Entre história, dúvidas e o futuro, Portugal “ataca” o Europeu de sub-20

Francisco IsaacMarço 27, 201911min0

Entre história, dúvidas e o futuro, Portugal “ataca” o Europeu de sub-20

Francisco IsaacMarço 27, 201911min0
Depois de ter levantado o título de campeão nas edições de 2017 e 2018, Portugal vai ter pela frente um Europeu para fazer história, mas será que conseguirá?

No dia 31 de Março pelas 18h00 da tarde, Portugal entra em campo para começar a campanha pelo tricampeonato europeu. A competição organizada pela Rugby Europe e a Federação Portuguesa de Rugby vai decorrer em Coimbra durante 7 dias, entre o dia 31 de Março e 6 de Abril, com a presença da Espanha, Holanda, Roménia, Rússia e… França Aquitânia.

Esta selecção estranha é formada por atletas que jogam entre a Fed1 e 3 de França (equivalente à 3ª e 5ª divisão), de uma das regiões mais ricas em termos de cultura rugbistica da Europa. Mas porquê é que vai participar este composto de jogadores da Aquitânia quando existem outros países europeus certificados para tal?

Alemanha e Bélgica recusaram-se prontamente a participar na competição, alegando falta de orçamento para comparecer e participarem nesta edição do torneio em 2019. Os regulamentos da Rugby Europe não são o suficientemente bem feitos para forçar que as federações europeias tenham de jogar estes torneios de formação, o que mostra um pormenor dos problemas internos da instituição.

Mas voltando ao que interessa, como se vai processar este Campeonato da Europa de sub-20 com apenas 6 selecções? Numa espécie de fase-de-grupos, mas com cada formação a jogar só três jogos cada. Portugal, os campeões em título, saíram algo prejudicados do “sorteio” da Rugby Europe com França Aquitânia, Holanda e Espanha a cruzarem-se no caminho dos Lobos.

Já Espanha, os vice-campeões, têm um calendário mais acessível com jogos frente a Rússia e Roménia, duas selecções que deixaram de estar ao nível de outros tempos enfrentando sérios problemas de qualidade técnica e estratégica.

Todos os encontros serão jogados ao Domingo, Quarta-feira e Sábado com início ao meio-dia até às sete da tarde, com acesso livre. Todavia, este Campeonato da Europa não se fica pela luta pelo 1º lugar e título de campeão, já que o aguça o interesse dos participantes é a possibilidade de se qualificarem para o Campeonato do Mundo “B” sub-20.

A selecção das Quinas participou nas duas últimas edições desta prova e em 2017 esteve praticamente com um “pé” no Mundial “A”, mas o Japão acabou por obter a vitória no final. Ou seja, em 2019 os grandes candidatos a essa vaga são Portugal e Espanha, com a Holanda a correr muito por fora.

Os apontamentos gerais estão explicados, é altura de conhecer os representantes portugueses para a edição de 2019 do Campeonato da Europa!

Os convocados (Foto: FPR)

É uma selecção renovada mas com batuta de alguns nomes grandes do rugby Nacional de formação, como o caso dos “mouflons” José Roque e Manuel Nunes ou o “inglês” David Costa (formado no GD Direito e agora ao serviço da Bath University), para além de outros nomes.

Sem a possibilidade de convocar Rodrigo Marta ou Raffaele Storti (ambos estarão ao serviço da selecção de 7’s, incluídos na equipa de trabalho que marcará presença em Hong Kong em abril próximo), Luís Pissarra juntou os melhores nomes sub-20 do rugby nacional.

Ao contrário do que acontece na maioria das modalidades em Portugal, estes atletas têm vários minutos nas principais divisões séniores nacionais, apresentando bons índices de forma física que podem ser uma “chave” para derrotar a França Aquitânia e Espanha.

Este lançamento cedo destes jovens tem ajudado no criar de mecanismos mais desenvolvidos, mais agressivos nas fases estáticas (a evolução em crescendo na formação-ordenada atingiu o topo, derrotando as Ilhas Fiji e Uruguai nesse sector em mundiais passados), mais competentes na gestão e transmissão da bola, mantendo os níveis de risco próprios das selecções jovens.

QUEM SÃO ALGUNS DOS LÍDERES E NOMES FORTES?

Mas quem realmente são os atletas a reter? Alguns nomes poderão ser fundamentais para guiar as Quinas a boas exibições e o tão desejado tricampeonato, e deixamos então cinco nomes:

David Costa (Bath University): um pilar que desde cedo revelou traços interessantes no que toca ao envolvimento em acções de ataque. Difícil de parar no primeiro contacto, o pilar tem vindo a mostrar uma maturidade necessária para liderar o 5 da frente “luso”;

Manuel Nunes (RC Montemor): asa letal na placagem, rápido no turnover e sempre disponível para sacrificar-se em mais uma acção ofensiva ou defensiva, quase inesgotável no que toca ao trabalho físico. Depois de três anos em que surgiram nomes como João Fezas Vital, João Grante ou David Wallis, é o momento de Manuel Nunes se assumir como um dos líderes da avançada portuguesa;

José do Carmo Camara (AEIS Agronomia): depois de um ano de interregno de um ano (esteve em Inglaterra a estudar) o centro/ponta voltou a Portugal e rapidamente recebeu a camisola 14 na Tapada. Placador de qualidade, é uma unidade rápida no ataque, sempre confiante na sua missão de não só ganhar metros mas para dar uma solução de apoio bem trabalhada;

Pedro Lucas (AEIS Técnico): um formação com um “vozeirão” de comando total (e que para a posição é fundamental) que se afirmou no 1º classificado da Divisão de Honra, assumindo bem o papel de ligação entre os avançados e ¾’s. É um 9 clássico que nunca desiste de trabalhar, mesmo que isso implique ir para o meio do ruck. Rápido, exigente e dinâmico;

Francisco Afra Rosa (GD Direito): outra revelação do Grupo Desportivo de Direito ascendeu à equipa sénior nesta temporada e não tem desapontado pela forma como tem jogado à ponta dos “advogados”. Ágil e dotado de um poder de drible de boa qualidade, Rosa pode ser um dos elementos mais versáteis destes 26 convocados;

Outros nomes serão referências como José Roque, Manuel Pinto (valoroso asa do CF “Os Belenenses”, categórico a defender), Manuel Maia, Tomás Lamboglia, entre outros e farão a diferença como colectivo no Europeu. Alguns destes nomes foram entrevistados no Rugby Lab, podcast do Fair Play e podem ouvir tudo aqui: Rugby Lab 52

O Seleccionador Nacional Sub-20, Luís Pissarra, respondeu a algumas questões colocadas sobre o Europeu, processo de selecção e das soluções oferecidas pelo grupo de trabalho.

O PRÉ-EUROPEU COM LUÍS PISSARRA

Luís, aproxima-se rapidamente a data do início do Campeonato da Europa sub-20… sentes que o grupo está pronto para o desafio?

LP. Claro que sim, nesta última semana de preparação há sempre uma ansiedade, mas é um tipo de ansiedade muito positiva. Existe aquele desejo de começar a competição o mais depressa possível para sentir o que é o Campeonato da Europa e de como nos vamos apresentar lá.

Este ano a competição vai ter um modelo diferente, com uma espécie de “liga”. O modelo traz mais dificuldades?

LP. O modelo deste ano é completamente diferente em comparação ao que estávamos habituados, com grupos fixos e com jogos pré-definidos com um modelo de pontuação e não de eliminação que envolve pontos de bónus seja ofensivos ou defensivos.

É um modelo diferente que temos de nos habituar… em termos de espectáculo é uma competição mais cativante, porque obriga todos os jogos a serem jogados no máximo. Repara que na última jornada todos podem chegar com os mesmos pontos, abrindo espaço para uma luta diferente e interessante.

Outro pormenor diferencial tem a ver com a rotação de jogadores pois no formato de eliminatórias é possível fazer uma gestão de jogadores diferente do que vai ser possível neste ano.

Não há dúvidas que este modelo traz dificuldades, a própria Espanha fugiu do grupo inicial que tinha sido proposto e conseguiu fazer as pressões suficientes para adequar-se a um calendário menos difícil que o nosso. Temos o nosso 1º jogo contra a equipa francesa, que não pode ser um grupo fraco, para além de ser uma incógnita em termos do que valem e como jogam. No 2º jogo enfrentamos a Holanda, que tem crescido e se tornado cada vez mais competitiva. E terminamos com a Espanha, o outro favorito a par de nós, que vem de dois jogos menos “complicados” do que os nossos. Vamos ter que estar e dar sempre o nosso melhor! 

 Como caracterizas este grupo de 26 que vai lutar pelo tricampeonato? Notas uma grande evolução do 1º dia para agora?

LP. O grupo escolhido tem evoluído bastante. Implementámos um modelo ofensivo e defensivo diferente, para além de termos aumentado a exigência nas fases-estáticas, nomeadamente na formação-ordenada. A nível do ataque temos crescido gradualmente, apresentando cada vez melhores sinais, com uma clareza perante o que queremos fazer nesta secção do jogo.

Os últimos grupos de “avançados” que passaram pelos sub-20 têm dominado na formações-ordenada e mauls… mas como vês este de 2019?

LP. Os nossos avançados deste ano mantêm o DNA de outros anos, não tenho dúvidas que vamos ser dominantes na formação-ordenada com boas soluções, garantindo uma boa profundidade e que nos dá bastante confiança nesta fase do jogo.

Afirmaste na entrevista anterior que o objectivo passa pela revalidação do título. O que temos de fazer para que se consiga atingir esse goal?

LP. O objectivo está bem definido pelo grupo: revalidar o título de campeões europeus e de preparar cada vez melhor/mais jogadores para a Selecção Nacional “A”. O garantir do título no campeonato europeu permite o apuramento para o World Rugby Trophy (Mundial “B” de sub-20), um passo essencial para conseguir esse crescimento dos nossos jogadores, pois é uma competição de um nível superior.

Vai ser interessante ver como vamos nos comportar durante o Campeonato da Europa, a nível técnico e táctico, anímico e físico, como ultrapassar certas lesões, etc. É uma semana de três jogos muito intensos, com várias condicionantes e problemas que podem surgir à equipa, mas a equipa está muito bem fisicamente, preparada para aguentar a exigência física do jogo, talvez o melhor grupo neste aspecto dos últimos anos. A nossa capacidade defensiva vai ser um aspecto fulcral neste processo todo e os nossos jogadores estão muito focados nesse ponto.

Dos adversários que vamos ter pela frente, a França Aquitânia é aquela que reúne maiores dúvidas… como tens preparado o grupo para esse encontro mais duvidoso?

LP. Temos muito pouco conhecimento sobre eles, sendo que o que sabemos de antemão são os nomes e o clube pelo qual jogam. Olhando para esse aspecto é observável o quão bem recheados estão, com vários atletas a frequentar das melhores Academias em França. Mas temos de acreditar na nossa capacidade de grupo, de uma equipa una e que consegue ultrapassar estas situações. Vai ser um jogo quase às “cegas” e temos de nos adaptar e enfrentar o modelo de jogo que esta França vai apresentar.

Jogamos em casa, gostavas de deixar umas palavras à comunidade Nacional para marcar presença nestes jogos?

LP. Jogar em casa é uma honra especial, um privilégio para os jogadores jogarem à frente das suas famílias, amigos e do público português. Mais motivados que este grupo ninguém pode estar, mas estamos conscientes que ninguém nos vai dar nada… temos tido períodos difíceis na preparação, mas nada tira o foco deste grupo em dar o  seu melhor. Gostava que o público nacional estivesse presente nos jogos do princípio ao fim a apoiá-los sem se cansarem. 

O Europeu começa já neste domingo dia 31 de Março em Coimbra às 14h00 entre Holanda-Roménia, com Portugal a entrar em campo às 18h00, em Taveiro. Repete-se a mesma hora na 4ª feira dia 3 de Abril e depois no sábado 5, sempre às 18h00.

Luis Pissarra Foto de Luis Cabelo Fotografia

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