Portugal “encolhido” fica fora da final – o “grubber” do Europeu de sub-18

Francisco IsaacAbril 17, 20197min0

Portugal “encolhido” fica fora da final – o “grubber” do Europeu de sub-18

Francisco IsaacAbril 17, 20197min0
Foi com uma exibição abaixo das expectativas que Portugal perdeu frente à Espanha no Europeu de sub-18. O adeus à final e agora a luta pelo bronze. Os erros e virtudes nesta análise do Fair Play

Portugal está fora da final do Europeu de sub-18 depois de perder por 20-05 frente à Espanha, num jogo com duas partes distintas dos comandados de Rui Carvoeira e Nuno Damasceno. Os jovens jogadores portugueses tiveram dificuldades a analisar as (poucas) falhas defensivas da Espanha e permitiram que o adversário se agigantasse nos momentos X.

O 2º “grubber” deste Europeu de sub-18 do Fair Play

PLACAGENS VALOROSAS MAS INSUFICIENTES – 5 PONTOS

Portugal perdeu por 20-05, com a Espanha a produzir dois ensaios contra um, sendo que o último foi já marcado para lá do tempo regulamentar numa altura em a equipa lusa já não tinha hipótese de dar a volta ao marcador. A formação portuguesa foi mais eficiente na defesa, em especial na 1ª parte, com sucessivas boas placagens a parar a maior fisicalidade espanhola, para além de boas cortinas defensivas que iam fechando espaço às velozes unidades das linhas atrasadas dos Leones.

José Madeira, Boaventura Almeida, Pierre Fernandes ou Rafael Castro foram dos melhores avançados no que toca à defesa, com uma postura agressiva, baixa e dinâmica na tentativa de parar os “gigantes” avançados espanhóis que a certa altura começaram a ficar mais estagnados no ataque. Nos 3/4’s o destaque vai claramente para o par de centros João Vieira e José Santos, com ambos a mostrarem uma maturidade defensiva de qualidade, que só por vezes abriu uma “frecha” mínima algo que não foi totalmente aproveitado pelo adversário.

Contudo, a exigência física da 2ª parte foi claramente um problema para Portugal que esteve mais focado na defesa, com os atletas nacionais a desgastarem-se consecutivamente tanto na hora de placar como de ocupar o espaço no ruck, removendo aquela “chama” tão própria destas jovens gerações portuguesas. Placar bem ou muito bem não chegou no final de contas, uma vez que era preciso uma atitude mais “dura” no breakdown ou em redor do ruck e na ausência de tal a Espanha foi tendo mais “voz” durante os 70 minutos.

INTENSIDADE DE JOGO SÓ FOI ALTA ENQUANTO A AVANÇADA DUROU – 3 PONTOS

No geral foi insuficiente a produção ofensiva portuguesa que pareceu não ter o pulmão ou a capacidade de rasgo para provocar problemas ao adversário do outro lado, apesar de alguns movimentos mais individualista mas voltados para o colectivo, que até provocaram algum avanço no terreno. Porém, a ausência de intensidade ou dinamismo e velocidade de jogo durante largos períodos por parte do par de médios foi letal para as pretensões de Portugal, com Domingos Cabral a passar algo ao lado do jogo, não conseguindo esboçar os box kicks “esticados” o necessário para forçar a Espanha a recuar.

Vasco Correia teve ainda 10 minutos de presença no jogo, mas a partir do minuto em que Portugal passou a jogar mais com o “coração”, ou seja, menos no sentido de construir uma estratégia ofensiva dinâmica e pautada por regras (até porque o adversário começou a subir na “agressividade” física), o número 10 acabou por ter que se adaptar e ficou destinado a jogar mais recuado.

O três-de-trás liderado por Simão Bento teve poucas oportunidades para fazer estragos, e talvez podiam ter sido mais “agressivos” no impor das velocidades de jogo para surpreender a Espanha que tinham atletas fisicamente hábeis atrás, mas sem ter a capacidade técnica desejada.

No meio disto tudo, Portugal até teve 25/30 minutos de domínio, com uma presença larga dentro dos últimos 30 metros muito fruto do trabalho dos avançados no contacto curto ou na aposta em bolas para o canal 2 que foram bem trabalhadas na placagem (jogadores não se atiraram para o chão, optando por trabalhar os joelhos e dar outra dinâmica ao ataque). Infelizmente, em quatro ocasiões para chegar ao ensaio, Portugal deitou tudo a perder na combinação de movimentos ou de leitura da defesa contrária, algo que acontece quando há a necessidade de marcar pontos e fruto também da alguma inexperiência em termos de jogos (relembrar que os sub-18 só realizaram um jogo de 80 minutos de teste em 7 meses).

Quando a “gasolina” acabou nos avançados e o cansaço começou a tomar conta, a Espanha aproveitou e montou operações no meio-campo, consolidando o seu papel no jogo e dando um passo certo no avanço até à final. Um pormenor da falta de “paciência” foi aos 66 minutos, quando Portugal estava a poucos metros da área de ensaio e optou por fazer nova fase curta quando tinha espaço entre os centros da Espanha, perdendo a bola em nova falta no chão.

ALINHAMENTOS DESCONEXOS, CONTRA-MAUL PÁLIDO E POUCA PRESENÇA NO BREAKDOWN – 2 Pontos

Foi talvez das exibições menos positivas do bloco de avançados nos últimos tempos com a perda da maioria dos alinhamentos, alguns deles em áreas proibidas do jogo que alimentou a selecção dos Leones sub-18 em certos momentos. Bolas entregues directamente ao adversário, uma das quais até deu ensaio da Espanha, ou más introduções quando Portugal estava perto da área de ensaio, foram pormenores negativos que ajudam a montar o cenário da derrota portuguesa.

A somar-se a isso a Espanha foi melhor no maul com um avanço total em certos momentos que só não deu ensaio por falta de inteligência no uso da oval, com Portugal a defender bem nessa ocasião e a imediatamente espalhar jogadores pela linha. Os avançados pareceram algo perdidos no papel de contrariar o maul mais pesado espanhol e deram “asas” à vontade do adversário em chegar à final, e aqui mais uma vez pode discutir-se a falta de experiência internacional, a menor frescura física (o maul espanhol foi mais perene na 2ª parte).

A Espanha foi muito dura na limpeza do ruck (por vezes desleal, com o trio de arbitragem a não notar os sucessivos mergulhos, entradas pelo lado ou limpezas só com o ombro) mas era necessário que os lobos sub-18 fossem mais “graúdos” neste detalhe do breakdown onde se conquista o “fôlego” para não só ganhar penalidades ou bolas como de superar jogos e conquistar jogos.

PONTUAÇÃO FINAL – 10 PONTOS

Pontos Positivos: Placagem foi um dos highlights da primeira-parte com os jogadores portuguesas a criarem sérias dificuldades nos processos ofensivos da Espanha; trabalho bem executado no contacto principalmente na primeira metade do jogo, com o único ensaio de Portugal a vir exactamente por esse meio; formação-ordenada respondeu bem à maior fisicalidade espanhola, aguentando e até devolvendo a pressão; pontapés bem executados pelo três-de-trás quando foi necessário tirar a pressão de cima;

Pontos Negativos: ligação entre o 9 e 10 foi medíocre na maioria do tempo, com o formação a não conseguir ditar uma intensidade e ritmo de jogo superior que foi aproveitada pela Espanha; alinhamentos consecutivamente perdidos e em áreas proibidas; ataque ao breakdown foi ineficiente apesar de terem conquistado duas penalidades neste sector quando souberam trabalhar; movimentações ofensivas conseguiam avançar na 1ª fase, mas na 2ª assumia contornos “caóticos” em termos de organização;

XV TITULAR COM SUPLENTES (1 A 15 COM MARCADORES)

Rafael Castro, Miguel Nunes, Pierre Fernandes (5), Simon Burke, Boaventura Almeida, Nuno Peixoto, Francisco Silva, José Madeira, Domingos Cabral, Vasco Correia, Diogo Salgado, João Vieira, José Santos, Vasco Câmara e Simão Bento

Suplentes: António Prim, Francisco Pedro, Miguel Seoane, Vasco C. Câmara, José Cavalleri, António Campos, Vasco Félix, Vasco Durão, Diogo Rodrigues, Lourenço Rangel e Joel Silva

Foto: Rugby Europe

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