Sharks estilhaçam anti-placagem Blues – Ronda 7 Super Rugby 2018

Francisco IsaacAbril 1, 20189min0

Sharks estilhaçam anti-placagem Blues – Ronda 7 Super Rugby 2018

Francisco IsaacAbril 1, 20189min0
Tana Umaga deve explicações ao seu público de Auckland e ao rugby neozelandês. Os Sharks estrilhaçam os Blues e relançam a luta pelo um lugar nos Playoff

TANA UMAGA… É ALTURA DE MUDAR OU DE SAIR

É inacreditável a forma como os Blues se apresentaram na hora da placagem, com uma série de erros de principiante que devem colocar sérias dúvidas à capacidade de Tana Umaga em liderar uma equipa de rugby.

Ao fim de quase dois anos ao leme da franquia de Auckland, os Blues pouco ou (mesmo) nada evoluíram, apresentando erros gritantes que têm carimbam-na como a “pior franquia kiwi do Super Rugby.”.

Em 98 placagens, os Blues só completaram cerca de 70%, sendo que 18 das 29 placagens falhadas foram nos últimos trinta metros de terreno com algumas delas a abrir espaço para ensaios da equipa sul-africana dos Sharks.

Ninguém pode tirar mérito à equipa de du Preez, que entrou em Auckland com uma explosão total, colocando os Blues com a “cabeça em água” que ou fracassavam na hora de placar ou cometiam faltas atrás de faltas, com Robert du Preez a converter em pontos (o abertura converteu 7 penalidades e 6 conversões para completar 100% de eficácia em frente aos postes), pondo os Sharks a ganhar na 1ª parte por 26-07.

Ainda houve uma breve recuperação da equipa da casa, que passou daquele resultado para um 28-26 a seu favor. Infelizmente, e mais uma vez, entrou um pânico geral e uma desorganização caótica, com TJ Faiane e Perofeta a chutar a bola para as mãos de Curwin Bosch ou Robert du Preez, que aceleravam e metiam os Sharks a andar para a frente sem parar.

A formação de Auckland acabou por levar uma autêntica tareia nos últimos 20 minutos, com os sul-africanos a atingir a sua melhor vitória de sempre na Nova Zelândia com um 63-40 final.

Umaga não tem desculpas neste jogo, em que os únicos culpados são os jogadores neozelandeses dos Blues que não souberam organizar-se, não trabalharam decentemente no apoio ao portador da bola (quantas vezes perderam a oval nos rucks ou em pontapés mal atirados) e deram sempre primazia de jogo aos Sharks.

Parece mais um ano para esquecer dos Blues e Umaga está sem grandes soluções para se salvar. Vão conseguir relançar-se ou esta foi a história dos Blues no Super Rugby 2018?

BEN LAM GANHA A MÃO COM UM POKER!

E chega o primeiro poker do ano num jogo que supostamente seria muito competitivo de acordo com os jornalistas, comentadores e treinadores australianos: Ben Lam marcou quatro ensaios frente aos Melbourne Rebels na Austrália.

Num encontro que terminou em 50-19 (alguém que explique aos australianos que não basta falar, é preciso fazer acontecer) a favor dos neozelandeses, uma segunda parte genial dos Hurricanes permitiu à equipa dos irmãos Savea (Ardie falhou o encontro) e Barrett sair da Austrália com uma vitória fundamental.

Mas vamos por partes, como é que Ben Lam, um suposto desconhecido, conseguiu quatro ensaios? O ponta (que saiu dos Blues em 2017) demonstrou todos os seus atributos como velocista e dotas técnicos (foi internacional pela selecção de 7’s) numa colecção de ensaios que vale a pena relembrar. O primeiro foi uma jogada de Jordie Barrett que cortou a linha dos Rebels e assistiu Lam para um ensaio simples.

O segundo veio a partir de um super up and under de Beauden Barrett, que andou mais de 25 metros, com Jack Debreczeni a deixar bater e a permitir que Lam agarrasse na oval e saísse disparado para a linha de ensaio.

O terceiro foi mais uma jogada daquelas rápidas dos neozelandeses de Wellington, com West a arrancar e a furar a linha, transmitindo a oval para Aso (grande regresso à titularidade) com o centro a fazer uma assistência simples e fácil para o ponta. E vão três!

O último foi praticamente uma cópia do anterior, com Jordie Barrett a fazer um passe meio-mágico e meio-torto para Goosen conseguir fugir e meter a bola em Lam, com o ponta a voltar a “enterrar” a bola na área de validação.

Num ano em que Skudder continua lesionado, esta nova adição ao plantel dos Hurricanes tem dado outra dimensão ao flanco com um super-velocista que não é facilmente parado. Excelente reforço, a par do novo nº8, Gareth Evans (ex-Highlanders) que marcou um ensaio extraordinário.

A SINFONIA DE STRAUSS EM PRETÓRIA

Adriaan Strauss, tanto se escreveu sobre a falta de capacidade em liderar do talonador ex-Springbok, para além de se afirmar que o nº2 não era um jogador de qualidade para o rugby sul-africano. A verdade é que Strauss continua a bater recordes aos 32 anos de idade, sendo neste momento o jogador sul-africano com mais jogos no Super Rugby, contando já 149 jogos na competição.

E que melhor para celebrar este feito com um hattrick? É verdade, ao jeito de Malcom Marx (tem sido dos melhores jogadores desta edição da competição, o talonador dos Lions e herdeiro da camisola de Strauss), o talonador conseguiu liderar o maul com excelência, guiando no caminho da linha de ensaio por duas vezes.

O terceiro foi um misto de sorte e inteligência, com Strauss a ficar no fundo do alinhamento e a receber uma bola perdida dos Stormers para captá-la e mergulhar para a área de ensaio.

Os Bulls fizeram um jogo praticamente irrepreensível frente aos Stormers dominando em vários sectores do jogo, com uma agressividade que já tinha sido notada nos encontros com os Chiefs e Crusaders. Com uma avançada (que falhou em algumas fases estáticas) altamente enérgica e dinâmica, castigando os Stormers nos rucks (Strauss foi perito nessa missão), as linhas atrasadas aceleraram o jogo de uma forma que não deram paz a De Allende, Leyd ou SP Marais.

Belo jogo do rugby sul-africano, vale a pena rever!

DERBY AUSTRALIANO DEMASIADO POBRE

Jogo muito pouco entusiasmante em Canberra, entre Brumbies (com o regressado David Pocock) e Waratahs. O que valia este jogo? Recuperar pontos e relançar a campanha por um lugar nos playoff da conferência australiana. Tanto a equipa de Sydney como de Canberra precisavam de fazer algo mais neste encontro, de procurar ensaios, de fazer pontos.

Todavia, tivemos um jogo morno, com várias intenções de acelerar mas sem que ninguém fizesse por isso. Os Waratahs podem queixar-se de um pormenor que funcionou contra esse factor: a lesão de Israel Folau aos 6 minutos de jogo.

Sem o génio dos ensaios e dos metros conquistados, coube a Taqele Naiyaravoro a primazia de mudar as dinâmicas de jogo, conseguindo-o a espaços e sem a mesma intensidade que Folau poria. Mesmo assim dois ensaios para o godzilla australiano, com os 125 kilos à ponta!

Para além disto, pouco se viu das duas equipas que passaram a maior parte do tempo a apostar em fases mais curtas, trabalhando e esperando uma boa oportunidade para abrir a bola e sair a jogar. Os Brumbies bem que tentaram explorar as suas pontas, mas poucas foram as vezes que obtiveram resultados por Speight, Taliauli ou Muirhead.

Os Waratahs assumiram a vantagem desde a 2ª parte e nunca mais perderam, devolvendo bem as penalidades que Hawera tinha convertido nos primeiros 40 minutos. Foley esteve quase perfeito na hora de cobrar os pontapés, dando aos ‘tahs a receita ideal para a vitória.

O jogo foi um dos mais fracos do fim-de-semana, ficando muito aquém dos dérbis na Nova Zelândia ou África do Sul. Será a estratégia de jogo aussie ou é a falta de estabilidade das equipas da conferência australiana?

POUCOS PONTOS… MAS UM DUELO DAQUELES!

Lions e Crusaders reeditaram o duelo da final de 2017, com o mesmo árbitro, Jaco Peyper, a ajuizar um jogo que ia ser “pesado”, intenso e importante para as ambas equipas.

Os Lions desesperados por voltar a ganhar, algo que não acontece desde a ronda 5, depois de derrotas frente aos Blues (casa) e Jaguares (fora). Os Crusaders que necessitavam de reforçar a sua candidatura ao título, num ano em que não estão no seu melhor e dão sinais de alguma fraqueza.

O resultado final 08-14 parece pobre ao primeiro olhar, mas se virem o jogo do princípio ao fim é um dos melhores encontros de toda esta ronda do Super Rugby, munido de emoção, momentos de grande intensidade física, acções inesperadas (quem esperava que Malcolm Marx terminasse o jogo a jogar à asa? Um talonador de “nascença” acabou a jogar na posição de 6!) e capitães a dar o show (um duelo espectacular entre 2ªs linhas, com ambos a levarem a bola por 23 vezes, percorrendo 80 metros com a mesma).

Os Lions tentaram jogar num estilo mais de contra-ataque, ficando à espera de possíveis erros dos Lions para depois manusear a oval o mais rápido possível e explorar o lado de dentro, onde jogadores como Coetzee, Jantjies, Mostert, Voster ou Smith aproveitaram para lançar boas linhas de ataque.

Todavia, os constantes avants ou bolas perdidas no contacto, impediram dos vice-campeões fazerem mais do que um ensaio durante todo o encontro.

Do outro lado, os Crusaders tiveram uma boa dezena de oportunidades para chegar à área de validação, mas pecaram infelizmente na execução das jogadas, com Hunt, o substituto de Mo’unga, a fazer dois passes que davam ensaios mas ambos foram adiantados. Para além disso, offloads mal esboçados, bolas perdidas no ruck foram quase “regra” nos campeões em título.

Então onde esteve a diferença? No domínio territorial e no aproveitamento das oportunidades. Os Lions tiveram no total 4 claras situações de ensaio, os Crusaders 14, sendo que estes conseguiram 14 pontos (ensaios de Whitelock e Goodhue) enquanto que os sul-africanos só foram aos postes por uma vez na 2ª parte, não conseguindo acrescentar mais nenhum ensaio para além do 1º.

Infelizmente, a equipa da casa parece estar longe dos seus melhores dias e as três derrotas consecutivas devem preocupar os adeptos da formação de Joanesburgo. Os Crusaders conquistaram 4 pontos preciosos numa deslocação sempre complicada mas que só tem dado boas lembranças desde 2017.

DESTAQUES

MVP da Ronda: Robert du Preez (Sharks)
Jogo da Ronda: Blues-Sharks
Placador da Ronda: Samuel Whitelock (Crusaders)
Agitador da Ronda: Ben Lam (Hurricanes)
Vilão da Ronda: Tana Umaga (treinador dos Blues)


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