Conversa de cabine nº3 com Luís Pissarra – World Rugby Trophy 2018

Francisco IsaacSetembro 6, 20186min0

Conversa de cabine nº3 com Luís Pissarra – World Rugby Trophy 2018

Francisco IsaacSetembro 6, 20186min0
A vitória frente ao Uruguai lança Portugal no caminho do Bronze e na terceira conversa de cabine explicamos como vai ser com a Namíbia. Lê o que Luís Pissarra achou do jogo!

Depois de uma derrota desanimadora contra as Fiji, Portugal voltou a encontrar o caminho certo e desejado neste World Rugby Trophy 2018, com uma vitória extraordinária frente ao Uruguai. O 26-15 foi uma prova real que a selecção nacional de sub-20 tem não só uma qualidade acima da média como demonstra sinais claros de um crescimento contínuo nos últimos três/quatro anos.

Com o “bilhete” para o bronze confirmado, agora é necessário ganhar à Namíbia para atingir essa meta do 3º lugar. A fase-de-grupos preparou Portugal exactamente para encontros deste nível de confronto físico e com os namibianos não será diferente, pois apresenta um elenco fisicamente dotado, que traz uma agressividade muito latente no contacto para além de aplicarem e bem placagens duras e que inviabilizam na maior parte do tempo uma saída rápida de bola.

É nesse ponto um grupo de jogadores muito similar ao de Portugal, voltado para uma defesa exigente e sacrificial centrados na recuperação da oval nas fases-estáticas ou no contra-ruck. Veja-se que nos alinhamentos conseguem criar boas unidades de salto para pelo menos criar algum tipo de incómodo aos seus adversários, apresentando uma boa explosão e pressing quando a oval fica em modo “neutro”. Isto significa que Portugal não pode de forma alguma perder o controlo dos alinhamentos, a começar pelas próprias introduções.

Na formação-ordenada vai ser um choque intenso e propício a penalidades para ambos os lados, com a Namíbia a ter mais “peso” mas menos técnica de trabalho após o encaixe, apesar de conseguirem juntar os 8 em momentos cruciais. A sua terceira-linha é um problema na saída directa, revelando-se não só como atletas físicos mas inteligentes na manobra ou manipulação do adversário.

A agilidade, o trabalho na coordenação de corrida e o impacto físico também se aplicam aos 3/4’s da Namíbia que possuem todos os argumentos para fazerem a vida difícil a Portugal no contexto da placagem. São similares ao Uruguai neste ponto com o par de centros a terem protagonismo a partir do meio-campo, servindo de rampa de lançamento para a exploração da zona interior das linhas de defesa.

A somar a isto, o pontapé certeiro de Denzo Bruwer pode criar estragos a partir do meio-campo… é um dos melhores pontuadores neste Mundial “B” de sub-20 e dar oportunidades de chuto ao nº10 será um erro muito complicado de dar a volta.

Por isso, como Portugal pode ganhar? Apesar da tal placagem dura, a Namíbia tem uma leitura deficitária na defesa consentindo várias penalidades por fora-de-jogo, disputa no ruck ilegal ou de defesa ao largo mal aplicada. Uma equipa que apresente um apoio de qualidade ao portador da bola, com claras opções de reacção a um pontapé alto ou comprido, pode ganhar vários metros à Namíbia que reage mal quando recua no terreno.

Apresenta sinais de impaciência quando não tem a oval em seu poder, não consegue adaptar-se a uma boa defesa do maul (a Samoa optava por não disputar à primeira, forçando o desmontar do maul namibiano) e está sucessivamente em falta quando perde a lógica de jogo.

Luís Pissarra deu a sua opinião em relação ao próximo jogo, para além de uma revisão ao que se fez frente ao Uruguai.

CABINE Nº3 COM LUÍS PISSARRA

Luís, dizias que a defesa de Portugal era o segredo para desbloquear os jogos… contra o Uruguai foi das melhores exibições a defender de Portugal?

Repara, este grupo durante este ano já teve jogos em que defendeu muito bem, cumpriu todo os princípios e detalhes em que tivemos poucas falhas de placagem e erros na defesa e este jogo esteve ao nível dos melhores que tivemos este ano. Ainda não temos noção dos dados estatísticos da defesa, mas acredito que as nossas taxas de placagem foram bastante elevadas, impondo sempre uma placagem agressiva e dominante.

Os miúdos estiveram inexcedíveis nesse campo e não tenho dúvida que foi o grande pilar da nossa vitória. Depois do jogo com a Fiji, onde defendemos bem e de forma agressiva mas que infelizmente claudicámos quando tivemos aqueles erros a nível da defesa individual, tínhamos de dar o passo em frente depois da intensidade física que foi esse jogo. Eles hoje pegaram nesse esforço e nessa aprendizagem para dar este salto qualitativo.

Com algumas baixas críticas, a equipa esteve ainda mais junta, concordas? O banco de suplentes deu-te exactamente o que pretendias na segunda-parte?

Infelizmente para este jogo tivemos algumas baixas importantes, o Jerónimo Portela por exemplo que tem estado bem, tanto a atacar como a defender para além do pontapé onde tem sido também importante, demonstrando um comportamento muito adulto. O Manuel Cardoso Pinto, outra baixa importante, que já é um lobo… e até o José Roque já terminou o processo da lesão mas só podia jogar 20 minutos.

Mas se a equipa esteve mais junta? Não, porque a equipa sempre o esteve, não são só os 15 que jogam são os 26 que vieram à Roménia e hoje a equipa que apresentámos como o banco foram completamente diferentes do que foi na primeira jornada. É uma competição durissima, que estamos preparado para ela até pelo conhecimento e aprendizagem dos últimos anos.

Temos de ser os 26, de fazer uso das nossas “armas”. Os jogadores que entraram no banco não tenho dúvidas que entraram bastante bem, metemos logo os dois pilares ao intervalo, mantendo a solidez e a intensidade que nunca baixámos. O caso do Manuel Marta que entrou logo para marcar ensaio a dar apoio ao irmão, ou o Francisco Costa Campos que foi importante na defesa como também o foi o Manuel Pinto. Não tenho dúvida que estivemos muito fortes como grupo e não só como quinze.

Namíbia é uma selecção similar a alguma das que defrontámos até aqui? Em que aspectos queres melhorar nesse jogo?

A Namíbia se é similar ao que jogámos até aqui? Não, claramente é uma equipa muito forte, na primeira jornada até foi para mim a equipa que melhor rugby jogou, com uma agressividade total, jogadores com poder físico alto, é um desafio gigante para nós. Em relação a melhorias, acredito que a defesa vai voltar a estar no topo que esteve até agora. Agora quero analisar ao pormenor os três jogos da Namíbia para perceber como temos de jogar e tomar decisões ponderadas até no que podemos alterar.

O jogo do 3/4º lugar disputa-se Domingo às 15h00. O jogo pode ser visionado no site da World Rugby (https://www.worldrugby.org/worldrugbytv/video) e no facebook da mesma organização.

Foto: FFR

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