Rugby e o Jiu Jitsu Brasileiro

Fair PlayFevereiro 18, 20206min0

Rugby e o Jiu Jitsu Brasileiro

Fair PlayFevereiro 18, 20206min0
O Jiu Jitsu brasileiro teve um impacto no rugby maior do que a maioria pensa e Frederico Melim explica as ligações e bons exemplos da ligação entre as duas modalidades!

Tana Umaga, Tiago Girão, David Pocock, Gonçalo Foro,…o que têm estes nomes conhecidos de todos em comum? Todos eles foram e são grandes jogadores de Rugby mas também adeptos e praticantes de Jiu Jitsu Brasileiro, como muitos mais hoje em dia num crossover após reforma ou apenas adição ao seu treino diário.

As equipas Australianas de elite de Rugby League e também muitas Sul Africanas de Rugby Union já incluem treinos desta arte marcial que apresenta muitíssimas similaridades com o desporto da bola oval sendo mesmo bastante complementar, ajudando numa melhoria extraordinário física, psicológica e técnica dos mesmos.

Como é comum, jogadores e treinadores de Rugby de Elite procuram sempre aquela vantagem extra sobre os seus oponentes, sendo a federação Escocesa um excelente exemplo apresentado no seu curriculum um módulo no seu Curso de Treinadores focado especificamente em métodos e estratégias de treino inovadoras, obrigando-os a procurar e pensar fora da box.

De modo a fazer estes treinadores pensar, apresentam os mais variados puzzles e situações como: Devem chutar dentro dos 22m para fora quando têm números e vantagem no lado aberto? Devem fazer chutos up&under quando só têm 75% de probabilidade de recuperar a bola? Etc…

As mais visíveis e recentes inovações estratégicas no jogo têm se focado na zona da placagem. Como vemos mais frequentemente, especialmente no hemisfério Sul nomeadamente Super XV, tornou-se comum uma reduzida disputa de rucks para organizar uma linha defensiva mais rápida, com mais números e alargada.

Hoje em dia, no entanto, estamos a discutir inovações fora do campo onde é já comum e normal no Rugby League e seus “super atletas” e cada vez mais importante com os estudos cada vez mais fundamentados dos perigos das placagens mal efetuadas tanto para o placador como para o placado. O surgimento e crescimento de Treinadores de Contacto e o uso tanto do Wrestling como o Judo, mas mais importante técnicas de Jiu Jitsu para melhorar a velocidade e resposta na zona da placagem.

Porquê o Jiu Jitsu?

No ínicio dos anos 2000 vimos equipas da Australian Rugby League, onde o expoente máximo eram os dominadores Melbourne Storm, a introduzir este Contact Coach cuja função era melhorar o tão importante controlo corporal dos seus jogadores. Assim como em Rugby Union, a pressão ofensiva é determinada pela velocidade com que o breakdown é jogado, na qual quanto mais rápida a limpeza da bola da área da placagem, menos tempo tem a linha defensiva de se organizar e avançar. No caso do Rugby League ainda se torna mais vital pois a linha defensiva tem de ainda recuar mais 10m depois da placagem. Para as equipas jogarem “bola rápida”, significa que a defensa invariavelmente tem de estar num processo de recuo em vez de subida quando a próxima jogado acontece. Isto torna-se, evidentemente, numa vantagem enorme da equipa com a posse de bola.

Nesta altura os media australianos tornaram-se bastante críticos por causa do “Grapple Tackle” que os Melbourne Storm desenvolveram com o seu treinador. Quando pensamos na placagem, pensamos principalmente na colisão de corpos mas na realidade pode existir bastante tempo disponível entre a colisão e o que é considerado uma placagem terminada.

Segundo a Lei 15.4 “When a player tackles an opponent, and they both go to ground, the tackler must immediately release the tackled player.”, que é bastante restrita e fechada a interpretações por parte dos árbitros, originando em penalidades para as placagens cujo placador não liberte imediatamente o jogador placado. Ora este tempo entre o “começo e fim” de uma placagem foi bastante explorado em Rugby League pelos Storm que se focaram na sua estratégia de controlo corporal dos seus oponentes não os deixando rolar rápida ou facilmente para poderem legalmente jogar a bola disponível. Este movimento reduz tempo precioso e bastante energia aos adversários tornando-se num trunfo importante para a defesa.

Todos estes jogadores treinam e focam-se no controlo do corpo do jogador placado, agarrando, prendendo e fixando a zona do pescoço e da cabeça impossibilitando ou dificultando que o mesmo se mexa ou o faça com força suficiente para se libertar fácil ou rapidamente, através de táticas e técnicas de Wrestling e Judo religiosamente.

No entanto, Wrestling e Judo, apesar de excelentes complementos, ensinam técnicas de controlo corporal altas ou de um posição de topo. Assim como no desenvolvimento do Rugby e do seu mantra de ser um desporto para todos os tipos de corpos e formas, o desenvolvimento original do Jiu Jitsu Brasileiro partiu do facto de atletas mais “pequenos” precisarem de encontrar formas de competir contra este tipo de técnicas e adversários.

Com o domínio por parte dos Melbourne Storm e com os perigos que acarretavam estas técnicas que usavam control da cabeça e pescoço, foi proibido o “Grapple Tackle” para garantir a integridade física dos jogadores envolvidos. No entanto, já outras equipas de Rugby League recrutaram treinadores de Jiu Jitsu Brasileiro para anular a eficácia deste tipo de placagem. Estes treinadores ensinavam muitas manobras técnicas básicas que, hoje em dia, os jogadores todos usam para se levantarem e se recuperarem rapidamente do chão após a placagem. Isto inclui formas de sair debaixo de oponentes maior fisicamente e progredir para reconquistar a posição de pé, usando a força do oponente, de modo a que não permitam um abrandamento da bola rápida que tanto procuram e usam.

No caso de Rugby Union vemos faz alguns anos algo bastante usado e extremamente eficaz defensivamente pela Irlanda conhecido como o “Choke Tackle”, sendo que em Portugal é uma imagem de marca desde sempre do Sebastião Cunha por exemplo, na qual o adversário no contacto é placado e agarrado abaixo da linha do sovaco e dos braços na qual se juntam mais jogadores defensivos, tornando a bola impraticável e “presa” levando a penalidades ou a uma redução significativa do tempo do ataque jogar rápido.

O Jiu Jitsu Brasileiro é uma excelente forma também para os jogadores de Rugby já na reforma de continuarem a competir, sendo que o mesmo é dividido por peso, idade e técnica aprendida através dos vários cinturões existentes, categorias de peso e de idade, tornando-o super seguro e interessante podendo ser praticado bem até os 60/70 anos como vemos hoje em dia. A nível pessoal comecei a fazer em 2012 Jiu Jitsu Brasileiro quando jogava no Belenenses e conquistei títulos de campeão Nacional e em Opens Internacionais, para além de ter sido três vice Campeão Europeu e atualmente faixa preta.


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