Em honra de quem não merece ser esquecido
Vive-se um momento crítico e de enorme instabilidade no rugby nacional, com a selecção nacional a atravessar o seu pior período em termos de resultados desde 2014-2015, com os Lobos a terem sofrido seis derrotas em dez jogos, a última a mais pesada de sempre da história da selecção nacional masculina. Sabendo que há enorme pressão para que se falem dos problemas e de como se chegou a este ponto, opto por querer fazer uma saudação e honrar o trabalho de alguns protagonistas do rugby português que, infelizmente, foram colocados de lado por razões nada claras e aceitáveis. Em honra daqueles que merecem ficar na história do rugby nacional; em honra de quem quis fazer a diferença sem querer ser o ponto central da história.
Comecemos por Henrique Garcia, Francisco Branco, Rui Carvoeira e Tomaz Morais, quatro dos alguns obreiros por detrás daquilo que vieram a ser as melhores gerações do rugby nacional português. Desde o desenvolvimento das academias regionais e da mensagem que estas queriam passar aos jovens atletas, à lógica por detrás da passagem de sub-16 para sub-18 e subsequentemente sub-20, estes quatro montaram uma lógica que foi decisiva para o que veio a seguir. Poderão existir pontos de discordância tanto em certos modelos competitivos ou convocatórias feitas, mas no cômputo geral, o trabalho realizado foi extraordinário e influenciou o destino do rugby nacional masculino.
Apesar de muitos desconhecerem destes feitos e de outros quererem omitir totalmente o que foi alcançado por este quarteto, é bom que os adeptos portugueses tenham plena noção de que os Rodrigo Marta, Raffaele Storti, João Granate, Diogo Hasse Ferreira, Simão Bento, Pedro Lucas, David Wallis, José Madeira, entre outros, atingiram um nível de excelência altíssimo devido, em parte, ao seu trabalho.
Francisco Goes, que em Janeiro abandonou a FPR, pelo carinho, atenção e esforço para dar um eco ainda maior ao trabalho do rugby feminino, dando uma preciosa ajuda a João Moura para que as Lobas conseguissem respirar e realmente ter um lugar ao sol, lutando contra aqueles que não viam/vêem qualquer utilidade no rugby jogado por mulheres.
A Patrice Lagisquet tanto por aquilo que conseguiu antes do Mundial de Rugby 2023, como durante a competição, tendo o antigo seleccionador nacional alertado para os vários problemas inerentes à Federação Portuguesa de Rugby. Foi forçado a abandonar o projecto depois de anos de serviço, mantendo-se na liderança dos Lobos mesmo quando existiram tentativas para que se demitisse durante a preparação para o Mundial de 2023.
A Luís Pissarra, que também esteve envolvido no trabalho de formação para depois aceitar o cargo de treinador-adjunto de Patrice Lagisquet, tendo dado mais de uma década à Federação Portuguesa de Rugby. Foi fulcral para que os Lobos sub-20 atingissem aqueles resultados inesquecíveis, transmitindo qualidades e competências que fizeram a diferença no ciclo mundialista de 2023. Apesar de toda a dedicação, conhecimento e experiência, foi colocado de lado por inveja de alguns que não aceitavam o sucesso que alcançou entre 2017 e 2023.
A Fernando Murteira que foi um director de equipa de inegável qualidade, dando minutos, horas, dias, semanas, anos e décadas de serviço ao rugby nacional, acabando por sair de uma forma oca e estranha.
Existem muitos outros que foram fundamentais para o reerguer do rugby português após os anos devastadores de 2013, 2014 e 2015, e que mereciam que a modalidade estivesse noutro patamar depois de todo o sacrifício imposto. Melhores dias virão, e mesmo que não venham é impossível apagar o legado deixado por quem realmente quis ser parte da mudança, não deixando os sentimentos de inveja, ciúme e de egoísmo excêntrico tomar conta da sua agenda.