Conversa de cabine nº2 com Luís Pissarra – World Rugby Trophy 2018

Francisco IsaacSetembro 3, 20187min0

Conversa de cabine nº2 com Luís Pissarra – World Rugby Trophy 2018

Francisco IsaacSetembro 3, 20187min0
Continuamos no acompanhamento à selecção sub-20 e hoje lança a conversa de cabine nº2 com Luís Pissarra. O World Rugby Trophy 2018 aos olhos do seleccionador nacional

Fim do sonho português de voltar à final do World Rugby Trophy, com uma derrota injusta frente às Ilhas Fiji por 32-22. Os jovens lobos sub-20 estiveram na frente do resultado durante sensivelmente 30 minutos, mas o factor imprevisível fijiano entrou ao “serviço” e do nada três ensaios apareceram nas contas da formação da ilhas do Pacífico.

Uma defesa portuguesa que “adormeceu” em três momentos cruciais permitiu assim a reviravolta e um ponto final no objectivo máximo. Segue-se agora a luta pelo 3º lugar que está dependente de uma vitória frente ao Uruguai. E como jogam estes teritos? Perderam por 34-55 no primeiro jogo do grupo, sucumbindo perante o melhor trabalho no contacto das Fiji, para além daquela intensidade de jogo que estes apresentaram durante 80 minutos.

O Uruguai foi dominador nas fases estáticas, operando autênticas limpezas na formação-ordenada (conquistaram seis penalidades neste sector, em que o seu 5 da frente marchava como uma única peça), arrebatando metros no maul (muito similar a Portugal, que também o conseguiu), saindo a jogar bem e de forma paciente lançado os seus pontas ou asas como opção “escondida” no jogo interior.

Pecaram e muito no alinhamento, em que perdiam totalmente o controlo da oval numa má comunicação entre talonador e o pod de salto, tendo um tempo de reacção muito “fraco”, algo que as Fiji exploraram com exactidão. Para além disso, a defesa uruguaia entrou num autêntico carrossel de qualidade, ora faziam excelentes placagens pondo a oval em modo “congelada” (ou seja, as Fiji não tinham capacidade de jogar rápido) ora falhavam constantemente placagens individuais abrindo brechas por toda a linha de vantagem.

Como sempre, o formação é o elo mais importante do Uruguai, em que domina tanto o trabalho dos avançados (o normal, portanto) como organiza as sequências de jogo à mão, exigindo intensidade e velocidade. A avançada é bastante boa mas que peca muito na leitura defensiva, realizando várias faltas no jogo no chão, indo mal ao breakdown, isto é, não chegam a tempo e não ouvem a ordem de “larga” do juiz do jogo.

São também uma selecção cínica, que pode estar 40 minutos a defender para de repente partir para um lance de extremo virtuosismo individual que termina quase sempre como ensaio.

A única solução para a selecção de sub-20 das Quinas passa por placar bastante bem durante 80 minutos (não podem existir erros de defesa entre os 40 e os 22 metros, pois o Uruguai aproveita e bem estas falhas neste espaço do terreno), dominar no factor avançados (a formação-ordenada tem de ser francamente um nível acima, para evitar a alta rodagem do cinco da frente dos teritos), aproveitar o jogo ao pé para criar outro tipo de pressão (os adversários do último jogo da fase-de-grupos sentem grandes dificuldades na captação da oval no ar) e ser inteligente no jogo de contacto físico.

Luís Pissarra realizou uma pequena antevisão com o Fair Play na típica conversa de cabine. Lê tudo já a seguir!

CABINE Nº2 COM LUÍS PISSARRA

Luís, 60 minutos em que Portugal conseguiu controlar as Fiji para depois entregar dois ensaios em erros individuais. Aonde tivemos pior a teu ver? E o que se podia ter feito mais?

Claramente não tivemos mal, estivemos bastante bem. Jogámos contra uma equipa do Top-10 mundial, uma equipa muito agressiva e não é pelo facto de no ano passado de termos ganho às Fiji que hoje em dia se pode banalizar um jogo com este. É sempre um daqueles encontros muito difíceis, portanto nunca se podia considerar que era uma vitória garantida.

Nós tivemos os erros individuais que passaram por faltas de placagem, que depois de partirem a linha de vantagem começa o problema, o nosso segredo para o jogo que fizemos passou por uma grande agressividade defensiva e de grande pressão. Nós sabíamos que eles iam atacar o nosso canal 1, com pontas a entrarem muito embalados, e como todos viram dois dos ensaios passaram por aí. Os erros vieram da parte da defesa… foi onde tivemos pior, não podiam acontecer estas falhas. Tivemos falta de paciência em gerir as bolas atacantes que tivemos dentro dos 22, que terminaram todas por resultar em pontapés quando devíamos ter tido calma para gerir o jogo atacante de forma a sermos mais incisivos. 

O que podíamos ter feito mais? Não falhar nesse aspecto defensivo do canal 1 e claramente ter mais cabeça quando tínhamos a posse de bola no extremo ataque. Mas é só a fazer jogos deste nível e de estarmos nestas competições que podemos crescer. Não vamos evoluir só a jogar nos campeonatos nacionais, é nestas competições e ambientes de jogos internacionais que podemos realmente evoluir. Este jogo contra as Fiji foi sem dúvida o mais intenso e difícil para os nossos jovens jogadores na sua vida rugbistica. 

Os avançados portugueses dominaram no factor da formação-ordenada, alinhamentos e maul… mas faltou traduzir-se em pontos. O que era necessário para tal?

Sim, dominámos a formação-ordenada e com este grupo começa a ser uma tradição, começamos a colocar problemas neste aspecto a qualquer um dos nossos adversários. Com o Canadá tivemos algumas dificuldades nas ligações e posições dos pilares, mas também pela má arbitragem que fomos sujeitos, que também neste jogo com as Fiji foi um aspecto dominante que em nada nos ajudou, ou pelo menos, não foi totalmente isenta.

No alinhamento evoluímos muito em relação ao que aconteceu com o Canadá, mas efectivamente no maul fizemos duas penalidades e não conseguimos traduzir em pontos. A verdade é que estamos a falar dos avançados portugueses e fijianos, e o combate entre os dois era desleal no sentido do aspecto de tamanho e músculo que os nossos adversários tinham… mas boas ligações, um trabalho de sincronia e de comunicação bastante boa deram-nos essa superioridade.

O jogo com o Uruguai vai ser no mesmo grau de dificuldade?

Infelizmente, não vamos conseguir atingir o objectivo inicial que tínhamos traçado, de sermos campeões, igual ao do ano passado. Contudo, agora temos o objectivo traçado de ficar nos quatro primeiros, algo que também estava dentro do que falámos com a equipa. O Uruguai é igual às Fiji, não é por termos ganho o ano passado que devemos/podemos banalizar, não está nada adquirido que vamos ganhar.

Voltando a comparar as nossas dimensões, eles vão estar no Mundial de rugby sénior e estão bem mais acima de nós no ranking, é uma federação muito superior à nossa. Vai ser um jogo muito difícil, eles têm um jogo muito semelhante ao nosso, baseia-se muito nos avançados, no trabalho do maul e o principal elemento de superação é ultrapassar a derrota com as Fiji que foi, curiosamente, a primeira derrota deste grupo. Agora só temos de mostrar o nosso carácter e o que realmente nós valemos ganhando os próximos dois jogos.

Portugal fecha a fase-de-grupos na 4ª feira às 15h00 frente ao Uruguai, com estes ainda terem uma pequena oportunidade de passarem à final. O jogo pode ser visionado no site da World Rugby (https://www.worldrugby.org/worldrugbytv/video) e no facebook da mesma organização.

Foto: Romania Rugby Union

Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS