Como jogaram os rivais dos “Lobos” no Mundial 2023 – Semana 1
Primeiro fim-de-semana de Mundial de Rugby 2023 finalizado, e os quatro adversários de Portugal entraram em campo mostrando forças e fragilidades que analisamos neste artigo. Como podem os “Lobos” explorar as falhas de Austrália, País de Gales, Ilhas Fiji e Geórgia?
GEÓRGIA
Pontos Positivos: reação na 2ª parte devolveu equilíbrio e confiança à equipa; fisicalidade de alto nível; alinhamento defensivo forçou erros na Austrália; bom jogo à mão e com saídas de alto perigo;
Pontos Negativos: 1ª parte abismal para o nível que já apresentaram; ataque claudicou no último passe; formação-ordenada só melhorou com a entrada dos suplentes; alinhamentos próprios sofreram problemas; jogo ao pé foi errático e pouco lógico;
Jogadores em melhor nível: Beka Gorgadze, Luka Ivanishvili, Beka Gigashvili, Gela Aprasidze, Merab Sharikadze;
Lesões: Nenhuma a registar;
A Geórgia bem se pode queixar do resultado final, já que durante largos períodos da segunda-parte foi a melhor equipa em campo e que desperdiçou inclusivé quatro oportunidades críticas para ensaio, duas dela já sem oposição à frente, terminando sem qualquer ponto. A Lei de Murphy esteve bem presente para o lado dos Lelos, que apressaram certas combinações, forçando erros que simplesmente deram oxigénio a uma Austrália que só esteve bem viva na primeira metade do encontro.
Vamos ao que interessa ao leitor português… onde podem os “Lobos” explorar esta Geórgia? Velocidade, artimanha técnica, intensidade com a bola nas mãos e imprevisibilidade. Não há dúvidas que a fisicalidade da Geórgia está um nível (teoricamente) acima da selecção nacional portuguesa, mas no jogo à mão, o cenário muda de figura. A formação-ordenada georgiana está longe do nível apresentado em 2022, e o próprio alinhamento parece estar a sucumbir perante erros pouco comuns, dois pontos onde Portugal tem de descobrir forma de perpetuar esta situação.
Contudo, qualquer equipa que permita aos Lelos começar melhor o encontro e ganhar balanço e foco, dificilmente conseguirá os vergar. Um último pormenor: o jogo ao pé georgiano é um ponto largamente negativo, e se Portugal explorar o ponta Mirian Modebadze, então algo de interessante pode fluir desse “sector”.
AUSTRÁLIA
Pontos Positivos: formação-ordenada estável (mas não impressionante); desmantelamento do maul bem oleado; ataque cínico e eficaz; jogo ao pé de qualidade; efusividade e intensidade alta;
Pontos Negativos: a condição física de alguns dos elementos mais experientes não é a melhor; erros de comunicação surgiram em força na 2ª parte; alinhamento pouco estável; ataque algo previsível;
Jogadores em melhor nível: Ben Donaldson, Mark Nawaqanitawase, Nic White, Fraser McReight, Will Skelton, Rory Arnold e Angus Bell;
Lesões: Tate McDermott saiu tocado (prevenção) e Samu Kerevi (prevenção, possível fadiga muscular);
Eddie Jones ainda não tinha conhecido o sabor da vitória desde que assumiu os Wallabies, e esta vitória ante a Geórgia é o tónico perfeito para começar o Mundial de Rugby 2023, com uma primeira-parte de alta qualidade e uma segunda de alguns furos abaixo, mas ainda assim eficaz para sair de Paris com os 5 pontos.
Os Wallabies souberam como anular o maior impacto físico da Geórgia, impondo uma formação-ordenada agressiva e com vontade de não só ganhar mas de dominar, e forçaram sucessivos erros de abordagem ofensiva e defensiva por parte dos Lelos, reciclando-os bem e transformando em pontos preciosos. A vantagem de 21-03 ao intervalo foi mais que justa e acabou por ser suficiente para garantir que a reação da Geórgia na segunda-parte não desse em nada.
Outro ponto crucial foi o jogo ao pé… a Austrália soube incapacitar Davit Niniashvili e Luka Matkava, forçando a mão do defesa e abertura dos Lelos, que acabaram por ser engolidos pelos seus homónimos australianos. Não foi uma prestação exemplar, ultra-dominante e de categoria da Austrália, longe disso. Porém, a capacidade em manter o controlo emocional mesmo quando começaram a conceder penalidades e a recuar no terreno, respirando fundo, demonstrou que são uma equipa com algum peso e capaz de lutar por um lugar na fase-a-eliminar.
PAÍS DE GALES
Pontos Positivos: prestação defensiva acima da média; jogo ao pé bem coordenado; condição física de excelente nível; ataque eficaz; fases-estáticas dominantes com o XV inicial;
Pontos Negativos: excessiva indisciplina; contínuos erros na posse de bola; pouca consistência na ligação entre 9-10; controlo das emoções não é o melhor;
Jogadores em melhor nível: Dan Biggar, Will Rowlands, Liam Williams, George North, Ryan Elias e Jac Morgan;
Lesões: Nada a registar
O ritmo cardíaco da equipa e adeptos do País de Gales devia estar a ultrapassar o limite do saudável, depois de um fim de jogo completamente caótico e que podia até terminado com uma derrota perante as Fiji. Mas, o cinismo e a eficácia no aproveitamento de oportunidades foram duas das razões pela qual a selecção de Warren Gatland saiu de Bordéus com os 5 pontos, com outro factor decisivo a ter sido a capacidade defensiva dos jogadores galeses, que acabaram por efectuar 250 placagens (falharam apenas 34), fechando bem a área de ensaio aos seus rivais da 1ª jornada deste Mundial de Rugby 2023.
Foi talvez a melhor prestação do País de Gales em 2023, mas não foi uma que tenha sido totalmente satisfatória, já que quando sob total pressão física, começaram a ceder o espaço suficiente para que as Fiji aproveitassem para explorar o espaço. Sendo o próximo adversário de Portugal, vamos nos concentrar em como os “Lobos” podem obter algum tipo de vantagem e o que não devem fazer:
– Fases-estáticas não podem claudicar em nenhum ponto do terreno, especialmente a partir do meio-campo, porque Dan Biggar ou outro abertura galês vai apontar aos postes imediatamente;
– Não vale a pena montar mauls que não criem algum tipo de distanciamento entre o portador da bola e o seu eixo, pois Adam Beard, Will Rowlands, Jac Morgan, e a maioria dos 2ªs ou 3ªs galeses treinaram bons mecanismos para desmontá-los;
– Velocidade e eficácia no passe são elementos importantes, não vale a pena arriscar em offloads porque a linha-de-defesa galesa está sempre à espera do melhor momento para interceptar a oval;
– Forçar piques em certos momentos dentro dos 22 metros podem forçar erros de disciplina (10 consentidos contra as Fiji), sendo necessário jogar ao largo no seguimento, pois os galeses são algo alérgicos a movimentos imprevisíveis;
– Jogo aéreo tem de ser isento de erros, porque o abertura galês irá atirar o máximo de “bombas” para provocar erros no três-de-trás português;
– Na recepção ao jogo ao pé por parte do três-de-trás, se tiverem mais opções de apoio, é sair a jogar invés de chutar;
– E forçar a indisciplina galesa;
ILHAS FIJI
Pontos Positivos: velocidade de passe e combinações ofensivas; fisicalidade de alto impacto e agressividade na construção de fases; bom jogo ao pé; formações-estáticas ganharam poder na 2ª parte; capacidade mental de regressar ao jogo quando tudo parecia perdido;
Pontos Negativos: erros desnecessários de disciplina, que surgiram mais por pressa de recuperar a bola do que mérito do País de Gales; queda anímica no reatamento 2ª parte; a 1ª placagem falhou entre o meio-campo e os 22 metros; capacidade de decisão não foi a melhor;
Jogadores em melhor nível: waisea nayacalevu, Semi Radradra, Frank Lomani, Viliame Mata, Luke Tagi e Isoa Nasilasila
Lesões: Frank Lomani (precaução);
Foi um fim de jogo caótico como dissemos já na secção do País de Gales e duplamente amargo, já que as Ilhas Fiji ficaram a poucos metros de chegar a um ensaio que lhes poderia ter dado uma vitória estrondosa e carimbado, praticamente, o bilhete para os quartos-de-final do Mundial de Rugby 2023. O que faltou? Marcar durante boa parte da 2ª parte.
A selecção fijiana masculina perdeu-se em más decisões de saída de jogo, com vários jogadores a tentarem a sua sorte (há um ensaio que devia ter sido marcado porque a bola foi colocada legalmente dentro da área de validação) e a faltar só um pouco mais de clarividência nos momentos X.
Mas, quem viu o encontro, percebeu que estas Fiji não só uma equipa só de rasgo técnico e de genialidade física, pois as fases-estáticas são agora um aspecto forte com capacidade de empurrar o País de Gales para trás. Já a fisicalidade foi dominante e aquilo que ajudou a termos uma recuperação final memorável, que podia ter mesmo lhes dado a vitória, caso tivessem feito pontos no momento certo.
A pressa em querer jogar pode ter sido inimiga em determinados momentos, e isso poderá ser bem aproveitado por Portugal quando as duas equipas se encontrarem em Toulouse em Outubro!