Internacionais de Outono #1 – A Ameaça Irlandesa e a Twilight Zone de SBW
O MOMENTO – SONNY BILL WILLIAMS E A “SOMBRA” DO RUGBY LEAGUE
Naquilo que começa a ser uma “visita” normal dos All Blacks à casa da selecção francesa, o jogo entre ambas as formações foi intenso, cheio de detalhes técnicos de topo, exibições individuais de elevado nível, lesões preocupantes (Dane Coles volta a sofrer uma lesão, desta feita no joelho, com uma ausência prolongada de cerca de seis meses) e respostas de força.
A selecção neozelandesa entrou a “matar” e chegou ao intervalo com uma vantagem de 31-05, levando ao público do Stade de France a esperar pelo pior. Todavia, os Les Bleus não baixaram os braços e reconquistaram a posse de bola durante largos minutos da 2ª parte, especialmente a partir do erro de Sonny Bill Wiliams aos 45′.
O centro, que até ao momento estava a realizar uma grande exibição, decidiu atirar a bola para fora após um pontapé de Belleau. O nº10 gaulês atirou um pontapé longo para dentro da área de ensaio, para as mãos de Huget. SBW interceptou a bola, mas invés de tentar agarrá-la, atira-a para fora com uma “palmada” o que imediatamente forçou a Angus Gardener a assinalar falta e a amarelar a acção do bicampeão mundial.
Todavia, o árbitro australiano não se ficou por aí e acabou por assinalar ensaio de penalidade a favor da França, o que despertou uma série de críticas e dúvidas perante esta acção. Na discussão entre o Vídeo-árbitro e o juiz de jogo, ambos concordaram que a bola iria parar às mãos de Huget e que daria ensaio certo à França.
As regras do Rugby Union são diferentes das do League em vários pontos e, de acordo com elas, o cartão amarelo é bem mostrado. O ensaio já levanta dúvidas, pois a argumentação do juiz de jogo é, no mínimo, questionável.
Mas melhor ver para crer e perceber que estas acções são entendidas no Rugby Union como anti-desportivas e anti-fairplay o que só pode significar cartão amarelo e falta.
O DETALHE – APRENDER COM KURTLEY BEALE
O que fez Kurtley Beale frente à Austrália! O super-polivalente australiano, que jogou a defesa frente ao País de Gales, fez uma exibição extraordinária naquele que está a ser um ano estupendo para Beale.
Ante os galeses, o defesa somou 82 metros com a oval nas mãos, conquistando duas quebras-de-linha, assumindo-se como um pêndulo fundamental para o ataque contando com 12 passes, o 3º melhor dos Wallabies.
Em termos defensivos acabou 100% na abordagem ao portador da bola, com 7 placagens em 7 tentativas, duas delas pararam Liam Williams, quando o ponta estava prestes a dar aquela passada final para atacar os últimos metros.
Mas o melhor detalhe de todos de Kurtley Beale foi a jogada do ensaio do próprio: passe ao largo do País de Gales, com Evans a recepecionar bem a oval numa jogada em que tinham algum espaço para atacar, com Kerevi e Beale a defender ao largo. O defesa invés de atacar o corpo de Evans, opta por se atirar à oval… e do nada rouba-a, cai no chão e de forma desamparada volta a levantar-se e a correr sozinho até à área de ensaio.
Estranho? Não, excelência técnica. Beale faz um turnover espectacular quando todos menos esperavam, como se pode ver pela reacção dos jogadores galeses. A placagem é o fundamento do rugby mas se pudermos somar um ataque à oval invés do corpo, pode ser que resulte em algo diferente. Para isso é necessário força de explosão e de braços, técnica de turnover e reacção após ao “roubo”.
A EXIBIÇÃO – UMA EXIBIÇÃO IRLANDESA PARA NUNCA MAIS ESQUECER
A Irlanda de Joe Schmidt continua a impressionar o público da Oval já que no espaço de um ano “arrumaram” com dois recordes, o da Nova Zelândia (em Chicago do ano passado) e o da Inglaterra (nas Seis Nações 2017), abrindo espaço para continuar a brilhar. No fim-de-semana que passou voltaram a fazer algo de surpreendente, uma vitória clara por 38-03 frente à África do Sul.
Os Springboks continuam a desiludir o seu público, com mais uma exibição perturbadora a nível colectivo com várias falhas na linha defensiva: pressão fraca sobre a linha de ataque adversária; velocidade fraca a sair do chão para montar a linha de defesa; e cometer faltas atrás faltas no breakdown ou na reposição na linha defensiva. Este somar de erros permitiu aos irlandeses conquistar 13 penalidades, 8 das quais dentro do meio-campo dos Springboks.
Johnny Sexton realizou uma exibição irrepreensível no que toca às conversões com quatro em quatro, falhando apenas dois pontapés durante 75 minutos. Para além disso, os irlandeses souberam explorar todos os erros da África do Sul, como o ensaio de Andrew Conway. O ponta foi atrás de um up’n’under de Sexton e perante a fraca postura de Skosan ou Coetzee, o ponta irlandês roubou a bola no momento em que esta embate no chão.
Para além disso, a Irlanda foi sempre melhor, mais coesa e fez do seu colectivo uma força imbatível. Já a África do Sul continua muito longe dos mínimos aceitáveis em termos de trabalho de campo e consistência exibicional… por vezes falta liderança, outras alturas falta jogadores que assumam a “frente” e sejam decisivos nos momentos cruciais… é uma mistura de factores preocupante.
Já agora… a África do Sul nos seus 23 convocados tinha 18 jogadores brancos, ou seja, não houve quotas neste jogo, como nunca houve. Há é falta de maturidade, experiência e um treinador que escolha um modelo de jogo que se adapte melhor aos sul-africanos.
O RECORDE – MICHAEL HOOPER, O MELHOR AVANÇADO WALLABY?
Michael Hooper é, neste momento, o avançado australiano com mais ensaios marcados pelos Wallabies, com 15 em 70 internacionalizações isto aos 26 anos de idade. O super-asa Wallaby tem sido um dos atletas mais importantes para a selecção da Austrália, somando não só minutos e jogos, mas também liderando a equipa desde o ano passado, altura em que o capitão, David Pocock, se ausentou em licença sabática.
Hooper é aquilo que se pode chamar um “asa-moderno”, com uma atitude para com o jogo ofensivo diferente em comparação com outros asas como o próprio Pocock, McCaw, Cane, Louw, entre outros. O nº7 aparece com excelência na linha de ataque, surge sempre embalado e consegue aplicar uma velocidade e técnica de pés em poucos segundos.
É um jogador que facilmente joga com o abertura e restantes jogadores da linha de 3/4’s e que tem “olho” para descobrir o espaço.
As dez tentativas de levar a bola provam, em boa medida, o seu à “vontade” para atacar, terminando o jogo como o segundo jogador com mais “carregares” de bola do jogo contra o País de Gales.
Para além disso, Hooper é um defesa “irritante”, conseguindo agarrar e palcar os seus adversários para surgir logo de seguida de pé para mais uma “fornada” de apoio à defesa. Contra os “dragões” foi o melhor placador, com 14 em todo o jogo (100% de eficácia). Hooper merece, a par de Beale, ser nomeado para o prémio de Melhor do Mundo em 2017.
MELHOR JOGADOR: Stuart Hogg (Escócia)
MELHOR ESTREANTE: Bundee Aki (Irlanda)
“PATINHO FEIO” DA SEMANA: África do Sul
MELHOR ENSAIO: Yoann Huget vs Nova Zelândia (min. 26)
MELHOR PLACADOR: Sam Underhill (Inglaterra)
MELHOR JOGO: Escócia vs Samoa