Falta de Ideias compromete o pódio – O Breakdown do Europeu de sub-18 2018

Francisco IsaacMarço 31, 20186min0

Falta de Ideias compromete o pódio – O Breakdown do Europeu de sub-18 2018

Francisco IsaacMarço 31, 20186min0
Portugal não conseguiu uma reviravolta frente à Espanha e deixou escapar o pódio do Europeu de sub-18. A análise à derrota dos jovens Lobos

Foi uma despedida da Polónia infeliz e ingrata para os jogadores da selecção Nacional de sub-18 que deixaram fugir o último lugar do pódio para a Espanha num jogo muito cinzento do XV de Rui Carvoeira e Francisco Branco.

A falta de ideias explica uma parte do porquê terem sucumbido perante uma Roja mais compacta e sólida, que procurou marcar os pontos necessários para ficar confortável na frente do resultado.

O 12-00 na primeira-parte acabou por ser uma montanha “gigante” impossível de escalar para os jovens Lobos, que apesar de terem realizado várias fases de jogo, nunca chegaram à área de validação. O 17-00 final foi símbolo da falta de soluções no ataque de Portugal.

O último Breakdown do Europeu de sub-18 que encerrou neste sábado com as várias finais.

COMUNICAR, ORGANIZAR E ATACAR… TRÊS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS – 4 PONTOS

Portugal nos dois últimos jogos, os mais complicados a nível de intensidade e competitividade, não conseguiu conquistar um único ponto, ficando longe da linha de ensaio. Mas como se explica isto de um elenco que tem tão bons portadores de bola e finalizadores? O que faltou em termos de dinâmicas?

Mais uma vez, Portugal apresentou-se pouco profundo no ataque, revelando vários problemas de linha e saída para o ataque colectivo, com os individualismos técnicos a serem a única forma de ganhar alguns metros e espaço para atacar. Mas esta variável não chegou, já que foi rara a jogada de ataque portuguesa de digna de registo.

Era necessário outra comunicação entre os médios de criação de jogo, com Lucas-Cabral a não conseguirem montar as saídas para o ataque e a terem dificuldade em dizer o que queriam dos seus colegas das linhas atrasadas. Nem Tomás Cabral ou Raffaelle Storti (duas quebras-de-linha para cada um dos centros) conseguiram dar a excelência necessária, sendo que o três-de-trás português foi praticamente inexistente.

Numa competição dura e que ia obrigar aos portugueses em apresentar o seu melhor rugby com a bola na mão, tivemos nos últimos jogos o contrário. A chuva dificultou, a falta de “calo” nestes jogos também, o cansaço não ajudou, a alguma falta entrosamento também foi um problema, mas sobretudo faltou falar, organizar e atacar de forma estável e motivada, sem ter que entrar em “pânico” de fazer logo pontos na primeira ou segunda fase.

SEM ESPÍRITO DE COLECTIVO NÃO HÁ ESFORÇO INDIVIDUAL QUE VALHA – 3 PONTOS

Nas gerações anteriores houve algo que sobressaiu sempre nos momentos de maior dificuldade: o colectivo. Este grupo de sub-18 já tinha dado provas que também tinha essa capacidade como aconteceu no jogo frente à Rússia. Todavia, no jogo com a Espanha pedia-se mais união, mais trabalho em conjunto e uma liderança que agrupasse a equipa nos momentos de Do or Die.

Não queremos dizer que não existiu, pelo contrário, já que quando a Espanha acampou nos últimos 10 metros portugueses na primeira-parte, os jovens Lobos defenderam bastante bem, não abrindo brechas e forçando aos espanhóis a realizar erros de handling ou faltas no contacto.

Mas no ataque faltou sobretudo a equipa ser mais… equipa. Faltou impor um trabalho colectivo que começasse por garantir os rucks (perímetro de jogo que foi quase sempre muito atabalhoado e sem a segurança necessária que Pedro Lucas necessitava para tirar a bola e meter a equipa a jogar mais rápido), de apoio ao portador de bola (os jogadores da Roja metiam logo as mãos à bola e faltou alguém aparecer e dar o contacto suficiente para o arrancar dali), de opções de ataque (constantemente a desorganização e a falta de profundidade e elasticidade necessária), sendo isto o “básico” do que era necessário.

Faltou mais ordem, mais noção de que este era o último jogo de um passo geracional e que para o ano já jogam em escalões diferentes. A Espanha foi mais equipa? Em certos momentos sim, em outros não, mas a verdade é que aproveitou os momentos necessários para marcar os pontos suficientes para ganhar.

Portugal acordou demasiado tarde para um jogo que foi resolvido logo na primeira-parte.

PENALIDADES SÃO PARA APROVEITAR – 3 PONTOS

Portugal conquistou 10 penalidades frente à Espanha, não se podendo queixar desse facto. Todavia, quase sempre fez um mau uso destas, perdendo autênticas oportunidades para marcar ensaios. Em 4 ou 5 alinhamentos próprios em fases adiantadas do terreno, Portugal não só meteu mal a bola como os saltadores nunca conseguiram ter a elevação e velocidade necessária para fazer frente à Espanha.

Já para o final dos 70 minutos de jogo, os jovens Lobos invés de irem ao alinhamento optaram por pedir a formação-ordenada e, que para o adepto que estivesse a ver este jogo poder, poderia parecer uma má decisão tomada. Contudo, a selecção Nacional conseguiu garantir a FO, mas a bola saiu rápida de mais com a Espanha a conquistá-la sem que Lucas conseguisse fazer nada.

Com outras condições climatéricas, com outro mind-set e com outra organização, Portugal teria aproveitado metade destas oportunidades para marcar pontos. Infelizmente, hoje não foi esse o cenário.

Portugal esteve satisfatório na placagem (os dois primeiros ensaios da Espanha são várias falhas de placagem quer de avançados ou 3/4’s), melhorou no trabalho no chão, lutou pelas bolas no ar e conseguiu fazer frente à Espanha junto ao ruck. Mas faltou ser mais incisivo e eficaz no ataque.

NOTA FINAL – 10 PONTOS

ASPECTOS POSITIVOS: placagem colectiva com melhorias; mais trabalhadores no breakdown, com penalidades conquistadas; bons offloads na 2ª parte, assumindo o risco de jogar rápido e de procurar outras opções no ataque; pontapés melhor executados e com uma pressão mais dinâmica;

ASPECTOS NEGATIVOS: falta de ideia no ataque, com as linhas atrasadas a apresentarem-se pouco profundas e sem os argumentos necessários para furar; faltou voz de comando e que desse um sentido de colectivo à equipa nos momentos capitais do jogo; alinhamentos desperdiçados e mauls com alguma desorganização na hora de andar para a frente;

PORTUGAL: 1 – Pedro Braga, 2- João Fernandes, 3 – Sebastian Castanheira, 4 – António Andrade, 5 – José Madeira, 6 – Alexandre Fonseca, 7 – João Sousa, 8 – Francisco Silva, 9 – Pedro Lucas, 10 – Domingos Cabral, 11 – António Cunha, 12 – Tomás Cabral, 13 – Raffaele Storti, 14 – Francisco Nobre, 15 – Simão Bento.Suplentes: 16 – Max Falcão, 17 – João Nobre, 18 – Tiago Quitério, 19 – Martim Bello, 20 – Pedro Silva, 21 – José Ulrich, 22 – Joaquim António, 23 – Gonçalo Barbosa (5), 24 – Francisco Thomaz, 25 – Manuel Vacas, 26 – Francisco Salgado

EQUIPA TÉCNICA: Rui Carvoeira (seleccionador), Francisco Branco (co-seleccionador), Paulo Vital (fisioterapeuta), Pedro Rodrigues (Team Manager) e José Paixão (Video-analista)

Foto: Szymon Gruchalski

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