Internacionais de Verão: Sob a lei do pé de Sexton a Irlanda ganha!

Francisco IsaacJunho 19, 201811min0
Jonny Sexton regressou, marcou pontos e deu a força necessária para repor as Series frente à Austrália empatadas! Mas a Irlanda mudou muito a sua forma de jogar?

SEXTON DE VOLTA AO COMANDO, MR. SCHMIDT

A teimosia de começar com Joey Carbery no primeiro jogo das Series custou caro a Joe Schmidt e a mudança para Sexton prova, em alguma medida, esse facto. O novo 10 do Munster esteve completamente desalinhado a nível de condução de bola e movimentações atacantes, o que forçou Johnny Sexton regressar ao XV inicial da Irlanda… e não é que ganharam?

A selecção do Trevo igualou as Series com uma vitória por 26-21, num encontro que foi praticamente dominado pela formação europeia. Mas como? A Austrália deixou de ter tanta “bola” como aconteceu no jogo 1, com Folau a ser completamente bloqueado pela defesa irlandesa. Veja-se os dados finais do nº15: 50 metros conquistados, dois defesas batidos e só carregou a oval por sete ocasiões.

Ao meter Folau KO (Michael Cheika queixou-se de algum tipo de jogo ilegal para criar estes problemas ao defesa nos ares), a Irlanda esteve bem mais à vontade, apostando num jogo mais aberto, intenso e acelerado. Sexton foi imperdoável com os seus colegas de equipa, dando ordens a cada nova jogada, fez-se ouvir quando foi necessário corrigir algum problemas e (praticamente) não desperdiçou os seus pontapés.

O ensaio de Kurtley Beale aos 2 minutos foi só um pormenor numa primeira parte bem trabalhada pela Irlanda, que foi nas “asas” de CJ Stander, James Ryan (o 2ª linha realmente é um “monstro” completamente diferente no universo do rugby irlandês) e Rob Kearney para andar para a frente.

Um dos principais destaques veio pela força e elegância do pilar irlandês, Tadgh Furlong. É, sem dúvida alguma, o melhor tighthead prop (o pilar que fica do lado direito) no momento com um poder no contacto fenomenal (o ensaio é uma prova disso mesmo), para além de ser “rei” na formação ordenada, castigando Scott Sio durante várias formações-ordenadas.

O ensaio do pilar é de se ver e rever, para perceber o que há de tão diferente: a linha de corrida começa numa diagonal, com Furlong a aparecer nas costas de Conor Murray… o formação deu a bola o mais rápido possível e o pilar no espaço de 3 metros acelera de uma forma que Reece Hodge não consegue parar de nenhuma forma possível. O toque final com uma mão para marcar o ensaio prova toda o jeito que o avançado tem na hora de atacar a linha de ensaio.

A Austrália, por sua vez, teve vários problemas em conseguir criar uma ligação de fio de jogo explosiva, ficando excessivamente “paralisada” na hora de mexer com as suas unidades mais rápidas. A lesão de Will Genia tirou velocidade aos rucks e a falta de leitura de Koroibete ou Folau em aproveitar o espaço só prejudicou o jogo dos Wallabies.

Segue-se o jogo decisivo…será que a Irlanda vai fazer algo que nunca fez?

UM VERMELHO CONTA A HISTÓRIA DOS ALL BLACKS LES BLEUS?

Protocolo mal construído, árbitro que não teve capacidade de ler a situação com calma e umas Series que podiam estar a ser bem melhores… os All Blacks voltaram a ganhar à França, agora por 26-13, tendo jogado contra 14 durante 68 minutos de jogo.

Porquê? Podem ver o resumo no final desta secção. Benjamin Fall disputou uma bola no ar com Beauden Barrett e embateu contra o médio-de-abertura neozelandês. A decisão? Expulsar o francês porque não se preocupou com o seu adversário.

O vermelho foi excessivo, mas a decisão tomada por Angus Gardener pode ser entendida como “normal”, pois o australiano é um típico caso de exibições em montanha-russa. Não sabe falar com os jogadores, assume uma postura completamente errada e tanto ameaça com cartões, como os dá de uma forma leviana. Steve Hansen, seleccionador dos All Blacks, criticou o vermelho dado e que esta leitura dos regulamentos foi longe de mais, podendo criar problemas para o futuro da modalidade.

A World Rugby retirou o cartão vermelho e pediu desculpa a Benjamin Fall… mas o mal já estava feito, o que prova que é fundamental rever como estão escritas as regras neste tipo de caso.

Regressando ao jogo, como explicar um 26-12, com a melhor selecção do Mundo a jogar contra menos um? A saída de Beauden Barrett foi um factor decisivo, pois o nº10 falhou no teste de concussão, forçando Damian McKenzie assumir a posição de abertura. O jogo neozelandês foi menos “bonito”, pois a electricidade de McKenzie era necessária no três de trás e não na linha de jogo.

Para além disso, os All Blacks cometeram, novamente, uma série de erros com a bola nas mãos… 14 penalidades, 8 delas por “prender” a bola no ruck (novamente Angus Gardener esteve mal na leitura destas situações) demonstram que há um sério problema dos neozelandeses, que passa muito pela falta de explosão e dinamismo da 3ª linha… Sam Cane não dá para tudo, a ausência de Retallick é gritante e Squire ou Whitelock parecem estar “feitos” para outro tipo de rugby

A França fez uma exibição de garra, força e ambiciosa, controlando o jogo em alguns momentos, o que foi surpreendente. Bons ritmos das linhas atrasadas e uma avançada poderosa e dura, permitiram aos Les Bleus avançar devagar no território. Porém, faltou-lhes concretização no ataque, em especial nos alinhamentos nos últimos metros.

Em 9 perderam 4, com outros 3 acabar numa formação-ordenada para os neozelandeses.

Sem Fall, Teddy Thomas e Fickou ficaram sem alguém que os ajudasse a aproveitar os erros dos All Blacks na abordagem da primeira placagem. Sem ter a possibilidade de criar superioridade numérica em situações mais rápidas, a França foi sempre parada no momento certo. Contudo, e isto pode ser um sinal negativo para o futuro dos neozelandeses, voltaram a falhar 29 placagens em 123 tentativas… ou seja, uns magros 76%.

A França esteve muito bem no um para um (Beleau deu um trabalho desumano aos corredores exteriores, com um side step quase mortal em algumas ocasiões), aproveitando a falta de assertividade neozelandesa na hora de defender e criar uma barreira na sua linha de placadores.

Com as Series ganhas, Steve Hansen não está satisfeito com os primeiros ensaios… é altura dos bicampeões mundiais darem a volta e reporem as boas exibições num patamar alto. A França, se tiver confiança suficiente pode fazer surpresa.

INGLATERRA EM CRISE… SEM FIM À VISTA

E Rassie Erasmus conquista o seu primeiro troféu pela África do Sul, guiando os Springboks para uma segunda vitória consecutiva frente à Inglaterra de Eddie Jones. Foi quase como uma repetição do jogo 1 destas Series, com os ingleses a entrarem a “matar” durante os primeiros 15 minutos de jogo. Mas esse 12-00 de pouco ou nada serve quando não se sabe “aguentar” a intensidade de jogo, especialmente no ponto em que se deu jogo a Faf de Klerk, com o pequeno grande formação a dar uma lição aos avançados ingleses.

Não tão bonitoemotivo como o jogo da semana passada, a África do Sul desta vez impôs mais o físico em fases curtas, gerindo o jogo com calma e de forma lógica. Foi apostando na irritabilidade da Inglaterra, que voltou a estar francamente mal na disputa no breakdown com Maro Itoje a ser constantemente apanhado em falta por ficar preso à bola. Mako Vunipola também foi penalizado (com 3 faltas) por fora-de-jogo e por tentar retardar a saída da bola no chão.

Isto são tudo “provas” que a Selecção de Sua Majestade está não só “faltosa”, como fora de forma, chegando tarde aos momentos X do jogo… não consegue capitalizar quando deve-o fazer, parece existir falta de emoção e “fome” de manter um bom ritmo de jogo, acompanhado de uma boa dose de calma e inteligência. Owen Farrell voltou a estar muito longe do seu melhor como atacante, pois à defesa foi dos atletas que mais placou (14).

Aquele duplo moinho entre Ford e Farrell parece ter deixado de estar engrenado e a explicação talvez passa pela falta de participação ofensiva dos asas (Brad Shields ainda tentou correr com a oval, mas Curry fez 1 metro em todo o encontro…) ou da situação de explosão do seu 2º centro e defesa. Será normal que após dois anos de conquistas este tipo de situações aconteçam?

A África do Sul só teve de ser melhor na maioria dos factores, com uma excelente formação ordenada (o The Beast, Tendai Mtawarira está cada vez melhor), um alinhamento prático e rápido (como Faf de Klerk gosta) e um par de combinações bem excitante, com aquele três de trás a funcionar bem (estiveram piores em comparação com o jogo anterior).

A coesão de equipa, o trabalho colectivo e o espírito de união estão cada vez mais solidificados e uma terceira vitória contra a Inglaterra pode fazer maravilhas para uma selecção que procura um bom futuro.

ADIÓS SEÑOR HOURCADE, MUCHA SUERTE

A notícia da semana: Daniel Hourcade sai do cargo de seleccionador da Argentina. A 2ª derrota consecutiva nas Series com o País de Gales foi a última gota de água para o argentino, que não tem tido uns dois anos fáceis à frente dos Pumas. A competitividade demonstrada no Mundial de rugby ainda existe, mas aquela manha, paixão e força parecem estar emperradas em contínuos erros e faltas que a Argentina cisma em fazer.

Se os Jaguares estão bastante bem no Super Rugby, os Pumas já não podem dizer o mesmo. 12 penalidades, 23 erros próprios (perderam 15 bolas em passes e 7 na disputa pelo breakdown) e uma falta absurda de clarividência com a bola na mão, são pontos que explicam os tropeções da Argentina contra uns galeses que foram estupendos a defender (melhor defesa destes Internacionais de Verão pela 2ª vez consecutiva) e bem rápidos a atacar.

O ensaio do País de Gales é um primor, com a bola indo aos saltos de um lado para o outro, sem que nenhum dos Pumas conseguisse pôr fim com uma placagem ao torso. Warren Gatland voltou a dar uma lição ao seu homólogo e parece ter encontrado um rumo mais claro para uma selecção galesa que está em crescendo.

Ross Moriarty (expulso no final do jogo por uma reacção tempestiva a uma primeira agressão de um jogador adversário) está um perfeito líder de equipa e George North está de volta ao seu melhor.

Para Daniel Hourcade é o fim de dois anos tumultuosos… foi quem começou com uma “guerra” contra os All Blacks (criticou desde o Haka aos jogadores, numa espécie de mind game sem nenhum propósito), foi também um dos responsáveis pela directiva que impedia que jogadores argentinos que jogassem fora do país não podiam actuar pela Argentina. Não soube descobrir a fórmula correcta para dar a volta aos Pumas e sai, desta forma, dos Pumas.

O JOGO DA SEMANA: Austrália-Irlanda
O PLACADOR DA SEMANA: Ellis Jenkins (22 placagens)
A MELHOR DEFESA: País de Gales (166 placagens feitas, 90% de eficácia)
O DESBLOQUEADOR DA SEMANA: George North (País de Gales)
O MVP: Damien Allende (África do Sul)
O MELHOR SUPLENTE DA SEMANA: Ardie Savea (Nova Zelândia)
O VILÃO: Angus Gardener (árbitro do França-Nova Zelândia)
A DESILUSÃO: Inglaterra

Para visualizar os jogos na sua totalidade convidamos a efectuar o download do seguinte website: 
África do Sul-Inglaterra
Austrália-Irlanda
Nova Zelândia-França
Argentina-País de Gales


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