Rugby Feminino em Portugal, algumas considerações – Coluna Luís Supico
No plano de desenvolvimento do rugby feminino 2019-23, a Federação apresenta ideias e soluções centradas no seu crescimento com a finalidade de chegar ao rugby de XV, passando numa primeira fase já em curso de rugby de XIII (para as equipas já capazes do mesmo) e de X (para quem não o consegue), não esquecendo os Sevens a certa altura do calendário, bem como as academias regionais – uma estratégia compressível, sob o ponto de vista de João Moura, o responsável para o rugby feminino.
Houve também desenvolvimentos recentes a nível internacional com o anúncio da World Rugby Challenger Series – fase de qualificação para o HSBC World Rugby Series (o campeonato mais alto de selecções de Sevens) – sem contar com a vertente de Sevens nos Jogos Olímpicos desde 2016, que dão força àqueles que preferem manter/dar primazia ao rugby de Sevens em Portugal.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra já que, na minha opinião, é possível ambos – mas de forma diferente ao que está estipulado.
Penso que é óbvio que em Portugal as equipas femininas apenas conseguem crescer com Sevens: são poucas as equipas, com plantéis curtos, o que implica não haver muita margem de manobra e ao mesmo tempo bastante sacrifício dos clubes e das jogadoras para conseguirem fazer uma época em condições. Aumentar o número de jogadoras dentro de campo irá asfixiar e, eventualmente, matar o rugby de clube em Portugal. Mas sou a favor de termos rugby de XV, tal como a vertente masculina. Como? Dando os Sevens aos clubes e o rugby de XV a franquias (ou selecções regionais, se se quiser assim chamar).
Num calendário onde apenas dependemos de nós e não contamos com compromissos internacionais, conseguimos fazer Sevens até Dezembro (equipas e jogadoras a começar/voltar de férias/lesões), onde os clubes se organizam como tal: jogadoras treinam nos seus clubes, com os seus treinadores, campeonato entre clubes, etc.; de Janeiro a Março/Abril, rugby de XV com os clubes a se juntar em Franquias/Selecções se não têm hipóteses de o fazer sozinhos e, a partir de Abril/Maio até Junho, Sevens de novo. Dando um exemplo muito simples:
Campeonato de Sevens – Sporting, Benfica, Agrária, Bairrada, Tondela, Sport, Panteras (Cascais/Galiza), Caldas, São Miguel/Belas (tendo em conta as equipas presentes esta época, pode-me estar a faltar uma ou outra);
Campeonato de XV – Sporting, Benfica, Norte (entre Agrária, Bairrada, Tondela e Sport) e Sul (entre Panteras, São/Miguel Belas).
Ou seja (e tendo em conta só esta época), é possível fazer rugby de XV com quatro equipas e rugby de Sevens com nove ou mais, onde o rugby de sevens desenvolve o rugby local e o de XV desenvolve o regional/nacional.
Tenho para mim que o rugby feminino será o lugar do próximo “boom” mundial do nosso desporto e muito se vai dever aos Sevens de nível internacional. Não só temos excelentes jogadoras e treinadores nacionais, que podem dar cartas lá fora, como temos também a hipótese de apanhar estas competições (World Series e Jogos Olímpicos) muito no princípio e com maior facilidade de entrar nos mesmos, por muito que isso seja difícil – acreditem, será muito mais difícil daqui a 3/4 anos. Não é só bom para os clubes e atletas nacionais esta aposta nos Sevens, é bom para a FPR (a nível financeiro) já que é nas competições internacionais onde está o dinheiro, tão necessário ao rugby nacional; isto tudo enquanto apostamos, também, no rugby de XV, tal como delineado no plano de desenvolvimento, mas em forma de franquias/selecções regionais.
Esperemos que o excelente trabalho deixado por João Moura na ARS tenha seguimento no Feminino. (Re)conhecendo o que tem feito, tudo aponta que sim.