Internacionais de Verão 2021: Austrália e uma vitória memorável com 14

Francisco IsaacJulho 18, 20218min0

Internacionais de Verão 2021: Austrália e uma vitória memorável com 14

Francisco IsaacJulho 18, 20218min0
A Austrália sobreviveu a jogar com 14 durante 75 minutos e ganhou as series frente à França, merecendo um olhar atento neste resumo dos internacionais de Verão 2021

Está encerrada a janela de jogos internacionais do Verão 2021, com a Austrália a conquistar uma vitória para fechar as series frente à França de forma gloriosa, enquanto a Argentina somou a sua maior vitória de sempre em Cardiff, por 33-11, que explicamos como aconteceu neste artigo.

SAMOA ESTÁ NO MUNDIAL DE RUGBY 2023!

No meio desta janela internacional que não tem grande importância para além do ranking e de garantir algum encaixe financeiro em 2021, decorreu a eliminatória da Oceania para o Campeonato do Mundo de 2023, que será realizado em França, entre as selecções da Samoa e Tonga, com o apuramento a ser conquistado pelos Manu Samoa. Depois de na primeira-mão terem vergado o Tonga por 42-13, no segundo encontro os samoanos voltaram a garantir mais uma conquista agora por 37-15, confirmando presença no próximo Mundial de forma directa, depois de terem tido que sofrer na repescagem em 2019, evitando, deste modo, ter de ir por uma via sinuosa e que poderia sempre ter uma surpresa desagradável pelo caminho.

Num duelo de “primos” jogado em Hamilton, Nova Zelândia, a Samoa foi preponderante na primeira-parte, somando 23 pontos contra 3 na saída para o intervalo, fruto de uma avançada não só eficiente nas fases-estáticas, como eficaz no apoio constante e bem articulado com os seus parceiros das linhas-atrasadas, com esta relação simbiótica a resultar em jogadas de alto perigo que acabaram por forçar erros consecutivos a umTonga demasiado preso nos movimentos, revelando alguma falta de treino e a ausência de algumas peças-chave foi determinante.

Micahel Alaalatoa, Rodney Iona e Ed Fidow foram decisivos no seu papel de catalisadores da Samoa, com diversas acções que encaminharam a sua selecção no sentido de garantirem uma vantagem cedo, pondo um fim a qualquer reacção inesperada dos seus adversários, que acabaram também por fornecer as oportunidades suficientes para que Henry Taefu (o centro de 28 anos é um dos elementos-chave, criando um combo de qualidade com o seu abertura, por exemplo) fosse somando pontos a partir de pontapés bem medidos, com uma taxa de 93% de eficácia.

Na segunda-parte surgiu uma ligeira resposta do Tonga, que através de Ben Tameifuna (foi um dos poucos atletas a prescindir das férias profissionais para viajar até ao Hemisfério Sul, isolar-se por 14 dias e jogar ao serviço da sua selecção) e Sione Tuipulotu começaram a crescer e a impor algumas dificuldades à Samoa, passando de 03-23 para 15-26, o que iria, pelo menos, propiciar espectáculo e indecisão até ao apito final, apesar da combinação de resultados ser praticamente impossível de contrariar. Contudo, a dúvida foi finalmente desfeita nos 10 minutos finais, altura em que a Samoa voltou a acelerar a posse de bola e a mostrar-se mais equipa somando então mais dois ensaios para fechar o marcador em 37-15 e assim confirmar a presença no próximo Mundial da modalidade.

AUSTRÁLIA ACORDOU QUANDO MAIS IMPORTAVA

No 3º e decisivo jogo das series entre a Austrália e a França, tivemos indecisão até ao último segundo e bola de jogo, pois os Les Bleus beneficiaram de um último alinhamento a 20 metros da área de ensaio, que acabou por dar em nada graças à acção do 2ª linha Darcy Swain, que prendeu a oval nas suas mãos para descrédito dos seus adversários. Recuemos até ao início do encontro, mais precisamente quando Marika Koroibete, um dos melhores jogadores desta série de três jogos entre estas duas selecções, recebeu um cartão vermelho e foi expulso depois de uma placagem alta que acabou por cair dentro do framework da segurança e preservação física da World Rugby.

A jogar contra 14, os Wallabies tinham de efectuar uma prestação memorável para não só reverter o vermelho, como recuperar de uma desvantagem inicial de três pontos, que veio a subir para 10 passados alguns minutos da expulsão de Koroibete, o que colocou o público do Suncorp Stadium em alerta, apesar de nunca terem perdido a esperança.

O elenco australiano comandado por Dave Rennie recuperou o fôlego e o norte para responderem a estes 10 pontos sofridos nos primeiros dez minutos de jogo com dois ensaios e duas conversões, que ocorreram por via da visão de jogo de Noah Lolesio, com o abertura a criar sucessivas linhas-de-passe e espaços por onde Michael Hooper, Hunter Paisami e Len Ikitau irromperam, começando a desferir golpes numa defesa francesa de grande blindagem, mas algo ingénua no como responder a uma quebra-de-linha australiana ou ao jogo de offloads dos Wallabies. A combinação entre Tate McDermott e Noah Lolesio foi outro detalhe que funcionou a favor da Austrália, oferecendo um constante ritmo e uma dinâmica de jogo mais letal e entusiasmante, bem acompanhada pela avançada que, ao contrário do que se passou na 3ª feira passada, apoiou o portador da bola e garantiu um avanço territorial constante e competente, impedindo recuperações e turnovers procurados incessantemente pelos jogadores franceses.

No fim dos primeiros 40 minutos tudo terminou numa igualdade a 20 pontos, fruto de uma penalidade de Lolesio e um ensaio do terceira-linha da França, Cameron Woki, aquele que foi um dos melhores jogadores gauleses nesta visita à Austrália (1 ensaio, 6 turnovers, 34 placagens e 3 quebras-de-linha), levando toda a decisão para a 2ª metade do encontro. Aí, e igual ao que se tinha passado na 1ª metade deste embate histórico, australianos e franceses voltaram a esgrimir com tudo o que tinham: a França com a imprevisibilidade e aquela eloquência ofensiva que apaixona qualquer um pelo rugby champagne, visto no ensaio de Pierre-Louis Barassi; e a Austrália a insistir pela força dos seus avançados, que fizeram ceder a formação-ordenada do adversário e imprimiram uma velocidade intensa constante.

No fim, os Wallabies acabaram por deter o domínio do jogo e passaram para frente do encontro pela última vez aos 78′, altura em que Lolesio teve o sangue frio para atirar aos postes, ficando em 33-30, seguindo-se depois a tal última derradeira oportunidade da França que acabou amarrada nos braços de Swain, irrompendo a festa no Suncorp Stadium, depois de 75 minutos a jogar com menos 1 frente a uma França “secundária”, mas apaixonante.

PUMAS FECHAM JULHO COM UMA VITÓRIA HISTÓRICA

A Argentina encerrou a janela internacional de Verão com uma estupenda vitória em Cardiff, derrotando um País de Gales carregado de segundas e terceiras escolhas, com Mario Ledesma a poder respirar fundo e a garantir algum elam para o The Rugby Championship 2022. Fizeram os Pumas uma excelente prestação em termos de criatividade no ataque? Não, mas foram extremamente efectivos na placagem, conquistando vários turnovers quer no contacto ou no ruck, naquilo que foi uma constante demonstração de resiliência e força, com a selecção da casa a ser apanhada desprevenida em momentos que pareciam perto de conseguir chegar a zonas mais avançadas do terreno.

Os erros constantes dos homens de Wayne Pivac foram afectando o rendimento geral de um País de Gales que acabou entrincheirado numa defesa competente e agressiva, sem qualquer receio de subir o tom da fisicalidade, com Pablo Matera, Marcus Kremer ou Rodrigo Bruni (está a competir com Facundo Isa pela camisola nº8 e, neste momento, começa a ganhar argumentos sérios nesse concurso) a incomodarem sucessivamente o fio de jogo de Jarrod Evans ou Tommos Williams, que sentiram dificuldades para encontrar alguma lógica na construcção dos processos ofensivos.

A Argentina foi aproveitando os erros e penalidades para ganhar momentum, massacrando a defesa dos País de Gales ao ponto de conquistar uma falta mais próxima dos postes para Nicolas Sánchez somar pontos ao pé, para além dos bons ensaios de Matias Moroni e Tomas Cubelli, efectuando uma exibição compacta e inteligível de nunca arriscar em demasia a posse de bola, com consciência que através deste tipo de estratégia iriam acabar como vencedores deste 2º encontro frente ao País de Gales.

Os 91% de eficácia na placagem (só 10 placagens falhadas de um total de 112) e os 8 turnovers alimentaram a Argentina ao ponto que nunca mais perderam o controlo do encontro a partir dos 65 minutos, fechando esta visita até ao Reino Unido com um ensaio de Matera, que garantiu uma vitória por 30-11, algo que não conquistavam desde 2012.

NÚMEROS E DADOS DA 3ª RONDA

Maior marcador de pontos (jogador): Noah Lolesio (Austrália) – 23 pontos
Maior marcador de pontos (equipa): Nova Zelândia – 60 pontos
Maior marcador de ensaios (jogador): Sevu Reece (Nova Zelândia) – 3 ensaios
Maior marcador de ensaios (equipa): Nova Zelândia – 8 ensaios
Jogador com melhores números ofensivos: Sevu Reece (Nova Zelândia) – 70 metros, 3 ensaios, 3 quebras-de-linha, 6 defesas batidos, 3 tackle-busts


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