando uma série de penalidades à Selecção da Rosa.
Os Springboks efectuaram um jogo simples, destrutivo e sem intenções de abdicar da fisicalidade pura e dura, com a vontade de quebrar mentalmente a vontade da Inglaterra em jogar rápido e apostar numa estratégia mais acelerada, precipitando os seleccionados de Eddie Jones a cair para um “buraco” táctico caótico. A Inglaterra em vários momentos da final quis praticar o mesmo tipo de estratégia da África do Sul, só que sem a intensidade e destreza mental que apresentaram no encontro da meia-final…sem isso, era e foi impossível quebrar com os novos campeões do Mundo.
Rassie Erasmus em dois anos conseguiu pegar na pouca “argila” que existia na África do Sul e com ajuda dos atletas que actuavam em território europeu montou uma selecção bem estruturada, inteligente e que mesmo não praticando um rugby positivo, conseguiu fazer o suficiente para erguer a Webb Ellis Cup 2019!
CHESLIN KOLBE VAI SUBIR AO RUGBYLIMPO?
Os escolhidos para o prémio Melhor do Mundo do Rugby foi no geral uma “farsa” já que houve opções inacreditáveis e ausências inexplicáveis, como Maro Itoje, Semi Radradra e Beauden Barrett. Contudo, estavam dois dos jogadores que mais mereciam constar na lista e um deles no final tem que ser o detentor deste prémio: Cheslin Kolbe. O pequeno ponta dos Springboks tem uma história mais engraçada que Siya Kolisi, já que foi constantemente olhado de lado pela maioria dos adeptos, comentadores e treinadores sul-africanos, apesar de um brilhantismo total demonstrado pelos Stormers durante anos a fio.
Pela forma como estava a ser recusada a sua entrada nos Springboks, Kolbe foi de “armas e bagagens” para a Europa e pelo Toulouse demonstrou novamente todas as características que marcaram a sua passagem pela franquia sul-africana da Cidade do Cabo: velocidade imparável, uma troca de pés ilegível e impossível de parar, um leitura de jogo soberba e um compromisso total com a intensidade de jogo. Esta qualidade de jogo de Kolbe foi de encontro ao que Rassie Erasmus desejava e o seleccionador sul-africano fez a escolha certa quando entregou a camisola 14 durante o Rugby Championship e o Mundial de Rugby.
No final, o ponta fez os seguintes números: 4 jogos, 3 ensaios, 284metros, 28 placagens (89% de eficácia), 7 quebras-de-linha, 21 defesas batidos e só 6 erros com a bola em seu poder. Números a altura de um novo “Rei” da bola oval?
ALL BLACKS MOSTRAM O QUE DEVIAM TER FEITO NA MEIA-FINAL
Chegou 6 dias depois, mas chegou para pelo menos demonstrar que a Nova Zelândia ainda é um dos titãs do Mundo do Rugby a par da África do Sul e Inglaterra… a vitória incontestável contra um País de Gales (demasiadamente alterado) cinzento foi como um “adeus” menos amargo para a selecção que era considerada a candidata número 1 a conquistar o troféu, mas que não chegou lá à conta de uma das suas piores exibições em mundiais de rugby.
Ben Smith, Sonny Bill Williams, Ryan Crotty, Matt Todd e Kieran Read puseram um ponto final na sua carreira como atletas dos All Blacks, com o nº8 a fechar com 89% de vitórias nos 122 jogos que actuou pela Nova Zelândia. Essencialmente foi o final de uma história para se abrir outra, agora diferente já que não haverá Steve Hansen no comando, ficando no ar as dúvidas de quem é que vai assumir a cadeira mais desejada das selecções mundiais.
Olhando para o elenco escolhido para o 3º/4º lugar, ficou a dúvida se este não teria sido a melhor solução para o jogo contra a Inglaterra… Rieko Ioane pode não ser tão vibrante como Sevu Reece, mas não se esconde nos momentos difíceis e é um chaser de melhor qualidade; Ben Smith traz toda uma experiência e capacidade de decisão ao jogo que George Bridge ainda não consegue mostrar; e a dupla Ryan Crotty e Sonny Bill Williams pode jogar de uma forma mais simples sim, só que é uma simplicidade bem executada e que dá avançado territorial e controlo dos timings de jogo.
O fim de uma era… será o fim também dos AllBlacks, a selecção que nos últimos 10 anos dominou por completo o Mundo do rugby?
OS ACCOLADES DA RONDA
Melhor Jogador: Handré Pollard (África do Sul)
Melhor Marcador de Ensaios: Ben Smith (Nova Zelândia) – 2
Jogador “truque” da Fantasy: Joe Moody (Nova Zelândia)
Maior Desilusão: três-de-trás inglês completamente adormecido e apático no jogo da final;
Pormenor da Semana: Siya Kolisi a levantar a Webb Ellis Cup;