Hemisfério Norte é campeão de Inverno – Semana 4

Francisco IsaacNovembro 26, 20189min0

Hemisfério Norte é campeão de Inverno – Semana 4

Francisco IsaacNovembro 26, 20189min0
As selecções do Hemisfério Norte saem com o título de campeões dos Internacionais de Inverno e de forma merecida! Como é que a Inglaterra vergou a Austrália? Tudo neste artigo

Ponto final nos Internacionais de Inverno de 2018, com os “nortenhos” a acabar na frente do diferendo com os “sulistas”! País de Gales fez o Grand Slam de Novembro, a Escócia derrotou uma sofrível Argentina, a Inglaterra caçou os Wallabies (e pôs o futuro de Cheika cada vez mais nublado) e só a Nova Zelândia passou impune no último fim-de-semana.

O “adeus” do rugby internacional a 2018 (ainda falta um Barbarians-Argentina) com notas do “heróico”, “vilania” e “redenção”!

VILÃO: WALLABIES DE 15 MINUTOS NÃO SERVEM PARA O MUNDO

Começa a ser uma desgraça geral o estado da Austrália de Michael Cheika. Nova derrota, nova exibição pobre e os mesmos problemas a surgirem a cada movimentação defensiva e ofensiva. Tanto fazem do melhor em meros segundos, como se deixam consumir por constantes erros individuais e colectivos, numa equipa que está sem a fibra de campeão que outrora os levou a lutar pelo título de campeões do Mundo.

A Inglaterra foi sempre melhor que a Austrália e esse facto é incontestável como bem prova o 37-18 final. Mas a apatia geral, a falta de equilíbrio no processo de transmissão de bola entre as unidades de ataque e a coesão defensiva anárquica foram elementos mais que suficientes para “destruir” qualquer que fosse a estratégia de jogo dos Wallabies durante 80 minutos.

A Austrália terminou o encontro com 77% de placagens eficazes, um número que por si só já levanta algumas questões e “certezas”. Mas o mais importante é perceber o que significaram boa parte das placagens falhadas e em que zonas se deram: 9 entre os 22 e 40 metros adversários; 14 entre o meio-campo e os 22 metros próprios; 6 entre os 22 metros e a área de validação.

Um exemplo de placagem falhada nos últimos 22 metros foi o ensaio de Joe Cokanasiga, com o ponta a abalroar Haylett-Petty que se fez à placagem mas não fechou os braços e permitiu assim um erro que terminou em ensaio.

Para além das placagens falhadas em que cada zona, o problema mais importante está no seguimento que foi dada à placagem falhada/quebrada. A Inglaterra em 15 oportunidades deu uma sequência de conquista de metros consecutiva, abrindo bem a defesa contrária, expondo a Austrália ao erro. O ensaio de Elliot Daly resultou numa placagem má feita a Owen Farrell, com o abertura inglês a entrar no contacto, ganhar preciosos metros, agrupar três defesas e ainda ter espaço para fazer um offload… Daly recebe, sai disparado, ensaio.

A defesa foi, por assim dizer, um “caos” desorganizado sem liderança ou voz de comando… Will Genia esteve vários furos abaixo (o formação não dá para tudo e chega a ser excessivo o trabalho colocado nos seus ombros), Michael Hooper raramente foi comandante (tem uma placagem soberba a Joe Cokanasiga em cima da linha de ensaio, mas pouco mais fez) e Samu Kerevi ainda está a tentar voltar ao seu melhor (mais intrusivo e penetrante que Beale ou Toomua na posição de 2º centro).

Faltam sobretudo líderes e quem assuma a responsabilidade de não só pôr em prática o plano de jogo, mas de levar a equipa a segui-lo. Por outro lado, a Austrália no ataque ofereceu a bola à Inglaterra com vários pontapés mal esboçados na pressão e ataque a quem iria recebe-la… Folau esteve completamente a leste dessa função, optando por ser um defesa mais estático na pressão ao chuto do que se assumir como o “rei” nas alturas.

Espaço, margem de manobra e tempo… foi isto que a Inglaterra teve, oferecido numa bandeja pela Austrália que raramente soube lidar com a intensidade de jogo imposta por Ben Youngs e Owen Farrell, pela velocidade e dinamismo de Daly e os seus fiéis “escudeiros” May e Cokanasiga e pela agressividade e ferocidade de Sam Underhill, Mark Wilson e Brad Shields.

A Austrália a 10 meses do Mundial está com vários problemas delicados por resolver e Michael Cheika não sabe por onde começar. Eddie Jones voltou a ganhar uma selecção e pode ser que haja outra Rosa com espinhos nas Seis Nações 2019.

HERÓICO: OS DRAGÕES INDOMÁVEIS DE GATLAND

Último test match para o País de Gales, que acabou da mesma forma como começou há semanas atrás: vitória. Os Red Dragons de Warren Gatland foram frios e eficientes contra os Springboks, que revelaram sinais de cansaço mas que também tiraram um pormenor positivo: Embrose Papier pode ser a sombra de Faf de Klerk no futuro próximo. Bom jogo do nº9 dos Blue Bulls, conseguindo ordenar bem a avançada, aplicando um timing de jogo bem curioso e diferente de de Klerk.

Contudo, o cansaço e alguma inconsistência na execução de fases mais rápidas com a bola na mão tiraram expressão ofensiva da África do Sul, do qual Handré Pollard não teve culpa, até pelo contrário, pois o abertura bem tentou criar outros dinamismos que nunca foram correspondidos pela sua equipa.

Aphiwe Dyantyi voltou a não ter oportunidades para ganhar metros (o ponta precisa de perceber como interagir em outros pontos do terreno), Damian Allende não conseguiu ganhar a linha-de-vantagem de forma eficiente e Willie Le Roux esteve muito longe da acção, mais preocupado com o jogo ao pé de Gareth Davies, Liam Williams ou Gareth Anscombe.

A exibição foi no geral demasiada estática e pouco ritmada, com Cheslin Kolbe a ser o único a trazer outra magia ao jogo com uma série de fintas e steps… que foram mal apoiados pelos seus colegas na maioria das ocasiões. A pouca lucidez no apoio, permitiu várias recuperações no chão pelos galeses, que puseram fim a algumas acções perigosas dos boks.

Destaque para Justin Tipuric (novamente com 100% de placagens e três turnovers) e Ellis Jenkins, dois dos melhores lutadores no breakdown, com um total génio no saber como e onde atacar. Apesar dos 80% de eficácia da placagem a nível global, a equipa da casa roçou os 93% dentro dos seus 22 metros, aguentando várias sequências de movimentações ofensivas sul-africanas sem consentir mais que um ensaio.

De resto, no que toca ao ataque, o País de Gales foi frio e equilibrado, onde Jonathan Davies deu sempre o mote no levar da oval, com Hadleigh Parkes a dar o corpo às balas, sem perder o controlo da bola em 7 de 8 ocasiões. A manobra de ataque simples, segura e estratégica, foi a suficiente para sair do Millenium Stadium com a vitória no bolso, com Dan Biggar a fechar a discussão ao pé.

Os Red Dragons não arriscaram em demasia, apostaram bem nas fases curtas e na tentativa de atacar o canal 2 com uma penetração próxima do ponta ou defesa (bem Liam Williams neste aspecto). Sempre que não conseguiam andar bons metros, Gareth Davies arrancou pontapés certeiros a partir do ruck, onde a aproximação bem executada das duas cortinas de pressão foram bem feitas. O 20-11 foi justo e merecido no final de contas.

O País de Gales sai de 2018 em força, fez um ano acima das expectativas e Warren Gatland agora deixa o Mundo em suspenso para 2019. Rassie Erasmus sabe os problemas a limar e termina com uma nota muito positiva no seu primeiro ano como seleccionador nacional.

REDENÇÃO: UM POUCO DE ANIMAÇÃO AO SOM DE JORDIE E DMAC

Depois de uma derrota que tirou os All Blacks do topo mundial (não do ranking, mas de selecção mais dominadora em 2018), nada melhor que melhorar o registo da época passada frente à Itália: 66-03.

Jordie Barrett marcou 4 ensaios, Damian McKenzie outros 3 e a “festa” foi montada ao ponto que Nathan Harris fez uma assistência ao pé para ensaio. Ou seja, a Nova Zelândia voltou a apresentar um rugby animado, ritmado e mexido apostando nos pormenores que os ajudaram a colocar no topo do Mundo da oval.

O apoio foi sempre mais próximo com Patrick Tuipulotu, Vaea Fifita e Ardie Savea a acelerarem nas acções imediatas, o que colocou uma pressão complicada à defesa da Itália que raramente soube responder da melhor forma.

Os All Blacks foram, como se esperava, dominadores em todos os parâmetros de jogo com Beauden Barrett a pautar um jogo seguro e de grande dimensão ofensiva (o crosskick para Jordie Barrett foi fenomenal, com o ponta a saltar mais alto que 2 metros para captar a oval), Dane Coles esteve ligada à corrente e Damian McKenzie demonstrou o seu melhor como defesa.

Rápido a explorar as deficiências defensivas da Itália, genial na procura de espaços e ainda mais genial no aproveitamento dos mesmos, o defesa voltou a ser um dínamo no ataque neozelandês. A grande descoberta foi para a introdução de Jordie Barrett na ponta que correu excelentemente bem para os All Blacks.

O irmão mais novo dos Barrett na posição 14 é uma jogada inteligente, uma vez que aproveitam as suas melhores facetas como velocidade, poder de explosão, capacidade de rasgo, pontapé bem movimentado e handling bem trabalhado, e retiram a pressão de jogar a defesa ou a centro, posições mais nevrálgicas e que requerem outro tipo de jogador.

Steve Hansen sai com alguns pontos positivos de 2018, em que registaram duas derrotas em ano pré-mundial. A Itália não fez jus à sua categoria de selecção de tier 1 (ou tier 1 em desenvolvimento) e Conor O’Shea vai ter obstáculos complicados de ultrapassar nos próximos meses.

OS PRÉMIOS DA SEMANA 4

Melhor Ensaio: TJ Perenara (Nova Zelândia, vs Itália – 1º ensaio)
Melhor Placador: Hamish Watson (Escócia, 20 placagens, 100% de eficácia)
Melhor Jogador: Jordie Barrett (Nova Zelândia – 4 ensaio, 126 metros conquistados, 6 quebras-de-linha, 6 defesas batidos)
Melhor Marcador: Owen Farrell (Inglaterra – 22 pontos, 1 ensaio, 3 penalidades e 4 conversões)
Melhor Estreante: Sam Arnold (Irlanda)
Melhor Jogo: Inglaterra-Austrália


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