Entradas e mexidas no rugby nacional: positivo ou nem por isso?
José Lima mudou de “cores” e assinou pelo SL Benfica, Vasco Baptista passa para o CDUL, Abel da Cunha é agrónomo, etc. Foi um Verão minimamente “quente” no rugby nacional com várias transferências entre clubes, algumas a voltar a elevar aquela discussão a “lealdade” vs “ambição”, quando, na realidade, o debate poderá ser outro.
A tribalização do rugby nacional já foi extremamente pior, com os clubes a terem problemas a deixar sair jogador X ou Y para outro clube, não observando a vontade do atleta e a se deixar levar pela luta do “eu contra o mundo”. É complicado o clube A aceitar que um atleta formado na sua casa ou que contratou numa dada época e pagou um salário alto acabe por sair para clube B, mas isso é um factor comum e normal quando existe um documento contratual entre partes.
Por outro lado, não se pode condenar o SL Benfica pelas tentativas de profissionalização (seja semi ou total, dependendo dos atletas) como forma de chegar ao título nacional. Verdade que os encarnados não têm uma formação tão trabalhada e da mesma qualidade que GD Direito, CF “Os Belenenses”, AEIS Agronomia, CDUL, entre outros, mas este investimento massivo na modalidade pode ser positiva e aproveitada pelos outros clubes como demonstração que há interesse dos maiores emblemas desportivos nacionais numa modalidade que tem revelado grandes problemas de crescimento.
Sendo que neste momento existem os Lusitanos, não se ganha nada ao ter a larga maioria dos Lobos, ou de jogadores que podem vir a atingir esse nível, a actuar por dois ou três clubes. Ao ter um campeonato mais competitivo, intenso e que possui um coeficiente de surpresa até ao final da temporada, saem todos a ganhar, desde que haja um trabalho promocional bem executado e com capacidade para “vender” o seu produto. Aqui acresce um pormenor importante: a capacidade de dar voz ao que se passa no Campeonato Nacional. Com o Torneio de Abertura a ter começado no passado fim-de-semana, é extremamente preocupante não existir qualquer transmissão dos vários encontros, sendo um claro retrocesso em comparação com 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022 (altura em que começou a decair a quantidade e qualidade da transmissão dos encontros).
Quando o SL Benfica consegue assinar com um Lobo de 2023, garantindo ainda os concursos de duas promessas dos 7s, ou o CDUL foi capaz de ir buscar Vasco Baptista, mas depois não há forma de os capitalizar em termos de media/imagem, isto força a levantar a questão do porquê de existir um investimento forte na área dos reforços da equipa sénior masculina, mas sem qualquer apoio à exposição desses novos activos. Não basta querer só ganhar os troféus nacionais e dar por encerrado a época, pois isso a médio-prazo vai significar problemas orçamentais para os clubes, que não tendo ganho nada do que mais umas taças acabarão por ser forçados a cortar nas despesas quando o cinto apertar.
É neste ponto que está o debate, sendo necessário reavaliar o porquê de se investir tanto nos plantéis séniores para depois a informação ser parca e sem expressão. Não podemos nos ficar só com os posts dos clubes (que já se nota uma clara evolução em comparação com épocas anteriores), é necessário que se promova mais o rugby nacional masculino e feminino sénior, de forma a tentar garantir outro tipo de apoios.
É importante que se note que é preciso voltar a reinvestir na divisão Challenge, que nos últimos anos tem sido altamente mal tratada pela maioria dos clubes e instituições, com só uns quantos a terem noção da sua importância e como pode servir não só para elevar o nível da equipa principal, como ser uma fonte de atração para jogadores adultos. Mas este é um tema à parte e que merece uma discussão profunda sobre as vantagens, desvantagens de ter esta divisão separada das três principais séniores a funcionar a 100%.
Com o arranque de mais uma época no rugby português, é altura de começar a debelar certas vicissitudes que continuam a assolar mesmo depois de um Mundial de Rugby onde se obteve um enorme sucesso tanto na frente desportiva como de imagem. O facto de o campeonato nacional ser quase inexistente no estrangeiro em termos de informação, é um sinal preocupante e que um dia poderá custar caro.
Foto de destaque de Luís Cabelo Fotografia.