RWC19 1/2’s final: Eddie Jones atira os bicampeões ao tapete
A queda abrupta mas totalmente justa da Nova Zelândia aos pés de uma Inglaterra assustadora em dimensão defensiva foi o grande destaque das meias-finais do Campeonato do Mundo de 2019, oferecendo uma reedição da final de 2007 entre Springboks e Rosa. Mas quem tem o favoritismo na mão?
A análise às meias-finais do RWC 2019!
A ANULAÇÃO DOS ALL BLACKS SEGUNDO A LEI DE EDDIE JONES
É Eddie Jones ou não o melhor treinador do Mundo do rugby do século XXI? Claro que é uma afirmação muito discutível já que acima (ou no mesmo patamar) estão Graham Henry, Steve Hansen, Jake White, Jamie Joseph, Clive Woodward, Warren Gatland, Joe Schmidt, entre mais uns quantos, que conseguiram os feitos de levantar um Rugby World Cup ou outras provas de elevada dificuldade. Mas Eddie Jones tem deixado um legado e uma pegada tão profunda pelos clubes e selecções por onde passou, que será impossível não colocá-lo entre os dois melhores dos últimos 20/25 anos.
Na meia-final do RWC 2019, a selecção da Rosa tinha a difícil missão de derrubar os All Blacks, os bicampeões em título, não esquecendo que não conseguiram qualquer vitória ante os neozelandeses durante estes quatro anos da Era Jones (também só jogaram um único jogo, em Novembro do ano passado). Como desmontar um colectivo que dominou todos os seus adversários durante esta edição nipónica do Campeonato do Mundo? Numa palavra: pbressão.
Parece fácil só mencionar o conceito de pressão, existindo outras tonalidades importantes claro, mas é fundamental perceber que os ingleses ao asfixiarem não só os manobradores de bola como quem fazia a primeira ou segunda fase de entrada simples tiraram por completo os All Blacks da sua zona de conforto (as placagens a Kieran Read ou Broadie Retallick com os dois a serem atirados para trás).
Mesmo com Beauden Barrett a somar 110 metros com a oval na mão (foi de longe o jogador que mais metros galgou no encontro), 3 quebras-de-linha, 5 defesas batidos e 8 conquistas de linha de vantagem, nunca existiu uma fase seguinte rápida e/ou eficiente, muito devido à agressividade imposta pela Inglaterra quer na disputa do breakdown (geniais a recuperar a bola no chão) ou no subir imediatamente na linha, tirando espaço a George Bridge, Sevu Reece, Richie Mo’unga ou Anton Lienert-Brown.
A pressão extrema, aliada a uma segunda cortina defensiva de excelência e a uma reacção explosiva no breakdown foram elementos que destruíram por completo a manobra ofensiva da Nova Zelândia, engolidos por completo perante um conjunto inglês mais focado e concentrado em manter uma estratégia simples e eficiente. Apesar das 36 placagens falhadas em 140, a verdade é que é impossível não dizer que a Inglaterra não foi só dominante como mais apaixonante durante os 80 minutos.
Eddie Jones tem dado espectáculo neste Mundial de Rugby e o troféu que lhe foge desde sempre (só ganhou um mas no lugar de adjunto e conselheiro de Jake White na África do Sul) pode estar prestes a chegar… basta fazerem mais uma exibição de sonho e está feito.
A REGRA DO PONTAPÉ E DE UM JOGO MONÓTONO
Foi essencialmente um jogo táctico entre galeses e sul-africanos, mais dedicado ao jogo ao pé do que fazer a bola oval ganhar velocidade, naquilo que pôde ser facilmente considerado como um encontro monótono, pouco eléctrico mas com uma paixão irresistível dos dois lados.
No final dos 80 minutos, foram os Springboks a fugir com a vitória com uma excelsa conversão de Handré Pollard a pôr fim ao cenário de prolongamento, depois de um combate intenso, fisicamente exigente e que teve os seus heróis. Pieter-Steph du Toit foi um devorador de galeses ao terminar com 19 placagens e 2 turnovers, ladeado por Lood de Jager e Siya Kolisi, mostrando-se às possíveis anti-fugas da equipa europeia. Contudo, e apesar da excelente prestação defensiva da avançada sul-africana, não houve domínio claro destes sob o País de Gales, mostrando que a monumentalidade dos oito avançados Springboks não é assim tão clara.
Rassie Erasmus montou uma equipa solidária, trabalhadora e que não se deixa ir nas provocações do adversário, pelo contrário, prefere que sejam os Springboks a irritar quem está do outro lado, instigando um estilo muito próprio e associado com a cultura de rugby da África do Sul que conquistou o Mundial em 2007.
Existe também outro factor fundamental: a conquista de metros ao pé. Já tínhamos aludido que ia ser fundamental ver como o três-de-trás do País de Gales ia encarar os consecutivos pontapés dos Springboks, ficando na retina a dúvida se conseguiam ou não sobreviver à exigência física de recuperar a bola e sair a jogar.
A África do Sul ganhou 931 metros ao pé, com Faf de Klerk a assumir as despesas na maioria das ocasiões, o que forçava aos galeses recuar, recuperar e voltar a atacar. Porém, este processo do recuperar e voltar atacar começa a ser um sacrifício duro quando está do outro lado uma equipa que praticamente não falha na primeira placagem, como foi o caso dos Springboks que terminaram com 93% eficácia… ou seja, em 147 placagens só falharam umas meras 11.
Uma defesa resiliente, fisicamente intensa e que recupera com rapidez do chão são chaves que ajudam a explicar a ida até à final dos Springboks. Merecido, diga-se.
COMO O BANCO DE SUPLENTES AJUDA A DITAR UMA DERROTA
De favoritos à conquista do Campeonato do Mundo para eliminados nas meias-finais, de equipa temida para um conjunto de jogadores que foram desarmados na primeira-parte pela Inglaterra, esta foi a queda dos All Blacks neste RWC 2019. A Inglaterra fez um jogo em muitos sentidos perfeito na meia-final, mas há também demérito da Nova Zelândia tanto pela forma como abordou o encontro (passividade junto aos rucks, ausência de uma voz de comando decisiva quer de Whitelock ou Read) ou pelas escolhas que os selectors efectuaram para este encontro.
Jordie Barrett, Sonny Bill Williams, Scott Barrett são três nomes que merecem algumas apreensão… o irmão mais novo dos Barrett tem falhado consecutivamente em mostrar um rugby minimamente coeso frente às principais selecções (um ensaio contra a Irlanda aos 80 minutos vale de praticamente nada em termos de argumentação em sua defesa) e frente à Inglaterra parecia perdido no jogo. SBW serve para jogos contra selecções como a África do Sul ou País de Gales, mas frente a rush defense é um problema na forma actual que apresenta (e não, não era Ma’a Nonu a resposta). E Scott Barrett, escolhido como asa fechado para este jogo… no papel parecia uma escolha acertada e que poderia surpreender a Inglaterra, mas acabou por passar completamente ao lado, com o asa a ser um corpo estranho dentro do XV dos All Blacks.
Faltou BenSmith, faltou Ryan Crotty, faltou Rieko Ioane, não há dúvidas disto… George Bridge e Sevu Reece não tiveram capacidade de rasgo, apesar de terem tipo boas oportunidades para ferir a defesa da Inglaterra, a dupla ALB e Goodhue foi disfuncional, não dando segurança e outra estabilidade a Richie Mo’unga entre outros pormenores que podem ajudar a perceber a queda dos All Blacks.
Para quem teorize que os neozelandeses já não são a mesma selecção dominadora e que assume um poder avassalador sobre os seus pares é só ver os números entre 2016 e 2019: 44 vitórias, 7 derrotas e 3 empates. A Inglaterra de Eddie Jones segue-se atrás com 41 vitórias, 9 derrotas e 2 empates, e parece normal esta ascensão da Rosa em 2019, merecendo “teoricamente” o título de melhor selecção do Planeta da Oval (e Rassie Erasmus desde que assumiu os Springboks apresenta números “médios” com 15 vitórias, 7 derrotas e 1 empate, ou seja, apenas 50% de vitórias desde que assumiu o cargo).
OS ACCOLADES DA RONDA
Melhor Jogador: Maro Itoje (Inglaterra);
Melhor Marcador de Ensaios: Manu Tuilagi (Inglaterra), Ardie Savea (Nova Zelândia), Damian de Allende (África do Sul) e Josh Adams (País de Gales)
Jogador “truque” da Fantasy: Sam Underhill (Inglarerra);
Maior Desilusão: Samuel Whitelock (Nova Zelândia) – não foi o líder que a Nova Zelândia precisava;
Pormenor da Semana: