Conversa de cabine nº1 com Luís Pissarra – World Rugby Trophy 2018

Francisco IsaacAgosto 29, 20185min0

Conversa de cabine nº1 com Luís Pissarra – World Rugby Trophy 2018

Francisco IsaacAgosto 29, 20185min0
O Fair Play continua no acompanhamento à selecção sub-20 e hoje lança a conversa de cabine nº1 com Luís Pissarra. O World Rugby Trophy 2018 aos olhos do seleccionador nacional

Portugal conquistou 4 pontos importantes no primeiro encontro frente ao Canadá, seguindo-se as poderosas Fiji. A selecção do Pacífico tem um rugby demolidor, muito assente nos offloads rápidos, na intensidade no ataque à linha de defesa, no elevar de ritmos de jogo “nocivos” a defesas mais estáticas e agressivos na placagem e contra-ruck.

É portanto o adversário nº1 de Portugal, que cresceu claramente nos últimos dois anos, deixando de lado a imagem de um elenco de jogadores fisicamente fortes mas pouco expeditos. Existe agora uma clara noção de respeito pelo adversário e o regresso ao escalão “A” das selecções nacionais de sub-20 é um objectivo claro.

Ganharam por 55-34 ao Uruguai, num jogo de muitos pontos mas com defesas pouco em forma… os teritos placavam mal a nível individual mas respondiam muito bem no breakdown. Os fijianos placavam com um índice de agressividade alto, contudo efectuavam um número alto de faltas no chão, reagindo por vezes bastante mal em termos de organização pós-penalidade… o Uruguai aproveitou o espaço concedido para marcar três ensaios a partir de faltas rápidas.

Na formação-ordenada as Fiji foram dominadas pelo Uruguai, que continuam na senda de serem uma autoridade neste aspecto de jogo na América do Sul, para depois falharem e muito nos alinhamentos (6 perdidos em 15). Puseram a defesa colectiva fijiana à prova e conseguiram por inúmeras vezes furar o canal exterior de jogo, ou seja, há debilidades de entendimento e comunicação nos fantásticos voadores do Pacífico.

Jogo de arranques muito interessante, o offload assume um princípio fundamental para as Fiji, com 5 dos 9 ensaios a “nascerem” desse factor decisivo de jogo… uma má placagem e os fijianos vão sair a jogar ininterruptamente até à linha de ensaio. Foi assim com o Uruguai e Portugal deve impedir que o seja assim consigo. As Fiji preocupam-se em dar uso à bola de forma veloz, sendo uma das selecções mais vibrantes e desafiadoras no espaço curto. O canal 3 é um claro factor que gostam de aproveitar, mas por vezes cometem erros de hesitação ou interpretação.

O Uruguai placou francamente mal e com o decorrer do encontro começou a ressentir-se do contacto directo com a desenvolvido fisicamente avançada das Fiji. O nº10, Caleb Muntz, é um especialista no jogo ao pé em jogo corrido e que consegue encontrar soluções de ataque em momentos de maior aperto. Mais uma vez, a placagem tem de ser totalmente efectiva e o controlo do breakdown tem de ser dominador.

O factor físico é fulcral para o segundo encontro da fase-de-grupos e Luís Pissarra conversou com o Fair Play sobre este e outros aspectos do pós-jogo frente ao Canadá.

CABINE Nº1 COM LUÍS PISSARRA

Luís, antes de mais parabéns pela vitória contra o Canadá. Na primeira parte houve uma clara falta de adaptação a algumas circunstâncias do jogo.

LP. Realmente, foi um grande sofrimento e estamos, equipa técnica, todos de “rastos”…. mas valeu a pena, os miúdos demonstraram um grande carácter! Começámos efectivamente mal o jogo, bastante apáticos, sendo que uma das nossas estratégias é a nossa defesa de pressão e de apresentação de uma placagem baixa e agressiva e ali claramente contra um jogadores gigantes e fisicamente fortes, tínhamos de fazer isso. Tivemos apáticos na primeira parte, talvez porque esperávamos que estes canadianos se adaptavam ao nosso estilo de jogo, com o intuito de placar muito, defender bem, cortar-lhe os movimentos, recuperar rápido a bola e apostar no jogo ao largo. Mas quer na defesa, que não conseguimos montar o nosso tipo de jogo mais tradicional, e no ataque a nossa ideia de jogar canal 3 nunca executámos.

O Canadá entrou muito bem, colocou-nos muitas dificuldades, a jogar em maul (uma dificuldade do rugby português em defender, que já tínhamos superado em algumas ocasiões), mas no jogo fomos claramente fracos nesse aspecto do jogo. Na segunda-parte conseguimos contornar alguns aspectos, mas não estivemos ao nível que pretendíamos. 

De qualquer maneira falhámos na defesa que queríamos, na velocidade de jogo que queríamos no breakdown, com os canadianos a atrasarem-nos o jogo por diversas vezes, impedindo-nos de jogar no canal 3 como nós pretendíamos.

O que mudou no intervalo? Ficaste satisfeito com a resposta?

LP. No intervalo tivemos uma conversa séria e dura, destacámos três pontos que tínhamos de alterar. Falámos de valores e de orgulho, não tenho dúvida que somos um grupo muito unido e por vezes há que dar um murro na mesa para dar a volta à situação. Os jogadores foram incansáveis na segunda parte, e a forma como tanto se disponibilizaram e a rapidez com que deram a volta ao jogo, colocando maior pressão no resultado.

Podíamos ter resolvido o jogo mais facilmente com mais um ou dois ensaios, mas nos primeiros jogos há sempre erros, hesitações, maus entendimentos, decisões e penalidades. O importante era ganhar, não conseguimos o 2º objectivo que era o ponto de bónus, mas a ansiedade já acabou e agora é ter o foco nas Fiji que estão a jogar muito bem.

E na questão física como está a equipa? Esperavas um jogo com esta intensidade tão elevada?

LP. Estamos bem, o jogo foi duro, muito físico com uma grande intensidade. Normal que estejam algo cansados, mas eles estão habituados a isto e foi para isto que trabalhámos desde Junho. Estamos preparados para este tipo de confronto e intensidade, estávamos preparados para ela e estamos já focados na Fiji.

Portugal entra em campo sábado às 17h00 frente às Fiji num jogo decisivo para o apuramento para a final da competição. O jogo pode ser visionado no site da World Rugby (https://www.worldrugby.org/worldrugbytv/video) e no facebook da mesma organização.

Foto: Federação Romena de Rugby

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