Importância do Desenvolvimento Físico em jovens atletas de rugby
É do conhecimento geral que o rugby é uma modalidade de intenso contacto, exigindo do atleta muito trabalho físico ao longo da época para que tenha predisposição para cumprir com sucesso as tarefas que lhe são atribuídas e sentir-se mais confortável no choque.
Em Portugal, felizmente, os clubes já começam a dar importância ao desenvolvimento das qualidades físicas do atleta especialmente no escalão sénior, com algum planeamento, entregando a responsabilidades a profissionais da área (strength conditioning coach).
Mas, infelizmente, continuamos muito atrás do desenvolvimento físico de um jogador de rugby em outras partes do mundo (Austrália, Inglaterra, Nova Zelândia, Escócia, etc..).
Todos sabemos que em Portugal o rugby é uma modalidade amadora em comparação com os Países mencionados acima, mas, se o objetivo é evoluir e conseguir atingir esse patamar apesar de ainda demorar bons anos, é necessário começar-se a tomar medidas no imediato.
Será que em Portugal os clubes de rugby planeiam o desenvolvimento na pré e na adolescência de jovens atletas, tendo em atenção ao seu estado maturacional, ao treino integrado de velocidade, coordenação, agilidade, a um programa de prevenção de lesões, ás suas habilidades de movimentos, resistência muscular e força?
Na minha opinião são muito poucos os que fazem. Tem de existir uma base de construção do jovem atleta. Essa construção deve ser feita com treinos de correção postural, propriocepção e core. Paralelamente a esse trabalho, deve ser introduzido o trabalho de velocidade, agilidade e coordenação.
A partir daí, então, focar no treino de hipertrofia, taxa de produção de força e no treino pliométrico. É fundamental que os clubes comecem a definir que tipo de atletas querem e podem desenvolver para o escalão sénior.
É de extrema importância fazê-lo para que exista excelência desportiva na modalidade a longo prazo.
Agora, vejamos a importância do treino de força na pré e na adolescência
Dirigentes e treinadores devem explicar junto dos pais os benefícios do desenvolvimento das habilidades motoras básicas e do desenvolvimento da força.
A prática organizada regular em que os jovens estão inseridos não garante, por si só, um adequado fortalecimento dos mesmos, é necessário existir um planeamento de desenvolvimento físico por parte dos escalões/clubes em que os jovens estão integrados.
As exigências que a modalidade traz a longo prazo “obriga” a uma melhor preparação para aprender movimentos complexos, logo, os atletas mais fortes estarão mais bem preparados.
Um estudo (https://bmcpublichealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12889-015-2328-7) analisou as respostas dos pais em relação à atividade física dos seus filhos em geral, bem como a exercícios aeróbios e de força muscular.
Verificou-se que os pais deram uma resposta positiva em relação à realização de exercícios aeróbios pelos filhos. Todavia, deram uma resposta menos positiva em relação aos filhos realizarem exercícios de força, justificando com o receio de que os exercícios de força pudessem interferir no desenvolvimento físico dos filhos. É aqui que é importante a intervenção dos técnicos, e do próprio clube, no sentido de clarificar o porquê de não ser assim.
Pois bem, na pré-adolescência o aumento da força não advém do aumento da massa muscular, mas, antes, da atividade neuromuscular.
Um estudo realizado por Faigenbaum et al. (1999 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10390291) teve como objetivo comparar dois programas: um, de treino de baixa resistência, e um outro de alta resistência à carga. E nele se concluiu que a força muscular e a resistência muscular podem ser melhoradas durante os anos de criança.
Por isso, é aconselhada a prescrição de programas de treino de mais repetições e de resistência moderada durante o período de adaptação inicial.
Na adolescência a eficácia do treino de força é mais do que evidente e vários estudos comprovam isso (veja-se, por exemplo, Faigenbaum, 2002; Faigenbaum et al.,2009; Lloyd et al., 2013; Payne et al.,1997).
No entanto, para passarmos ao desenvolvimento do treino de força em jovens atletas é necessária uma intervenção eficaz de “campo”, bem como focarmos-nos em alguns pontos preponderantes tais como:
– Ter profissionais qualificados que planeiem e supervisionem os treinos dando o feedback adequado (dar atenção máxima à técnica de execução dos exercícios);
– Treino neuromuscular integrado;
– Domínio dos movimentos básicos;
– Recuperar ou manter a postura corporal;
– Corrigir desequilíbrios musculares;
– Garantir a adaptação muscular que permite eliminar o risco de lesões;
– Melhorar a capacidade de aprendizagem motora.
O treino deverá conter algumas características, nomeadamente:
– Ser um treino variado, pois deve conter várias componentes, utilizando diferentes resistências nos exercícios, como, por exemplo, peso corporal, elásticos, resistência do colega e máquinas;
– Ser um treino complementar para se poder conjugar com outros programas: velocidade e agilidade, flexibilidade, habilidades de movimentos, resistência muscular;
– Um aumento progressivo da complexidade dos exercícios;
– Focar-se inicialmente no tronco antes de se centrar nos membros superiores e inferiores.
Estes são apenas alguns pontos que devem ser tidos em conta no treino de força nos jovens atletas.
Sendo assim, e na minha opinião, os clubes têm de ter mais sensibilidade e responsabilidade no crescimento de jovens atletas, investindo em profissionais da área que consigam fazer um planeamento nos escalões de formações. Como é obvio, não irá resolver o amadorismo do rugby nacional, mas irá contribuir para a construção de um atleta mais forte.
O trabalho físico é um ponto essencial para começarmos a crescer como modalidad