O fenômeno dos Sevens e a oportunidade de ouro que surge agora

Fair PlayMarço 11, 20204min0

O fenômeno dos Sevens e a oportunidade de ouro que surge agora

Fair PlayMarço 11, 20204min0
Os Sevens são um dos veículos mais importantes para o rugby mundial e continua em grande expansão. Mas é ou não uma variante válida para o futuro da modalidade?

Até à um tempo atrás, a modalidade de sevens era vista como um subproduto do rugby de XV, com fins recreativos para torneios entre temporadas. Quem joga rugby há alguns anos, certamente já ouviu as absurdas frases: “Sevens não é sério, inclusive as mulheres e as crianças jogam”; ou então, “parece atletismo com bola oval, não tem estratégia, basta pegar a bola e correr”; “por que desperdiçar tempo e dinheiro se ninguém assiste?”.

Lógico que este pensamento provinciano e preconceituoso não vinha das nações mais tradicionais do rugby, onde o mesmo é visto como uma modalidade autônoma e não uma simples variação do esporte; e tampouco dos países das ilhas do Pacífico, que inclusive transformaram este jogo de contato e evasão em arte, com seus offloads mágicos e sidesteps mais desconcertantes que o gingado de um sambista carioca.

Mas, para uma grande parcela do mundo da bola oval, a mudança só aconteceu após a inclusão da modalidade nos jogos olímpicos.

Vale lembrar que o rugby XV já fez parte das olimpíadas, mas, foi banido após a conturbada final de 1924, vencida pela seleção norte-americana e com invasão de campo da enfurecida torcida francesa. Um papelão que nada tem a ver com os valores do rugby e tampouco com o espírito dos jogos olímpicos.

Entretanto, em outubro de 2009, o Comitê Olímpico deu o sinal verde e, depois de quase um século de ausência, na Rio 2016, o rugby recebeu o perdão dos deuses do Olimpo e a modalidade escolhida foi o “patinho feio” Sevens, devido a sua dinâmica mais lúdica e a possibilidade de se realizar mais partidas em um intervalo menor de tempo.

A partir daí, tudo mudou: todas as federações passaram a investir mais dinheiro e esforço, até mesmo aquelas que não faziam muito sucesso no XV como Quénia, Canadá, Japão, Estados Unidos, entre outras; atletas que sempre sonharam jogar esta competição voltaram suas atenções e esforços, inclusive migrando de outros esportes, principalmente do atletismo; o fortalecimento de uma série mundial anual com as melhores seleções atraiu mais patrocinadores, países e fãs e o Sevens começou a ser ainda mais conhecido. Hoje em dia é praticado em mais países que o próprio XV.

O sucesso foi tão grande que houve a necessidade de se criar uma segunda divisão mundial, onde países emergentes pudessem ter a oportunidade de fazer mais jogos de qualidade com equipes mais fortes. Uma chance de ouro em ano olímpico.

Ou nem tanto. Apesar de tantos países olharem cada vez mais com carinho para esta modalidade, parece que este fenômeno passou incólume pelos dirigentes do rugby brasileiro, que além de nunca prestigiarem da forma que merece a sua seleção mais forte e conhecida mundialmente, as Yaras, decidiram na primeira grande oportunidade que os Tupis tiveram de disputar um torneio importante de Sevens, após o sucesso que houve nas olimpíadas do Brasil, enviar uma seleção sem seus principais jogadores e sem uma preparação adequada.

O que pudemos ver foi, apesar do esforço e talento de alguns jogadores, uma campanha pífia, com derrotas em todos os jogos das duas etapas, sendo a única seleção que conseguiu esta proeza, mesmo diante de países onde o rugby é menos praticado que o nosso. Porém, que levaram a sério a competição, percebendo a importância do voto de confiança dado pela toda poderosa World Rugby.

Mas, talvez tudo seja proposital, por que se preocupar com uma modalidade que é mais fácil de ser implementada e difundida quando nosso foco é fortalecer o XV (masculino) realizando um grande jogo por ano contra Barbarians e Maoris? Talvez seja porque Sevens ainda é uma modalidade menor, ‘jogado por mulheres e crianças, quase mais uma variação de atletismo, que não leva a lugar nenhum’ ou, quem sabe, seja porque ainda menor sejam os nossos dirigentes e suas mentalidades arcaicas, que insistem em não nos levar a lugar nenhum.


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